Divido aqui muitas das minhas dores, das minhas cores e dos meus amores. Coisas minhas que por muito tempo guardei no peito. Preferi não expor. Escolhi manter ralo em fotos de Facebook. Coisas nossas, da nossa casa, que constroem o dia a dia de uma família comum, ou talvez incomum, por trazer à tona, desde o início das publicações no blog New Families, as suas verdades, as suas experiências. A sua realidade, com todo o respeito. Simplesmente porque falo do meu marido e dos meus filhos. Das minhas relações de família. Do que na vida é mais caro para mim.

Pois bem, queria falar do meu 2017. Deste ano que para muitos foi difícil, estranho, de muito trabalho e pouco retorno, de perdas. Mas que para mim foi realizador. Principalmente de sonhos.

Falo de um sábado quente de dezembro, no qual me casei com o homem que há quase três anos já é meu marido e parceiro na construção da nossa nova família. Nos casamos no ímpeto, meu e dele, de formalizar o que já era. O que já é, de verdade, a relação a dois que vivemos. A relação à quatro, agora à cinco, com a nossa bebê Antonella, que naquele momento estava à caminho. E assim construímos em meados de dezembro uma pequena cerimônia, íntima, com o intuito de colocar as coisas nos seus lugares, e de brindar o que já deu certo. De transformar nosso estado civil. Aquele que já me incomodou o estômago, e que, no meu processo de enfrentamento dos últimos anos, não incomodava mais. Mas que já não era realidade. E por isso, enfrentaria a sua verdade naquele momento. E vestiria a nossa relação com o traje certo.

Como a vida surpreende…. Falo, reflito e escrevo loucamente para este projeto, com toda a minha emoção, e a cada semana vejo que ainda não vi nada sobre sentimentos, novas famílias e os tantos momentos desconhecidos que ainda dividiremos juntos. De afeto, de emoção. Simplesmente porque exigem tudo da gente. De corpo e alma.

Fiz parte de um momento, neste dado final de semana de casamento, do qual não tinha a menor ideia da dimensão. Afinal, se tratava de um casamento já consumado por nós quatro, casal e filhos. Era para ser somente uma comemoração, um papel assinado do cartório e uma benção da entidade religiosa que possui a nossa fé. Mas não foi nada disso. Foi melhor. Foi muito além do que estávamos preparados.

Tive um dia ansioso e nervoso de véspera. A minha preocupação não eram os preparativos nem o fato de qualquer coisa do cenário que preparamos para aquele momento especial poder dar errado. Que nada…. Minha ansiedade era imaginar o meu primeiro encontro formal com o meu marido, aquele que eu amo tão profundamente, no nosso altar. No nosso segundo altar da vida. Mas no primeiro no qual subiria pelo tipo de amor que sinto por ele. Pelo tipo que hoje reconheço. Aquele que nasceu para agradar a mim, a esta mulher, e não para edificar qualquer outro sonho ou expectativa de menina. Aquele amadurecido por uma vida de tentativas e de autoconhecimento. Aquele que jamais conheci antes dele chegar.

Neste “primeiro” altar subiria com dois filhos nas mãos. Duas crianças, filhos de outra relação. Crianças que este homem conquistou, que eu permiti que o fizesse. E neste altar, selaria a aliança da minha nova família, enfim. Não mais informal. Não mais marginal como foi para tantos, não feita de sentimentos e ajuntamentos somente. Mas de bênçãos, e da formalidade que tantas vezes foi importante na nossa construção da felicidade no depois, a partir dos nossos divórcios. Com flores, com lenços e agora, documentos. E assim, nos tornaríamos invencíveis. Como já sentia no meu coração. E como queria que meus filhos e a nossa grande família, de pais, irmão e amigos, também sentissem. Porque com aquela celebração, eu seria dele, e ele seria meu. Ele seria nossa parte, de fato. Meu, de Joana e de Joaquim. Agora também da nossa Antonella. E quem poderia dizer o contrário depois daquele ato de esperança e amor!?

Esse era um direito pelo qual brigamos desde o dia em que nos conhecemos, desde o dia em que acreditamos com todas as nossas forças na possibilidade de termos uma família de afeto e de verdade. Nossa, da melhor forma possível. Heterogênea, e cheia de amor. Feita dos pedaços de histórias que trazíamos na nossa bagagem.

Quanta ansiedade. E quanta felicidade…

Divido com vocês neste texto, este momento meu, particular. O mais profundo da minha vida.

Ao entrar no meu casamento, de mãos dadas com os meus dois filhos, e à espera da nossa menina, mergulhei no sangue do meu corpo. Entendi a minha respiração, senti meu cabelo nas costas. Senti o calor, o lugar no qual estávamos, cada sensação daquilo tudo. Parecia que ia desmanchar de tão inteira. De tão perfeita. Porque estava ali com tudo que eu tinha. Empilhado, encaixado. Não deixei nada para trás. Nada por aí. Nada perdido nos meus pensamentos. Porque toda a minha consciência estava ali, olhando nos olhos da única pessoa que pude enxergar, lá no nosso altar, além dos olhos verdes e azuis que me acompanhavam atentos ao meu lado, e tinham comigo suas mãozinhas suadas pelo calor, pelo nervoso, pela felicidade que nos acompanhava ali. Em cada passo.

Aquelas mãos que me levaram até o grande amor que procurei por uma vida toda em outras coisas, em outras pessoas. E que confesso, por medo, acreditei não existir, acreditei não precisar. Quando me fiz, por muitas vezes pensar, que sozinha, poderia me bastar. E eles sabiam disso, porque me conhecem. Porque para eles sempre fui água. E naquele segundo assistiram acontecer todos aqueles sentimentos de entrega e aceitação elevados, de uma forma eruptiva, ao entregar a mãe nas mãos do pai do coração.

Quisemos entrar para dentro uns dos outros neste momento. Que foi profundo, que foi puro para nós. Que tirou o nosso ar. Que levou aquele pai de uma família diferente às lagrimas, por reconhecer o nosso presente. Que me tornou naqueles segundos gigante, poderosa. Dona da sua vida e da família mais linda do mundo. Conhecedora do amor que entrega, e se entrega. Porque ali estávamos nós quatro e a nossa menina, tão desejada. Ali estava a família que construímos tijolo a tijolo. Mas mais do que isso, ali estava a nossa avalanche de sentimentos, de amor que temos um pelo outro, por pertencermos a esta família de afeto, criada pelas nossas mãos, pelos nossos corações. Pela nossa esperança.

E ali, naquele altar, onde podíamos ouvir os quatro, pulsando em alto som, nossa bebê se movimentou, se fez presente, por sentir viva a sua mãe. Cheia de sangue nas veias. Simplesmente feliz.

Meu copo naquela noite transbordou. Pois quando nos permitimos sentir de verdade, honestamente com a gente mesmo e com os que te são mais caros, viramos luz. Perdemos a nossa real dimensão. E nos espalhamos, fluímos. Tocando sem querer, a todos à volta, com a nossa emoção.

Ficamos assim nós quatro, por pelo menos dois dias. Nos aconchegando uns nos outros, chorando de ressaca. Reorganizando as nossas gavetas e suas profundidades. Entendendo o tanto de sentimento que temos na nossa casa, entre nós.

Ressaca pela nossa consciência. Ressaca de amor. Esta que te abate por se conhecer, se enfrentar, se aceitar e mergulhar então nas ondas das nossas próprias verdades. E que não é egoísta, que não se resume no seu próprio ser, nem se empodera. Mas sim, que aceita não ser sozinho. Que aceita se entregar ao mundo ao qual pertence. Aquele que estava ali ao meu lado, no olhar profundo e molhado do meu amor, e no carinho e admiração das minhas crianças. Essas que casaram seus pais. Os que possuem em uma de suas casas. Que os fizeram parte de um lar.  Da qual foram operários e que ali são causa. Não efeito.

Que aprenderam, pela história de suas vidas, pela reconstrução das suas famílias, que o amor constrói lar. Que protege, que liberta, que ilumina. Que se espalha, que contagia. Que faz valer os momentos da vida. Pelo qual vale a pena brigar. Vale o esforço. Com o qual, se fazem famílias de verdade. E que puderam presenciar nascer e crescer no coração da mãe, e do pai afetivo. Da noiva e do noivo daquela noite, e da nossa vida em família.

Se aprenderam isso neste sábado, essas nossas duas crianças, acho que ensinamos a eles quase tudo que importa…

 

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