Desde que me separei e de fato a questão ficou pública, tenho ouvido coisas engraçadas. Algumas boas, outras nem tanto. Umas simplesmente oriundas de uma má interpretação. Outras conclusivas e preconceituosas.

É incrível como as pessoas criam no seu imaginário a história dos outros. O fim delas ou o seu reinício. Os porquês da vida alheia e seus desfechos. Ui. Vocês não podem imaginar o tanto de histórias sobre o fim do meu casamento que eu ouvi de “outrem”. Do conhecido do amigo. Da tia da fulana. Dos amigos nem tão próximos, ou nem tão amigos. As pessoas criam aventuras mirabolantes, alguns em sua defesa, outras para justificar lhe tirarem de suas vidas. Neste último caso você precisa ser mau, e assim podes virar a vilã da história, uma mãe irresponsável. Ou uma pessoa com problemas psiquiátricos, alcoolista e desequilibrada. Afinal, que tipo de pessoa, em sã consciência, deixa um casamento aparentemente normal? Isso não é história, acreditem: alguns me rotularam assim.

Uso este adjetivo, normal, pois para a grande parte das pessoas é normal que seus dias em geral possam ser ruins ou que não andem bem em casa. No casamento. Na cama. Ou nas relações com o marido, sejam elas particulares ou sociais. Nos acostumamos a dizer que está tudo ótimo quando não está. A nos conformarmos com o que sobra da relação após algumas tempestades da vida, entre elas a chegada dos filhos.

Perdão, não me condenem, mas filhos mexem com as entranhas do casal. São como um furacão. Com bons e maus ventos. Que muitas vezes abalam estruturas, como é capaz a natureza. Aquela mulher cheirosa e que até certa parte da vida cuidava de si, da sua vida e da casa com o único foco no seu parceiro e nos sonhos em comum, de repente o abandona à sorte para cuidar e alimentar o novo rebento. E seu perfume passa a ser de leite materno. E seu traje oficial, o que veste mais rápido e que lhe é mais confortável. E não parece que poderia ser diferente, mas enfim… Fazemos o que podemos. E seu parceiro sente, dá o espaço, admira e depois, por vezes, se distancia. E assim caminha muitas vezes a humanidade que vive em matrimônio, ou dividem contas, compromissos e filhos. Como entenderem e viverem melhor.

Eu não venci. Não no casamento com o pai dos meus filhos. Acredito que não vencemos como casal, e não há nada de depreciativo nisso. Fomos inteiros no que vivemos e compartilhamos realmente aquele propósito: o de ter uma família. Mas vencemos como pais.  E a mesma importância que demos à família ao construí-la, demos ao separá-la. Ao reestruturarmos o que seria o novo ambiente dos filhos que tivemos juntos e que seriam para sempre dele e meus. Porque a família é um valor que não se perde em um divórcio. Ela é maior. Está marcada, tatuada no DNA emocional que carregamos e desenvolvemos pela estrada da vida. Assim como a crença na instituição do casamento, ou como quer que se estabeleça a união entre duas pessoas. Desde que pautada pelo respeito, pela admiração e por um profundo amor.

E ela está no meu DNA. A família. E acredito tanto nela, que a reestruturei. Criei com os meus filhos uma nova. Primeiro de três. E com todo o amor que cultivei dentro de mim e através dos meus filhos Joana e Joaquim, me permiti crescer e fazê-la crescer também. E agora somos quatro.

Se fomento o divórcio ou o fim da família? Não, de jeito nenhum. Não se atrapalhe pelo que as coisas lhe parecem. Pelo que parecem as pessoas divorciadas. Sou de novo casada, muito bem casada. Não porque não tenho dias difíceis. Mas porque os ótimos e felizes são a maioria. E aí ela existe. Do seu jeito novo. Como um mosaico. Uma nova família. De verdade, forte e feliz, como as famílias devem ser.

 

Comentários

  • ana 2 de agosto de 2017

    Oi, Ju!
    Muito bom o texto! Achei bem bacana a sua iniciativa de compartilhar a sua experiência, porque é uma forma de afeto com quem esta passando por isso. E é tão fácil apontar o dedo e dizer que a “culpa” é da mulher, né…
    Eu tb passei por uma separação, não tinha filhos, mas tem muita coisa parecida.
    O “julgamento” alheio , as palavras duras vindas das pessoas que menos esperava e o encontro de apoio em outras pessoas q jamais imaginei.
    Eu estava com 30 anos quando decidi colocar fim naquele relacionamento. Foram 9 anos.. e nos últimos 5 anos eu fui vitima de violência psicológica pesada.
    Algumas das coisas q eu ouvia das outras pessoas quando eu decidi sair de casa: “vc é muito independente, homem não gosta disso”, “mas vai separar na idade de ter filho?”, “engravida que resolve tudo”, “vc é rebelde”, “`as vezes tem q deixar o gado pastar fora do pasto”..
    Juro!
    Já compartilhei a minha historia com algumas pessoas que estando passando ou passaram pelo mesmo como uma forma de dar apoio.
    Parabéns! 🙂

    • ana 2 de agosto de 2017

      esqueci de falar.. é a Ana Cândida , do IE 🙂

  • Marcia 2 de agosto de 2017

    Lindo Ju.

  • Maria Inês Figueredo 9 de novembro de 2017

    Amei. A vida bem como ela é e a chatisse dos julgamentos das pessoas. Sou de acordo com a tua frase: Mais dias felizes. Segue em frente a vida é MARA. Beijo

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