Quando se deu a minha separação efetiva, estávamos em um mês de janeiro. Sou Relações Públicas, e há quase seis anos estou diretora de uma área comercial no mercado de mídia. Então, naturalmente, não tenho férias grande parte do verão. Usufruo de paradas ralas e distribuídas no ano, do jeito que dá. Sem contar que quem trabalha com vendas não pode se dar ao luxo de desaparecer em férias, ou você retorna e quem desapareceu foram os seus clientes.

Além de dirigente comercial de empresa, sou também mãe da Joana e do Joaquim. Na época com cinco e quatro anos. Quando digo que sou mãe, quero dizer que realmente sou. Na integralidade desta atividade. Mãe de dar banho, de fazer os temas de casa junto, de fazer o jantar, de assistir Carrossel amontoada no sofá, de olhar fundo no olho, de conversar. De saber o que está acontecendo com eles. Enfim. Mãe de estar junto. Administro também uma casa, e uma ajudante que passou a ser praticamente parte da família neste processo, mas que depende das minhas orientações.

E eu pago contas. E como as pago.

Quem tem filhos, uma casa e uma doméstica sabe exatamente do que eu estou falando. Se trata da compra de uniformes. Roupas, meias, tiaras. Réguas e borrachas, em substituição às perdidas da semana. Lanches. Almoço. Verduras e frutas frescas. Bolo para a merenda. Presente para o coleguinha de aniversário. Gás, luz, passagens da doméstica, cartão do Zaffari. Financiamento da casa, aff! E sem planilha Excel atualizada, exceto a do planejamento do ano, feita no início dele.

A rotina é implacável. Para complementar, o esporte, sempre importante na minha vida. Por ele sempre troquei horários de almoço ou qualquer outra janelinha desta rotina agitada.

Contextualizado meu cenário, igual ao da grande maioria das mulheres da minha geração, entrei em processo de divórcio. Incluí neste roteiro as adaptações dessa nova vida. Advogada de família, negociações das novas rotinas das crianças, divisão de bens. Daqueles poucos que um casal de classe média consegue juntar tendo dois filhos. São as empresas que a gente administra na vida. Ou a vida da gente, que exige a administração de uma empresa. E que, se não feita com afinco, quebra. No sentido financeiro e emocional.

Por isso trago este tema. A vida não para por causa de uma crise. Não para porque os teus governantes são corruptíveis, porque as leis não ajudam teu negócio, porque a situação econômica impacta na sua vida ou porque estás passando por uma separação. E foi neste cenário que me vi separada e com dois filhos. A vida não escolhe hora para essas coisas. E aí, é a administração que a gente dá que define como ela vai ser tocada daí para frente.

Tinha medo da falta. Da falta de recurso, da falta de perenidade profissional na qual me encontrava em um país como o Brasil. Porque precisava me manter produtiva. Para que a bagunça da minha história pessoal naquele momento fosse sustentada. Para que me desse a base que eu precisava, solida, para suportá-la. E aí vem a Lava-Jato, o desemprego, a queda nas vendas e a negociação do meu patrimônio pessoal e emocional trazido pelo meu divórcio.

A questão é exatamente esta. E aí entra a minha teoria. A da sobrevivência. Vista de fora, no planejamento de um bom executivo, tempos de crise econômica no país não são tempos de desembaraçar as crises da vida. Não são tempos de terminar o casamento. Mas como se manter dentro esperando a hora certa de fazê-lo? Não existe hora certa para se dar conta e assumir sua condição, suas decisões e o fim dos tempos do que exigia mudanças. E eu mudei.

Com dois pequeninos em casa, naquele ano, não vi forma de tirar férias. Precisava dá-los segurança e sair para trabalhar todos os dias cedo. Precisava, a cada dois meses, estar por três dias em São Paulo a trabalho, buscando negócios. E ao mesmo tempo, estar presente para eles quando um mundo novo, uma família nova, estava se modelando. Dormi menos, comi menos. Dediquei cada momento em casa, a eles. Cada momento sem eles, ao negócio. Cada momento só, em prol de refazer a minha estrutura. Pensando em cada detalhe dessa máquina de tantas regulagens que é a nossa vida. Que não para por conta de nada. Que não respeita ninguém, nem aos seus sentimentos.

Troquei a turbina do meu avião com ele em movimento. E neste momento me dediquei ao que era importante. A eles, e ao que nos daria subsídio para viver juntos e bem. Me dividindo em muitas partes, como uma mãe deve fazer. Como a dirigente de uma família deve agir. Descobrindo a cada passo as minhas forças. A capacidade do meu amor. Fortalecendo minhas convicções. Com a coragem que era preciso. Como os meus filhos merecem. Como eu mereço como forma de recomeçar.

Porque acreditem, o tempo não para.

Comentários

  • Márcia 24 de agosto de 2017

    sem sensacional!!

  • Leticia 26 de agosto de 2017

    Ju que lindo, que realidade mesmo…tem que prosseguir, continuar , admnistrar tudo ao mesmo tempo….Parabena por fazer isso da melhor forma que deve ser minha amiga❤️

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