Precisávamos planejar a chegada dela. Da nossa Antonella. Afinal, era para ser um momento lindo e especial para todos. Para mim, como mãe, já era. Desejava conhece-la desde os planos sonhados a dois, com o meu marido e pai de primeira viagem. Desde quando vi meus filhos desejarem profundamente a mana. Mas sabíamos, desde aquela época, que a chegada de uma irmãzinha na vida de Joana e Joaquim, apesar de muito solicitada por ambos, mexeria com a nossa estrutura. Essa nova, que construímos juntos.
Minha gestação já completava 7 meses e ainda não tínhamos dedicado tempo à compra dos itens para a chegada da nossa bebê da casa. Sem cama ainda, sem armário, sem carrinho, a menina contava apenas com algumas poucas pecinhas de roupas que foram dos manos, mais uns presentinhos pontuais que ganhara das avós no último natal.
De certa forma tinha consciência do porquê das coisas acontecerem assim. Nossa menina chegaria sem ter o que comparar. Assumiria sua posição no quarto da mana e na vida daquela família como quinto integrante. A que chegou depois. Não saberia das possibilidades como única filha, do que poderia ter tido. Pois nunca será única, exceto nos finais de semana nos quais assistirá os irmãos irem ao encontro do pai deles, em outra das suas casas. Mas como a base deles, o lar de referência, fica na nossa casa, imagino o quanto a pequena admirará aqueles manos viajantes, que vão e vem com a autonomia de crianças grandes. Sorrio sem querer quando penso nessa cena, nesse pensamento dela…. Se eu admiro a fortaleza dos meus amores, das minhas crianças e seu lido com a rotina das suas famílias, imagina a pequenina da casa, a caçula.
Só que eles a verão ficar. E no fundo essa é a nossa preocupação mais íntima, que nos distanciou de certa forma das lojas de bebês e nos concentrou nos nossos dois amores que estavam aqui. Na Joana e no Joaquim.
Me vi nos últimos meses construindo cenário para esta chegada, para se conhecerem os três. Falo incessantemente no papel que cada um terá na vida daquela nova menina, como inspiração. No mano lindo, de olhos azuis, forte para esportes e um super jogador de futebol, que possivelmente poderá um dia alcançar a fama com seus talentos. E que a ensinará a comer frutas e saladas frescas, o que é seu forte. A mana moça, aquela morena linda de olhos verdes, passará de mana mais velha a tutora. Um modelo de inspiração. Vaidosa e inteligente como só ela, nasceu mulher, e ali se desperta como uma mãezinha da caçula, a qual desde o início recebe em seu quarto, seus planos e seu coração, abrindo um espaço gigante em si.
Assim tocamos a vinda da nossa terceira criança naquela casa. Na nossa família nova e diferente.
Só que na busca do mundo ideal para a chegada da pequena Antonella, pedi a médica para escolher o dia de seu nascimento. Para que fosse alguns dias depois da data limite dada por quem me acompanha. Em um movimento mútuo, de proteção à Joana e Joaquim, pedimos a uma só voz, eu e o meu marido, a troca do dia de nascimento da bebê, a fim de adequarmos este acontecimento ao calendário do compartilhamento com o pai dos nossos filhos. Para que nada mudasse na rotina deles. Como se isso fosse possível.
Confesso que não nos demos conta do que fazíamos até enfrentarmos o olhar assustado da nossa obstetra. Como médica, mulher e integrante de uma família convencional, nos olhou com estranheza e admiração pelo que tentávamos fazer ali. Como deuses das nossas próprias vidas, queríamos escolher o melhor dia para a chegada da nossa filha. Para que fosse um momento o mais adequado e conveniente possível para nós e para as crianças.
Pode? Pode sim. Foi o que fizemos sem pestanejar, até recebermos o feedback tranquilo e acolhedor da nossa médica e condutora. Com carinho, nos mobilizou deste movimento. Nos fez olhar para mim, gestante pela terceira vez, para a cirurgia que eu enfrentaria novamente, para os riscos, e para a saúde da menina que chegaria ali. No nosso seio familiar. Nos fez levar em conta os critérios realmente relevantes para a definição dessa data, e que em nada tem a ver com a nossa agenda de compromissos, mesmo familiares.
Não foi com menos amor por ela que construímos a sua chegada tão convenientemente…. Mas não me dei conta que neste caso, não lidamos com uma planilha excel. Que se trata de vida. Da chegada de uma. Que envolve natureza, circunstâncias e a própria vontade dela de chegar. Coisas que vão além de nós. Da nossa agenda ou do melhor uso dela. Que esta data seria de Antonella, por toda a vida. E que deve ser segura, tranquila e especial.
E foi então que entendi que, independente da data, Joana e Joaquim receberão neste dia um presente para a vida toda. Sendo final de semana do pai ou não, a terão para sempre ao seu lado, na sua casa, no seu presente e futuro. E aí, como quem larga ao chão uma mochila de livros pesados, respirei e relaxei. Parei de controlar. Mas mais do que isso, olhei nos olhos da minha realidade diferente, da minha família, e a dei a chance de ser normal. Como todas as outras. E aceitei a chegada da minha menina da mesma forma que chegaram os outros, quando e como tem que ser. Sem planejamentos e horas marcadas.
Apenas viver a espera. Deixar meus filhos a viverem, pacientemente. Porque esse amor que vai chegar é nosso, é para sempre e independe do que passamos, do que já superamos como família e da agenda do compartilhamento. Essa que chega é a irmã, uma de três. Três irmãos dessa família inteira que temos, e que farão juntos a parceria de uma vida. E para isso, não há regra, não há data, não há pressa.
Comentários
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