Vou falar um pouco aqui sobre as férias em família quando você é uma nova família…. Esse foi o terceiro ano do calendário do compartilhamento nas férias escolares dos meus filhos. É assim desde o meu divórcio. No contexto no qual eu e o pai deles tocamos o desafio de criarmos nossos filhos em ambientes separados, ficou estabelecida a guarda compartilhada, a minha casa como base referencial para eles e o compartilhamento do tempo deles nas férias.

Ah as férias… teríamos que dividir este tempo entre agendas de trabalho, viagens com eles e colônias de férias, que vem sendo uma grande solução para a maioria das famílias.

Férias escolares por si só já trazem um tipo de stress aos pais. Enquanto, na maior parte das vezes, os filhos adoram, nós pais vivemos a preocupação diária de organizar atividades que cumpram a grande lacuna que as escolas deixam na rotina das crianças. O que mexe também com o emocional dos pequenos, que sentem falta dos amigos, que deixam de gastar energia, que perdem suas rotinas, inclusive a de sono.  E que no ambiente familiar, mexe nas agendas dos pais que trabalham e que não sabem o que fazer com os pequenos e seu tempo “ocioso”.

Agora imaginem esta realidade no contexto das novas famílias. Quem tem uma, sabe. A falta de rotina é mais difícil quando se tem duas orientações, dois lares. Duas programações. Quando se tem duas propostas diferentes de se curtir o tempo junto. Quando se está em momentos diferentes, de vida e financeiro.

Este ano meu momento foi peculiar. Como costumo falar, novas famílias sofrem com as variáveis do tempo e dos acontecimentos, como qualquer família convencional, mas com mais intensidade. Explico porquê. Estava gestando neste momento a Antonella, nossa caçula e filha do meu casamento com o pai afetivo dos meus filhos. A bebê que conviverá com pai e mãe na nossa casa. Que terá todos os finais de semana e quartas-feiras comigo. Que não será filha do pai deles. E que tira a posição de caçula do meu Joaquim. Neste ano, por conta da gravidez, fizemos também um único período de férias, nosso com eles. Sem férias do casal, já que a nossa menina estava para chegar. Então a intensidade do nosso tempo juntos foi maior, de mais expectativa, de mais curtição um com o outro. Foi como uma despedida de nós quatro. Da nossa constelação atual. Tudo no mesmo hotel que frequentamos nas férias de verão há 3 anos, com eles.

E preciso dizer que apesar de diferente, nosso tempo foi maravilhoso…. Éramos apenas os quatro, e a presença ainda calada da nossa nova integrante. Lá fomos eu e o meu marido curtindo a espera. Fomos eu e as crianças curtindo a água e a possibilidade de dentro dela eu tê-los nos braços, no colinho. Eu e os meus bebês. Foram Joana e Joaquim e seu pai do coração, com sua relação gostosa, intensa, natural…. Fomos nós quatro na semana que era nossa.

E nossas crianças foram diferentes de antes. Joana cresceu. Assumiu um estilo próprio, fez amigas, conquistou algumas autonomias. Andava com sua bolsinha para cima e para baixo com o cartão do quarto, que lhe foi dado em confiança. E este, só se fortaleceu dentro dela. A fez grande, madura. A fez assumir o posto de filha mais velha por sua conta e risco. E lá, cuidou do irmão em todos os momentos, deixando a sua natureza de mulher acontecer. Joaquim, se agarrou a posição de bebê, enquanto ela era dele. Curtiu colinho, chorou de medo a noite, pulou na nossa cama, se aconchegou no abraço protetor da irmã. Não havia nele sofrimento, mas nostalgia. Curtiu aquele nosso tempo, aquele espaço que era dele.

Só que compartilhamos filhos. E se essas férias eram nossas, na chegada eles iriam para os seus momentos com o pai. Percebo que sentem falta dele após alguns dias, e isso é bom. Afinal, é resultado da relação que construíram lá e que é para a vida toda. Só que o meu pequeno este ano sentiu diferente. Pediu equilíbrio entre estes tempos na busca pelo justo. E me surpreendeu com seu novo momento, suas novas interpretações quanto ao ato de compartilhar do pai e da mãe. Ele quis que aquela mesma situação se repetisse com o pai, nos dias dele. Naquele hotel, naquela praia, com aquele número de dias, o que por óbvio, sabemos todos, que não funciona assim. Queria ver o pai assumir os tempos dele. Quis dividir do jeito que entende melhor, como a matemática que aprendeu no primeiro ano escolar. Na qual metade de quatro são dois. O que em nada tem a ver com compartilhar a guarda dos filhos ou mesmo as férias, o que parece complicado para a interpretação de um menino de sete anos.

Mas em fim…. As férias com o pai não seriam iguais. Talvez porque ele está em outro momento, ou porque aquele tipo de programa não é a dele. Mas foi quando o meu Joaquim sentiu a distância entre os caminhos das suas duas casas. E que compartilhar não é dividir os dias, suas quantidades em suas vidas, com mesmo peso e medida. Que a vida, mesmo na nossa constelação diferente, é feita de momentos, como é a de todo mundo. E se dar conta disso, desse tanto de cenários e condições diferentes entre seus genitores, dá um tanto de trabalho aos filhos das novas famílias. É exigente. Faz lidar com as diferenças entre as agora “aldeias” de onde vieram. Lidar com a pena, com a saudade. Lidar com a felicidade, que acontece em cada uma de suas casas em momentos diferentes e por motivos distintos.  Que a cada dia deixam mais claras as distâncias entre seus lares, mesmo que alinhados entre si, mesmo que compartilhados.

E aí, eles amadurecem e a gente assiste. Juntinhos. Porque sei que não conseguirei protege-los do que experienciarão em seus lares. Do que identificarão de diferente. Do que eventualmente irão preferir do que vem de lá, do que vem daqui. Do que possuem de acolhimento em suas duas casas. E aí, meu caro, minha cara… dormimos com essa e amadurecemos todos neste mundo no qual ninguém pertence a ninguém nem a nada, a não ser a si mesmo.

Então, que se pertençam, meus bebês, a qualquer tempo. Pois aqui terão casa, terão mãe. Terão pai afetivo. Terão férias. Terão tudo que temos para dar, no tempo que é nosso. Num dos tempos da vida de vocês. Numa das partes desse mundão que é a história de cada um. E que venham nossos próximos dias juntos… pois já estamos com saudades.

Comentários

  • Priscilla Castro 3 de maio de 2018

    E eu só sei chorar, por que tu não sabe ( na verdade tu sabe, rsrsrs) o que é essa sensação de impotência de não poder proteger os filhos quando eles estão do lado de lá. E pior não sei o teu caso, mas no meu, não faço ideia do que acontece lá, e fico aflita e choro e rezo e me agarro as minhas crenças e forças do bem para proteger meu filho quando eu não poder estar perto dele. Como tu disse faz parte da vida, durma com essa e acorde mais maduro, pq se nós aprendemos com tudo eles também com toda certeza, do jeitinho deles como tem que ser. Mas que dói, dói.
    Juliana, muito obrigada por dividir e de certa forma acalentar meu coração e ver que não estou sozinha.
    Queria um dia te conhecer pessoalmente é impressionante a ligação que sinto com a tua nova família e a minha nova família também. Mais uma vez grata, e saúde a todos aí. Beijinhos na novata Antonella.

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