Há quase dois anos atrás, ano no qual me divorciei, minha filha mais velha começou a me enfrentar. Ela tinha feito recém seis anos. Eu tinha dificuldade de controla-la dentro de casa. Tudo tinha uma resposta. As provocações com o irmão eram intensas e ela não sossegava enquanto não me tirava do sério, quando perdia a paciência e em muitas vezes entrava no jogo dela. Pois então. O primeiro pensamento de uma mãe que passou pelo processo do divórcio, e na época fazia em torno de seis meses, era o de que aquela reação da filha mais velha se tratava de um efeito colateral da separação dos pais. De que ela fazia aquelas coisas para chamar a minha atenção quanto ao fato de termos passado por tantas mudanças, por escolha dos adultos.

Isso é o que passa na nossa cabeça. Não na deles.

E por vexes fiz essa confusão com os fatos. Com o processo de amadurecimento dos meus filhos. Quando em tantas vezes atribuí suas fases difíceis ao que eu e o pai tínhamos passado enquanto casal e a nossa decisão de romper a família como ela era. Enchendo os meus dias de culpa, prejudicando principalmente a mim e à minha isenção no processo de criá-los, de educá-los.

Não, nem tudo tem a ver com a separação dos pais.

Primeiro, preciso dizer que quando se passa por este processo com cuidado, priorizando a boa condição do caminho que os filhos percorrerão na reestruturação da família, olhando com atenção cada passo deles e imputando nestas ações o afeto infinito dos pais e familiares, esta mudança pode ser leve. A transição bem-feita é tranquila. Não produz traumas. Porque é conduzida com consciência, por adultos sendo adultos. E nestes casos, atribuir à separação atitudes pertinentes a idade da criança pode ser um caminho sem volta.

Fui ler a respeito, entender o processo da minha filha. Com a ajuda do meu hoje marido, na época namorado, pesquisei os diversos comportamentos da menina na idade entre 06 e 07 anos. Descobri que a minha menina passava pela “adolescência infantil”. Pode? Pode. Mudanças bruscas de humor, de quieta para agitada e irritadiça, são características da criança dessa idade, assim como a dificuldade de fazer escolhas, por conta da comum ambivalência da fase. Ela me enlouquecia não porque estava revoltada por conta dos acontecimentos da família. Sobre eles, conversávamos abertamente, diariamente, dando cada passo juntos, nós três. A agitação dela se devia aos seus seis anos de idade. O que pudemos comprovar pouco mais de um ano depois com o Joaquim, o mano mais novo, que entrou com seus dois pezinhos nesta fase.

Trago este tema por entender que corremos o risco de envenenamento por ele. Por ação da culpa. Aquela que te demove da posição de mãe, de orientadora, de pulso forte, à refém. À culpada pelo produto das ações dos filhos. E isso, além de venenoso, é injusto. Causa um sofrimento profundo na gente. Causou em mim, antes de buscar estudar e conhecer as fases dos meus filhos. Quase me envenenei antes de me dar conta que para ser boa mãe, precisa estudar. E eu estou falando da pesquisa, do conhecimento racional das coisas. Não estou mandando ninguém para a universidade.

Falo de buscar saber o que está fazendo na educação dos seus filhos. Porque faze-la bem não significa abrir mão de si mesma. Não significa deixar de fazer o que tem que fazer para não magoar ninguém, e neste processo sacrificar a você mesma. Se trata de enxergar seus filhos na sua integralidade, no seu universo expandido, que em muitas léguas se distancia de uma tomada de decisão isolada, quanto a relação amorosa dos pais.

E não os olhar no todo, e ao processo de educação em cada fase deles, pode levar-nos à uma confusão tamanha e uma inversão de papeis que, aí sim, compromete a formação dos pequeninos da casa. Que só querem crescer protegidos. Com o apoio dos pais, diretos ou não. Com o apoio dos seus afetos. Porque não cabe a eles julgamentos, só precisam de amor e atenção em cada uma das suas etapas.

E assim, confiar em si mesma, no que está fazendo como orientadora, com todo o seu coração, cheio de boas intenções e agora, com algum embasamento.

Aí, você consegue ser mãe. Mesmo divorciada, namorada, executiva ou gay. Porquê da forma que for, este é o seu papel. Então, é melhor estudar.

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