Estou eu aqui, grávida do terceiro filho. Do meu novo casamento com o meu grande amor. Com a benção da minha Joana e do meu Joaquim. E com muitos, muitos, muitos enjoo.

Eles não são só matinais. São vinte e quatro horas por dia. Quando durmo, paro de senti-lo, mas aí sonhos malucos de seres metade pessoa, metade animal, transitam pelo meu sono. Promovendo sustos, reencontros com pessoas que já não estão mais aqui, mudanças de cenários bárbaras e perdas e ganhos de assustar. É tudo ou nada. São realmente noites bem movimentadas…

Além destes, tenho também sonhos que antecipam o meu dia seguinte. Então é comum que eu acorde achando que já vivi algumas cenas ou mesmo com medo de outras terem realmente acontecido. Enfim… Como o sono tomou conta da minha vida, passo no mundo fantástico de Bob, ou de Juliana, no caso.

Mas este não é de fato o desconforto que essa situação querida, desejada e interessante está me gerando. Apesar de ter dois filhos, e o meu segundo praticamente ter atropelado a minha primeira, dada a proximidade deles de idade, não tinha uma lembrança digamos… madura e clara da chegada de um filho na constelação na qual já existe outro. No meu caso, outros dois. No meu caso também, de pais diferentes.

Então, não sou eu aqui. Meu bebê amado me transformou em uma Juliana diferente da anterior, daquela que escreveu as últimas crônicas e veio até este ponto com Leandro, Joana e Joaquim.

Sempre fui uma pessoa de movimentos lentos. Penso, penso, penso, até existir. Mas desde que iniciei a minha terceira gestação, com os hormônios a flor da pele, estou gerando imediatos “sim’s e não’s”, ao vento, em alto e bom tom! Gosto ou não gosto, e isso inclui até os pratos que tinha como preferidos. Outro dia respondi ao meu marido a questão sobre colocar ou não ovo na comida: “Não coloca, eu odeio ovo”!

O quê? Eu sempre amei ovo! E voltei a ama-lo na última semana, para tranquilidade do meu ser e retomada da minha saúde mental.

Mas tudo isso para dizer, que naturalmente a constelação mudou aqui em casa. Mexeu. Não é mais igual. O que era harmônico antes não necessariamente é agora. O que não soava bem, eventualmente passou desapercebido. Eu mudei, por conta dos hormônios e da chegada do bebê, e naturalmente mudaram as crianças e o papai de primeira viagem…

Eles, mesmo amando a chegada de um mano ou mana, sentiram a mudança toda. Costumava levar o Joaquim à mesa do café todos os dias no colo, de “macaco”, mesmo de salto alto, pronta para o trabalho. O que ele entendeu e apoiou nos primeiros dias, virou falta. O mesmo ocorreu com os papos noturnos entre Joana e eu, quando falávamos do dia, das dores e dos sabores da vida, e que agora, por conta dos enjoos constantes, passei a me sentir impedida de realizar. Ou mesmo a impaciência, por conta de administrar a indisposição estomacal e o sono durante o dia todo, e que agora me saem do controle.

Meu marido assumiu todos os vai e vens do dia a dia da nossa casa. Com carinho e paciência, tem mantido calma a nossa vida de casal e de família, até então agitada e movimenta.

A mudança veio para todos. Ah, pequeno ser…

Tenho por habito e convicção estar muito atenta em cada olhar, em cada passo dos meus amores. Ocorre que me vi, através desta gestação linda que vivo, não mais dona do meu ser. Um canguru. Um canguru afetado. Que precisa segurar emoções e rompantes em proteção ao que lhe é mais caro. Pular sobre eles ou sobre minhas atribuições de mulher, profissional e mãe passou a ser o maior dos meus medos, o maior dos meus cuidados. Porque sou mãe agora de três. Porque desejo o melhor para o meu lar, para o meu casamento, para a minha nova família.

E o nosso pequeno novo amor, o qual esperamos ansiosos lá em casa, e que já causa as primeiras mudanças nas nossas vidas, já mostra a que veio. Para ensinar. Para mostrar que não é porque ganhamos até aqui, que o jogo para frente está ganho. Que a vida segue exigindo da gente. Puxando mais. E presenteando mais a quem não tem medo do mergulho.

E isso tudo tem o lado real, e o lado bonito. O real é que tive outra oportunidade. Serei mãe novamente, e darei a este tanto de filhos e ao grande pai que nasceu na minha casa tudo o que tenho pra dar. E receberei o tanto mais que vem deles. O lado bonito é que tive outra oportunidade. De aprender de novo. De redescobrir outra Juliana. De faze-la crescer. De faze-la gerar. De faze-la melhor. Pela terceira vez.

Grata pelo que construí até aqui. Grata pelo meu hoje. Grata por não saber nada do amanhã. Nada além do que depende de mim e do que vem a mim… Com Leandro, Joana e Joaquim, e o meu pequeno canguru.

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