É preciso ter criatividade para ser feliz. Para lidar com o compartilhamento dos filhos, com duas casas, com famílias em cidades diferentes. Posso garantir que só a criatividade vence esse desafio, e vou dizer porquê.
Uma pessoa para exercer a criação, precisa de desprendimento. Avalio esta frase em toda a sua profundidade. Criar alternativas diferentes exige se separar de padrões e crenças comuns, que nos geram limites. Limites às nossas formulações, às nossas capacidades de expansão, aos nossos afetos. Que colocam “teto” nas ideias, nos sonhos. E com limitações grandes mudanças e grandes ideias não acontecem. Ser melhor, amar mais ou diferente, não vê cenário para acontecer. Exemplo: quando me divorciei do pai dos meus filhos maiores, precisei compreender a maternidade e as suas possibilidades de forma diferente, fora da caixa. Precisei me desprender sem me diminuir como mãe, já que para construir uma nova realidade seria necessário compartilha-los. Precisava como mãe, suportar não os ter em muitos momentos. Este movimento doeu, ainda dói às vezes, mas se acomoda com o tempo. Se administra. Pois descobri, na criação de novas possibilidades, outra forma de ser mãe. Tão participativa e intensa quanto antes, mas em um formato diferente. E que por incrível que pareça me fez mais feliz do que antes. Me ampliou como mãe e como mulher. Me fez mais intensa no exercício da maternidade, mais atenta. Fez meus filhos dignos de mais valor. Me fez uma mulher digna da minha própria admiração, e então, da deles. E criou um novo desenho de família e uma nova forma de exercermos nossas funções, todos.
Da mesma forma a realidade de ter duas casas, em cidades diferentes, e duas famílias para atender e buscar abrigo, obrigou a mim e ao meu marido exercitarmos o desprendimento para criar. Para inovar na arte do convívio em família. Para desenhar novas rotinas que se adaptassem às nossas necessidades afetivas, operacionais, e às nossas vontades. E principalmente trazê-las de forma positiva aos nossos filhos. Que também aprenderam a se despedir com frequência dos que amam e a administrar os tempos com cada uma das nossas famílias.
No exercício profissional não é diferente. Desprender-se é base, primeiro passo. Criar grandes coisas envolve mitigar o medo, largar conceitos padrões, estar aberto a mudanças. Passar uma borracha no “jeitinho” que foi dado até agora e abrir uma folha em branco. Sem certo e errado, sem preconceitos, sem cargas e bagagens. Apenas imaginando a infinidade de equações que os números que envolvem o que há entre zero e nove, entre A e Z, ou entre o céu e a terra, podem criar, podem gerar de novo, de cenários e soluções alternativas.
E aí está o New Families. Um projeto que me exigiu exatamente isso. Desprendimento do julgamento, da incapacidade inicial de escrever, de contar histórias, do medo da exposição. E me soltar destas amarras me permitiu voar na imaginação, me permitiu pensar em outro formato de multiplicar experiências, positivas e negativas, de momentos muito exigentes. Do surgimento de novas constelações justamente no âmbito particular da vida das pessoas, que são os afetos. E enxergar este espaço de trato do que permeia o mundo das novas famílias. De entender ser este um ambiente possível.
E aí, com criatividade, esta que me trouxe até aqui, alguém inventa o avião, o telefone, a eletricidade. Alguém inventa o mobile, o automóvel elétrico, os escritórios virtuais. Alguém inventa uma nova família e novas formas de ser presente, de amar. Porque sempre existe uma outra forma de fazer o que é do ser humano, que é viver. Apenas é preciso esvaziar a mente e observar. Observar e sentir. E assim, se melhora a vida das pessoas. Se tem real sucesso na vida. Se constrói felicidade no depois. Do que já foi padrão, única alternativa, e que desprendemos no universo, e reescrevemos com a mais pura, nua e crua criatividade. Esta, filha da coragem, da liberdade e da vontade de cada ser. E que o torna inventor de coisas, ou mesmo da própria história.
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