Nos relacionamos com tudo e com todos. Essa é a vida dos seres humanos. Em todos os seus ambientes, em todas as faces do seu caleidoscópio. E imaginem que em cada uma dessas faces, somos uma parte do mesmo ser. Somos um comportamento, temos um momento.
Como não é de hoje que lanço um olhar carinhoso à família, trarei aqui estas relações. A principal delas, a que orquestra, que orienta o funcionamento familiar, que é o casamento. Essa instituição que tem seus momentos. Que traz o tanto de variações e exigências que este relacionamento demanda de cada um. Que mostra no dia a dia sua capacidade ou não de se estabelecer.
Aqui em casa tivemos os nossos momentos. Muitos e completamente diferentes. E em cada um deles tivemos disponíveis nas nossas sacolas as ferramentas possíveis. Seguindo a máxima de que cada um dá o que pode.
No nosso início éramos duas partes. Por conta de eu já constituir com meus filhos uma nova família, éramos eu e eles em alguns momentos, e eu e o meu relacionamento de amor em outros. Ali, exercia duas faces do meu caleidoscópio na minha vida pessoal, familiar. Era mãe sozinha por um prisma, namorada por outro. Tinha meus sobrepesos em casa por ser uma só, e a leveza da paixão e do namoro quando éramos nós dois. Nada de grandes exigências. Só curtição. E nos momentos nos quais essas minhas duas faces se misturavam, era só parte boa. A visita ao novo.
Exigente ficou quando o amor cresceu. A relação de amor é exigente. Não tem nada de leve. Aqui não falo de jeito nenhum no sentido ruim. Longe disso. Apenas trago que na relação de amor se quer mais. Estar mais perto, mais envolvido, estar junto. E neste passo, se divide rotinas, alegrias e problemas. Se vive junto a vida do outro. Se cria laços importantes de empatia, e aí, se veste a armadura e luta junto.
Não acho que seja regra, pois relações acontecem levando em conta corações e vontades, e em cada encontro se estabelece de um jeito. Mas aqui em casa tudo se misturou. Viramos uma célula. O amor que chegou estabeleceu relação de pai com as crianças, de parceiro, amigo e amante comigo. E mais tarde, de pai de uma filha minha.
Não preciso dizer que todos estes movimentos foram saltos. Todos muito exigentes. Pois da relação leve, pluma, passamos a dividir contas, problemas e conquistas. E passamos a dividir filhos, e a educação deles. O dia a dia cansativo de uma recém nascida e dos efeitos colaterais nos maiores. Compartilhando a imperfeição. Dos atos, do cansaço e da vida em família.
Essa relação ensina… não trago o tema de graça. Administrar uma empresa é fácil quando se experiencia o mergulho nas relações de família e em todas as suas emoções.
Mudou tudo, até o amor. Me vi, em um café da manhã no qual éramos um sentado, acompanhando os filhos maiores na refeição, e outro de pé, embalando a bebê nos braços. Me vi assistindo meu marido lavar conchas de amamentação sujas de leite. O vi mais dias de boné. O vi mais dias em casa. Nos vimos cansados, de pijama mais tempo. Menos sedutores, mais operacionais. Mais parceiros, mais amigos, mesmo nas divergências ocasionais veladas e discutidas posteriormente entre quatro paredes. E o charme, aquele que dominava o início da relação de amor, mostrou traços na admiração de atos delicados da nossa rotina. No cuidado com o bebê e com seus irmãos. Na comida dada na boca durante a amamentação da pequena, no beijo e abraço de corredor em meio ao caos. Enfim, da nossa experiência de licença maternidade juntos.
E aí, quando digo que o amor mudou, falo exatamente disso. Do que se mostrou capaz. Da profundidade que exige do que era paixão, do que era charme, do que era namoro…. Do que era raso. Da transformação a qual presenciou, com os dois pés. E que não conquista esse patamar de relação porque é melhor do que outros. Mas porque, mais uma vez, é consciente, é construído, nem sempre fácil, mas exigente de toda a empatia que a relação de amor pode gerar nos amantes que decidiram casar. E que, no reconhecimento das dificuldades, inerentes a qualquer relação, carregam com leveza e carinho essa relação especial.
Essa, é uma grande conquista. Difícil, mas de linhas que escrevem lindas histórias. Pois constrói o patrimônio mais valioso dos seres humanos de coração doce. E esse traz riso frouxo, de verdade. E genuína felicidade.
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