É assim que vivo os meus. Em mim. Joana viveu em meu ventre por 39 semanas e agora vive em mim, nos meus pensamentos, no meu coração, no meu presente e no meu futuro. Simplesmente em cada pedaço do meu ser. Joaquim, igual a mana, morou na minha barriga por 39 semanas e divide com ela, desde que nasceu, todos os meus espaços. O meu amor, meu marido, que desde que chegou multiplicou minha presença de mãe e mulher por três, assim como minha rotina e meus sonhos de futuro, vive desde então em mim também. No meu coração, nas minhas orações, nas minhas expectativas quanto a vida daqui para frente.

Essa sou eu. Mulher que se tornou uma grande caçamba de gente que ama. Os acumulo sem aperta-los, de tanto espaço interno que tenho, de tanto amor que me proponho a dar a eles. E feliz de mim que pude contar até agora com a sorte de tê-los comigo pelo bem querer. Por prazer. Pois não os prendo ou escravizo. Não os mantenho sob ameaça ou por submissão. Apenas ofereci a eles o que tenho para dar. Ofereci casa. Com abraço quente, de coração com coração. Com amor honesto. Simplesmente porque isso é tudo de mais importante que busquei na vida. Que quis dela. Gente para amar e compartilhar.

Esse se tornou o meu mundo após receber o meu grande amor. Eu e eles três. Uma menina, um menino e o homem que me faz feliz. Que abraçou a minha história e a fez dele. Sem exigências. Sem impor a principal delas. A que foi pergunta de todos que o viram chegar.

Ele se colocou ao meu lado sem ter tido seus próprios filhos. Sem ser pai. E se propôs, no dia a dia, a sê-lo com Joana e Joaquim, nos momentos em que eram nossos. E exerceu este papel primorosamente. O pai do coração dos meus filhos jamais me pediu um filho dele. Porque mais do que um filho, ele queria estar comigo. E eu já tinha dois. E ao compreender seus desejos e a forma como definia suas prioridades, o admirei mais. E mais. Porque um filho era realmente importante para ele, mas eu era mais.

Nossa nova família se desenhou bonita e diferente. A presença do pai afetivo em casa gerou aos poucos o desejo entre eles de se conhecer mais, de se misturar, e a coisa toda culminou em um sentimento farto de amor e respeito. Talvez por ser um ambiente isento de obrigações, de direitos. Talvez por ser um ambiente de conquista. E aí, para este tipo de amor se manter, foi preciso regar diariamente. Respeitar, amar, brigar e se desculpar. Tudo com o objetivo de fazê-lo superar cada obstáculo, o permitindo crescer e prosperar.

Nesse ponto algo bonito aconteceu. Meus filhos entenderam que aquele homem, por tudo que fez, merecia um filho. Merecia vê-lo nascer, diferente deles, que conheceu prontos.

– Ele é um pai emprestado tão bom, mas tão bom, que merece ser pai de três!

E assim profetizou meu Joaquim. Com a doçura de quem reconhecia os movimentos delicados do padrasto em direção a eles desde o começo. Delicados, mas firmes, certo do que estava fazendo. E demonstrou o meu pequeno, na sua consideração, o quanto se sentia filho também daquele amigão que o padrasto havia se tornado. Aquele que agora, por merecimento, deveria ter três!

Daquele momento em diante os dois pequenos escondiam pílulas anticoncepcionais na minha bolsa, desligavam alarmes para eu não toma-las e falavam incessantemente no desejo de um irmão, de um quinto elemento para aquela família diferente.

Em mim, que achei ser completa, passou a faltar um elemento. Como casal tínhamos no nosso dia a dia muitos frutos do nosso amor, a começar por aquela família. Mas o espaço de um novo serzinho, que tornasse a nossa mistura toda mais equilibrada, mas homogênea, foi se abrindo a cada dia. Foi se criando. Foi se desenhando. Nos levou intuitivamente a um carro maior, a uma casa maior. Nos levou aos poucos a priorizar mais o nosso lar, a nossa família, e a ela dedicar mais do nosso tempo. Foi nos encaminhando na direção de uma pequena luzinha, que já queria estar ali.

E foi assim, naturalmente, que 15 dias após a interrupção da minha pílula, descobri que já morava em mim mais um amor. Mais um anjinho. Daqueles que fazem espaço no meu coração. Que com a Joana e o Joaquim, os tornaria três. Unidos pelos laços de amor que aquela família se permitiu ter e sentir. Pelo ventre de uma mãe apaixonada, pela terceira vez. Por um pai que soube dar amor a duas crianças como se fossem suas, e com eles construiu mais um lugar.

E agora somos cinco. Grandes amores que vivem em mim. Que carrego na integralidade do meu ser. Com muito enjoo ainda, por todas as mudanças que já se iniciaram no meu corpo, mas com muito prazer. Porque quando falo em Novas Famílias, em Cuidado Compartilhado, falo no sentido mais amplo destas expressões. Falo do novo que nasce quando uma nova família se inicia, do jeito que for. Do que permitimos florescer daquela junção que se inicia. Falo do que é compartilhado, não só com o pai dos meus filhos, mas com o novo amor que chega. Falo da capacidade de construir de novo. De viver o presente e o futuro. De não morar no passado. E dar passos em frente, receber e cultivar afetos e construir novos sonhos. Tudo o que te permite de fato compartilhar. Amparo, rede, amor, perdão, aceitação. Sentimentos além daquela pequena parte da tua história pregressa. Do teu processo de divórcio. Do que ficou para trás.

E aí, realmente a nova família nasce, o compartilhamento acontece e o amor constrói novas histórias de vida, de verdade. E aí está a nossa chance aproveitada. A nossa família, agora de cinco.

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