Que difícil se relacionar com pessoas. Há de se admitir. Quanto mais os anos passam, mais eu acho que subestimamos a nossa capacidade de complicar as coisas simples. O amor é simples. Educar também, se considerarmos que, mesmo existindo muitas filosofias, cada uma delas tem suas orientações claras quanto a regramentos e modelos de educação. Com passo a passo, muitas delas. Estabelecer uma vida profissional também não é um problema. Exige somente definição de foco e disciplina para se chegar onde se quer. E dinheiro? Antes de problema, é solução. E viver com ele é uma questão puramente matemática. Se precisa mais, é preciso produzir mais, e se aumentar o bolo parece impossível, bom, o jeito é adequar custos e receitas em uma planilha Excel e viver com menos.

Ocorre que, tudo é simples na vida, exceto o ser humano. Temos a capacidade de criar coisas, de entender errado ou entender certo demais as situações que nos são apresentadas, sempre à nossa conveniência. Com otimismo demais, ou pessimismo. Com excesso de razão, ou de emoção. Queremos um futuro brilhante, mas não queremos acordar tão cedo assim, nem abrir mão do tempo com os filhos. O dinheiro pode faltar se aumentar a produção significar colocar mais energia. Porque aí a coisa complica. Porque exige fazer diferente. Fazer mais e mudar. E no amor, não é diferente.

Olho tudo que está acontecendo a minha volta e acho que passamos por uma revolução neste sentido.

Me vejo de certa forma parte dela, e vou dizer porquê. Quando casei, à minha conveniência, simplifiquei a coisa toda. Bom, uma vez casada, minha vida pessoal e familiar estaria resolvida. Dá para riscar do “To Do List” esta tarefa. Assim como quando tive meus filhos. Um casal. Ainda dei essa sorte, que me propiciou vivenciar todas as possibilidades. Afinal, dos tantos papeis que assumimos na vida, conforme vamos alcançando solução para cada um deles, realização, podemos nos permitir seguir evoluindo e pular para a próxima etapa, a fim de chegar ao fim da jornada com tudo o que for possível realizado…. Certo? Não, errado.

Nos tornamos no decorrer da vida gestores de várias “empresas” da gente mesmo. No meu caso tinha a Juliana esposa, a Juliana mãe, a Juliana profissional e a Juliana mulher. Cada uma com as suas demandas e desejos, com as suas dificuldades, com as suas frustrações e traumas. E como gerir pessoas não é nada fácil, gerir esse tanto de Julianas não foi nada fácil para mim.

Achando que estava no controle de tudo, falhei diversas vezes nos meus papeis, quando não identifiquei o quanto a importância de um impactava no outro. O quanto eu me sobrecarregava querendo me realizar pontualmente com cada uma das minhas partes, mas como gestora delas, não enxergava o todo. Não o equilibrava. E vivia afogada na culpa.

Quando cuidei da Juliana mãe, descuidei da esposa, da mulher, da profissional. Quando foquei na profissional, sentia a culpa de me ausentar da mãe, da esposa. E quando me vi demandada pela Juliana mulher, a percebi desconectada de tudo o que havia conquistado até ali, já que em algum momento a perdi no caminho. Quando tardiamente cuidei dessa “empresa”, da mulher em mim, ela já não era mais a mesma. A ignorei por tantos anos que ela, sozinha, criou vida nova, queria outras coisas, queria ter relevância como as outras Julianas tinham, no jogo das prioridades.

Aí está a dificuldade de se relacionar para mim. Cada dia que passa tenho a sensação de me conhecer menos, ao contrário de todas as coisas que ouço por aí. Quando escolhi mergulhar em mim, na mulher que existe aqui, percebi que sou água profunda e escura. O que na verdade o ser humano me parece ser de forma geral. Porque cada experiência de vida, cada dor, cada conquista, te leva a um limite mais acima da régua. Eleva tua compreensão e teu entendimento sobre as situações já conhecidas da vida e quanto as desconhecidas também. E aí você se surpreende quebrando seus próprios tabus. Considerando outras saídas. Aceitando o antes inaceitável. Respondendo aos desafios iguais da jornada, de forma diferente. Porque você mudou. E eu mudei. E mudo todos os dias quando encaro algo mais interessante do que eu. Quando acho que algumas coisas podem ser feitas diferente.

E o desafio está em relacionar pessoas com pessoas, as quais trazem toda essa carga. Estes seres complexos, com várias empresas, que intuam se associar. Com seus dilemas e insuficiências de gestão.

Se entendermos isso, que nos faz diferentes nas nossas faces, assim como no universo compartilhado com o outro, aí a coisa fica simples. Cada um cuida das suas personas, mantem suas “empresas” sadias e aí, feliz com o que tem passa a ter o que trocar. E quem sabe se associar quando as tuas fortalezas são a busca do outro, que está chegando.

Neste caso, se aumenta a régua junto. Se evolui junto. Se mergulha mais fundo. E neste cenário não falta o novo, não falta o frio na barriga, não falta o querer ir mais longe.

Aí, talvez, se case, se tenha filhos, se trabalhe e cuide de si mesmo pelos motivos certos, a partir de pessoas inteiras. Porque é inteiro que se chega a eternidade, ao nosso infinito. E aí, estar de mão dadas com outros seres também assim, se torna leve, se torna sonho.

Se torna interessante…. Nos torna capazes de sermos felizes.

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