Quando a gente pensa que domina a vida e as rotinas na qual vivemos, vem a mudança, o novo, e bagunça tudo.
Falo aqui no bom sentido, pois o que seria da vida se não fosse um organismo vivo, de movimentos, de evoluções, de metamorfoses, que nos propõe novas emoções, aventuras e aprendizados? Pois bem, esse é o tipo de vida que eu gosto. E de fato, gosto não se discute. Há quem goste da vida igual. Eu sempre achei que quem vive só o igual, não conhece nunca o melhor, ou mesmo o pior, do que ninguém está livre. Mas estes são os riscos de quem se propõe se jogar na jornada.
Eu me propus. E venho tentando, humildemente, respeitar a mim e às pessoas ao meu redor neste processo contínuo de mudança. O que não quer dizer que eu também, como todos, não me atrapalhe em meio às novas configurações…
Estava tudo tranquilo no nosso reino. Joana e Joaquim, irmãos, filhos de seu pai, meu primeiro marido, e suas duas casas. Uma, do pai. Outra, a nossa casa, onde éramos quatro. Eu, meus filhos e o meu marido, meu amor, e pai afetivo das crianças. Eis que, após nosso desejo profundo, nascido daquela nova família que formamos, nos descobrimos gestantes do nosso novo membro. Comentei em outros textos, já. O bebê que veio para consolidar tanta coisa diferente para cada um de nós.
Para as crianças, ele se trata de um prêmio, conquistado pelo pai afetivo que mereceria um filho gerado por si, ou como dizem, um “biológico”, além dos de coração. Para o meu marido, me atreveria a dizer que este filho significa a participação dele nesta família, neste mundo, constituindo seu legado, além de uma parte importante de nós dois, do amor que temos um pelo outro. E também, inevitavelmente, acredito no desejo dele de ter sua experiência como “gerador”, realizando o sonho de ver nascer um filho.
Para mim, o que dizer… O que é um filho para quem é mãe e ama sê-la? O que é um bebê gerado de um grande amor descoberto na maturidade e que através deste ser se mostra tão forte e tão capaz? E um filho que nascerá de uma família construída com tanto otimismo, entusiasmo, determinação e fé? Para mim, ele é um presente. Para nós quatro. Para as nossas famílias, vovós e vovôs, tios, tias e primos. Para os amigos tão próximos que torceram sempre por nós e pela nossa felicidade.
Este é o significado do nosso bebê. Presente. Esperança. Colheita. Retorno.
Só que este presente trouxe nele mesmo surpresas, reações e medos. Coisas que as mudanças trazem. Qualquer uma. Mais ainda as que são para a vida toda, que é o caso.
Posições naturalmente mudaram. Joana, nossa primogênita, segue a filha mais velha, mas agora de três, não mais de dois. Pelo menos na nossa casa. Agora também deixa de ser a princesa absoluta da família para abrir espaço à Antonella, essa pequena luzinha que vem aí. Dividirá seu quarto com a mana, o que apesar de excitante, muda a realidade exclusiva do presente.
Joaquim, de caçula de suas casas, passa a irmão do meio na nossa. Deixa de ser o bebê. O meu bebê. E passará a viver cercado de meninas. Essas duas crianças, deixam de ser nossos únicos amores, meus e do meu marido. Deixam de ter todas as atenções voltadas para si, em suas casas. Passarão a dividir a atenção, o tempo, o pai do coração e principalmente a mãe. Essa que já sente as mudanças no corpo e na alma frente a presença do anjinho que está a caminho.
E não é pouca coisa, mesmo para as crianças doces e compreensíveis que tenho em casa. Que compartilho com o pai e com o mundo. Mesmo para mim e para o meu marido, meu namorado, que perdeu um pouco da mulher e ganhou uma gestante e todo o pacote deste estado de graça. Os enjoos, o cansaço, a necessidade de fato de ajuda e de carinho. Muito mais demanda… e agora, sem a disponibilidade total de antes, a energia e o corpo sensual da mulher, da leoa que estava ali até agora.
De cara, perderam todos o que era dominado, conquistado. Voltamos a um novo início. É claro que cheio de fortes fundações e um tanto de alegria pelo que está por vir. Mas se trata sim de um recomeço, um redesenho das coisas, das relações, para todos nós, já que mudamos nossas posições.
Joana demostrou de primeira o seu medo número um. O que a sua consciência apontou de imediato. Sobre qual seria a explicação que daríamos à irmã quando a mesma os vissem, ela e ao irmão Joaquim, chamarem seu pai de “tio Lê”?! E como explicar o pai biológico e afetivo que, de tanto em tanto, vem busca-los para finais de semana e programas semanais, ao qual chamam de pai? Que confusão! Ela não entenderia…
Procurei tranquiliza-la. Esse é o meu papel. E não há motivo para pânico. Pois essa seria a realidade vivida por Antonella desde seu nascimento. Esta seria a constelação dela. A primeira a qual conhecerá. A sua referência. E que então, conforme ela for crescendo, sua “mana mais velha” poderia ensiná-la sobre recomeços e novas famílias. Sobre tudo que o amor constrói. E ela sorriu. Se tranquilizou. Pois tinha naquele momento uma parceira para clarear o mundo da irmã, e aliviar o dela.
Eu, frente a esta nova mudança, precisei me reorganizar. Perdi algumas referências as quais utilizei para organizar a minha vida após o meu divórcio. Posições e nomenclaturas. Meu ex-marido, por exemplo, perdeu a posição na qual reinava absoluto na minha organização. A de pai dos meus filhos. Pai biológico e afetivo dos únicos que eu tinha. E que passará a ser pai de Joana e Joaquim, agora. Meu ex-marido e pai de Joana e Joaquim… enquanto meu marido, será meu. Meu parceiro de vida, namorado, amor, pai afetivo de Joana e Joaquim, e pai de Antonella. Ganhou nesta mudança muitas posições nas nossas vidas, muitas novas responsabilidades.
A coisa ficou bem mais complicada… exigirá uma nova organização das nossas gavetas. Principalmente das internas, além do espaço físico que nossa nova integrante já começou a ocupar na nossa casa. Se trata dos ajustes na cabeça, nas rotinas, nas culpas, nos desejos e no coração. Para permiti-la entrar. Sem atropelos. Sem traumas. Só no amor.
E como fizemos antes, fazemos de novo agora. Eu e os meus parceiros de jornada. Em mais esta mudança. Mais essa graça a qual nos permitimos viver, sentir… receber de verdade. Podíamos ter parado por ali, mas por que não regar e deixar crescer, evoluir! Fizemos uma família tão real, tão bonita, tão empática, que se propôs a sonhar. A querer mais…
Se acho que será fácil? Tenho certeza que não. As coisas boas não são. Os melhores lugares e as maiores conquistas exigem da gente o melhor. E estamos aqui para isso. Nós quatro e toda a nossa rede de apoio.
Coragem! Vem aí mais essa mudança! A nossa nova família, com a chegada da Antonella!
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