No ano de 2017 vivi o meu segundo Natal sem a presença física dos meus filhos. Desde o meu processo de divórcio, esta é uma realidade nas nossas vidas. Na minha e na do pai deles. Na vida das nossas famílias e nas festas de final de ano. Quando vez os temos, vez convivemos com a ausência deles.

Nunca falei do Natal nas minhas crônicas, pois até aqui, me permiti sublimar esta questão, esta experiência estomacal. Me deixei utilizar de todo o meu olhar otimista sobre as coisas, sobre as mudanças com a reestruturação da nossa família, para encarar o Natal sem os filhos. Me protegi. Fiz o que pude. Mas aqui resolvi compartilhar. Após o Natal de 2017. Quando pela segunda vez, vivi a saudade das minhas crianças. Minhas crias. Do mundo também, mas que são a minha família nesta vida, junto ao meu marido, pai afetivo deles.

Falei já sobre família em outras crônicas e a importância dela para mim.  Então seria hipócrita da minha parte dizer que é natural ficar longe da sua na noite de Natal. Dá para viver com isso? Dá. Mas dói a saudade. Porque nenhum ano ao lado de um filho é igual, então estar sem eles no Natal é sempre diferente uma vez da outra. E eu, inocente, achei que estava vacinada contra esse vazio, após já ter vivido um… Pobre de mim! Quando pude pensar que me acostumaria a não ter os meus filhos em um evento tão profundo, tão magnético, tão emotivo e tão familiar quanto o Natal!

Pois bem, pela segunda vez, eu e o meu marido demos conta do recado juntando o tanto de amor que temos um pelo outro e pelos filhos da nossa família. Pela segunda vez, vivemos um Natal tranquilo, nostálgico pela falta deles, e feliz, este ano com a nossa Antonella no ventre. Fomos à missa de Natal e tivemos uma noite em família. Incompleta ali, na nossa ceia, mas vibrando em pensamento e nas nossas trocas de olhares. Porque ele já os ama como um pai afetivo ama seus filhos, e após estes anos de convivência, sentiu a dor da falta também. E dividiu comigo desejos de estarmos sempre bem, mesmo que nem sempre juntos. Ligados, mesmo que pela saudade.

E eu chorei. Chorei de saudade em 2017. Aquele choro que engoli em 2015. Depois de quase três anos convivendo com presenças e ausências. Lidando com o compartilhamento. Melhorando a minha compreensão a cada dia. Mas reconhecendo que nem sempre é fácil. Não no Natal.

Joana e Joaquim estavam vivendo suas pequenas férias nas festas deste ano. E na semana de Natal pertenciam à agenda do pai. Um ano para cada um. E lá, se divertiram como crianças fazem. Desfocaram dos significados da data festiva, da falta da mãe, e se mantiveram inteiros naquela família.  Se distraíram, viveram o Natal, foram crianças. E passada a euforia da festa e da presença dos avós, tios e primos por parte de pai, ansiaram voltar para casa. Na porta deles, como na minha, bateu a saudade. Aquela da carne. E para os braços do nosso lar voltaram, cheios de amor para dar e para receber dos pais daqui, com seus corações apertados. Este é o ano que temos duas noites de Natal. A que passamos sem eles, dia 25/12, com o resto do mundo, e a que fazemos para recebe-los em casa, de volta.

Só que ano que o Natal é longe, o Reveillon é junto. E o nosso foi enroscado, um no outro. Passamos dias completamente misturados. Dividimos cama, sofá, pratos de frutas, fogos de artifício. As crianças, dentro da piscina, dividiram, após sete meses, colo com a Antonella. Estiveram nos meus braços, minhas duas crianças. Estiveram todo afeto com seu pai emprestado. Estiveram entregues agora, no nosso calendário. Neste, da guarda compartilhada. Que é lindo de ver acontecer. Mas que é duro e exigente. Que eleva a alma mas tantas vezes dói na carne humana, essa que às vezes descola das boas intenções e do altruísmo que exigem as novas famílias, e se mostra só corpo e emoção. Por só querer seus amores perto. Só colo, dado e recebido.

E eu, que neste momento tenho um cordão umbilical alimentando uma nova vida em mim, me dei conta que ele se expandiu no ato de manter ligado a todos os que eu amo. Que momentos como estes se repetirão de formas diferentes na vida, mesmo que eu me prepare. Mesmo que anos passem. Mesmo que eles cresçam. Que existem dias mais fáceis que outros, e que isso não se trata de recair na dor do que em algum momento foi superado ou mesmo compreendido. E sim, que somos orgânicos, assim como o nosso amor de mãe, de pai. Assim como somos gente, e eu, mulher. Que muda, amadurece, cresce e sente falta, sempre. Que cria seres para o mundo, mas quer acompanha-los do camarote. E que às vezes vive com menos, e em outras precisa de mais.

Falo aqui da guarda compartilhada. Falo de compartilhar amor, de compartilhar crianças, de compartilhar parte de você, da sua carne. Que muitas vezes demanda “desencarnar”. Do corpo da gente mesmo, quando dói a saudade. Do corpo dos filhos, quando queremos manter o espírito deles por perto mesmo que o corpo esteja longe. E da parte linda do processo de compartilhamento que exige tanto da gente e que nos ensina tanto como indivíduos, aprendemos que este é um ato contínuo. Que não vem do aprendizado de uma situação só, da felicidade que passamos a achar em si mesmos e em outras coisas, ou de um ou dois natais. Ele nasce da nossa capacidade de valorarmos o que temos, em cada momento, cada presença, e da construção pontual da gente mesmo, como pessoa, em cada falta, em cada ausência, a fim de crescer. Sem desfalecer.

Ah, calendário do compartilhamento…. Foi-se mais um Natal sem eles…

A boa notícia é que entramos em 2018. E esse ano, o Natal é nosso.

Comentários

  • Felipe 17 de maio de 2018

    Parabéns Juliana, uma delícia ler você.

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