Por conta de tantas reflexões sobre o fim do casamento, tenho sido visitada pela magia dele. Deste assunto. Do ato de casar. Talvez porque não fiquei uma mulher desiludida por causa do meu divórcio. Ou porque tenho o entendimento de que não foi o casamento que fez terminar a minha relação com o meu ex-marido. Ao contrário. Ele marcou os bons momentos.

A palavra casamento tem origem na palavra casa. Lar da alma, do coração… No dicionário traz várias leituras, como a união voluntária entre duas pessoas ou aquela que estabelece relação de semelhança entre os cônjuges. Uma ligação associativa, a cerimonia que celebra a ação do casamento. Mas a que eu mais gosto é a que diz que o casamento é a ação daquilo que se combina de maneira harmoniosa ou íntima. O casamento entre a verdade e a realidade. Olha que lindo isso. É como trazer o amor entre duas pessoas à vida. É trazer à luz o afeto de duas pessoas. Um amor que já existe, que já é real, que já é verdade. Com sua cumplicidade e intimidade. Com seus sonhos comuns. Então porque não gostar de casamento, ou julga-lo mal? Já que é uma ação que une somente palavras de significado rico e humano, de evolução e de amor?

Casamento inicia a família. Para mim já bastaria este significado para eu gostar dele.

Pois então. Dito que não guardo mágoas contra o casamento, ao contrário, o respeito e admiro, trago aqui algumas experiências com essa palavra mágica.

Na minha história, fui pedida em casamento uma vez. E não foi pelo meu ex-marido. Antes dele, tive uma relação longa e importante que gerou um lindo pedido de casamento à beira de uma escadaria na casa dos meus pais. Um pedido surpresa. Com alianças e flores surpresa. Era tudo surpresa para mim naquele dia, na verdade. Era meu aniversário… E foi daqueles pedidos que só se assemelhariam a um de filme de amor se estivéssemos, eu e o noivo, vivendo no amor pleno naquele momento. Tinha uma relação desgastada com ele já, vimos juntos desde a adolescência. Juntos descobrimos o amor jovem e desastrado. Daqueles que sofrem com todos os testes do caminho do amadurecimento. E acabamos por não casar. Por óbvio faltavam muitas coisas para iniciarmos de fato uma família juntos. E, por Deus, pude perceber antes. Por nós dois. Mas sou grata a ele até hoje por aquele momento bonito, que guardo no coração.

Depois veio o meu ex-marido, pai dos meus filhos. Tivemos um namoro tranquilo, uma admiração mutua e o sonho comum de construir uma família. Acho que cheguei na hora dele, e ele na minha hora. E o nosso casamento aconteceu com uma festa. Sem pedidos, sem nada de cena de filme. Uma decisão na virada do ano, a quatro mãos. Um desejo comum aos dois. E de lá para cá vivemos uma relação tranquila, pautada no bem da gente. No bem dos filhos que a vida nos deu, na parceria em casa. No amor tranquilo que tínhamos. E porque não dizer na nossa felicidade… daquele casal, naquela casa, com as duas crianças e seus objetivos compartilhados.

Assim crescemos como indivíduos e como família. Com ele, viramos quatro. E em um dado momento, nos perdemos… sem vilão na história. Culpa de pequenos atos voluntários e involuntários do dia a dia. De pequenas faltas de cuidado. Quando deixamos o cordão flexível que nos ligava, nos trazia vez para perto, vez para longe, romper. E daquela célula tranquila e familiar, nos desprendemos e vagamos. Nos perdemos no universo. Até o ponto de sermos só pais. De termos em comum só Joana e Joaquim. E saímos um para cada lado, com todo o respeito que devíamos um ao outro, e aos filhos que tivemos juntos. Separamos, sustentados pelo dever não cumprido de viver no amor de casal, como tínhamos prometido no altar da Nossa Senhora da Assunção.

Neste momento sobrou pouco de mim. E muito de culpa. Muito daquela que me fez questionar a força do amor do casal em uma família. Logo dele, que é o esteio do lar.  Que deve ser base para o resto florescer. E ali estava eu e a sensação de que o meu tempo para uma relação de amor profundo e perene, que me desse base para me sentir viva e recomeçar de verdade, já havia passado… Que já era. Que não mais nesta vida…

Pois então. Eis que outro dia conheci um homem que saciou as fomes do meu ser. Que alimentou o meu corpo e minha alma. Mas além deles, a minha vida. Uma nova, desconhecida, que vi nascer em mim com a chegada dele. E que passou a sonhar comigo os meus sonhos de mulher. De profissional e de mãe. A dividir projetos de vida. A me enxergar na integralidade, com todo o meu “pacote”. E na hipótese improvável, querer fazer parte dele.

Dia desses acordei com ele, na casa a qual já dividimos juntos, e fui pedida em casamento. Sem maquiagem ou dentes escovados. Sem escadaria, flores ou anel de noivado. Sem um pedido formal ao meu pai, nos meus quase 38 anos. Meio no escuro… eu tinha os olhos meio abertos, meio fechados. E acreditem, eu sonhava com isso. Sonhava isso com ele. Me permiti este direito após o meu divórcio. O direito de romancear a vida de novo. De desejar um recomeço. Com o amor que nasceu em mim. Único na minha vida. Do seu jeito, pela primeira vez.

Isso porque o romance que permeia o casamento, o início de uma família, é único quando acontece. Ele rejuvenesce. Vem de dentro da gente. Da pessoa que chegou até ali. Que se construiu na maturidade que o tempo lapida. E que na minha opinião é também de Deus, que o permite florescer quando é verdadeiro. Que o dá condição. E se na vida acontecer mais de uma vez, é da vida também. De quem se permite buscar a felicidade. Identifica-la nos sentimentos reais. De quem se permite construir novos laços. De quem se propõe evoluir. Mesmo após as tempestades indesejadas. E presentear a vida daquele novo ser, que nasce após cada intempérie do caminho, com novas possibilidades. Com começos. Porque não com um amor. Com uma nova família e com festa. Com alegria. Com a fé de que não é porque caímos uma vez, que cairemos sempre.

Mas para mim, em especial, por ter me perdoado, me dado uma segunda chance. Por ter chego até aqui. Porque consegui me refazer. Me amei de novo e assim pude descobrir e viver um amor profundo e maduro pelo outro. Um amor que só conheci agora. E isso merece comemoração. Do jeito que for, que a gente quiser. Desde que seja no amor. Desde que seja com Joana e Joaquim. Que passaram a desejar e pertencer a esta união. E terem abençoada a família que construíram junto comigo e com o nosso novo parceiro. Com flores na cabeça…

E fez sentido pra mim, este novo começo. Porque isso sempre teve a ver com a minha maior crença. A de que no amor tudo pode. Então, até casar de novo. Até viver este momento bonito. De casar a minha verdade com a minha realidade. Em harmonia e em festa. Que é como devemos receber as coisas boas que universo retorna. Em troca de fazermos movimentos por bem. Em troca da fé que colocamos na gente mesmo e nas pessoas. Que pus em mim, no homem que quis profundamente entrar e nos meus filhos, que construíram juntos, o seu lugar entre nós.

…e em troca do ato de amar e multiplicar. Todos os dias. Aqui, na nossa casa, oficialmente por quatro.

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