Há quem diga que o gestor da empresa para a qual trabalhei nos últimos sete anos, jamais esteve preparado para uma sucessão. Há quem diga que eu já deveria ter deixado este plano profissional para trás há pelo menos dois anos. Outros, há cinco. Há quem diga que perdi vida, perdi tempo de empreender em habilidades minhas, em oportunidades que surgiram no caminho, por conta dessa tentativa. Há ainda quem pense que emburreci neste processo, ou pelo menos me desgastei um monte em nome da minha determinação.

Discordo. Sucessão não é um processo fácil e me senti encorajada a cada minuto meu nessa tentativa. Me senti vivendo experiências profundas de compreensão do outro. Na divisão de espaço. Na co-criação que experimentei naquela oportunidade. Acho que ganhei quando tentei. Que aprendi no esforço de fazer dar certo. E bom, este foi o meu tempo. Foi o trajeto que precisei caminhar até a porta que leva ao meu recomeço. Que me fez pronta para isso. Que me colocou no ponto exato da compreensão do fim real de um ciclo. Que ascendeu a luz de mais um túnel… Como em outros fins. Como aconteceu há quase quatro anos, no final do meu casamento com o pai de dois dos meus filhos. Quando, inevitavelmente, percorri o tempo que percorri para chegar àquele fim.

Trago aqui recomeços e tempos. Compreensão do que acontece com a gente nestes processos de mudança e quanto tempo isso leva. E que é tão seu quanto o seu CPF.

Passei há pouco de novo por um. De novo. A primeira sensação é de se perguntar por que fins assim, que mudam tão drasticamente a minha vida e da minha família. Que mudam tão profundamente a mim. Por quê? Por quê outro recomeço? Por quê de novo um processo tão exigente e estomacal, e que envolve transformações disruptivas? Pois bem, olhei para trás e encontrei um tanto deles. Desses recomeços com os quais me deparo nos caminhos que escolho em alguns momentos. Que trago aqui porque compartilho o tempo que é meu. Este, que cada um tem o seu. Que faz apertar o sapato em mim, diferente do que aperta em você. E que deve ser respeitado principalmente por você mesma.

Em 2002, fui demitida pela primeira vez, por um líder que se tornou um profundo amigo para a vida. A empresa era uma multinacional, que após dois anos de altíssimo investimento, reduzia naquele momento a sua operação para um quarto do tamanho. Lembro que éramos duas opções para o desligamento na sala, e o nosso líder, com franqueza e respeito, nos colocou que uma não ficaria. De imediato olhei para ele e me coloquei à disposição. Gostava tanto da colega que virou uma verdadeira amiga, que me pus à frente dela, em sua defesa. Não pensei, apenas me sentia momentaneamente mais preparada para o golpe.

Hoje percebo que desde lá atrás eu já tinha essa pré-disposição à disrupções. A recomeços. Não isenta de drama, não à margem do susto ou da dor. Mas resistente. Com uma resiliência que era da minha natureza.

E assim foi se traçando o meu caminho….

Em 2003, vivi um acidente de carro grave às vésperas do Natal, em paralelo com o início de uma grande oportunidade profissional que eu já almejava há anos, resultado de uma seleção bastante exigente. Precisei me erguer e entrar bem e de cabeça no meu sonho profissional, mesmo devastada por aquele acidente. Foi a dor, frente a uma janela que se abria. Foi a necessidade de levantar, motivada por um sonho.

E assim foi quando saí da empresa GVT, de telefonia, atrás de outros planos. Da Embratel, atrás de um sonho maior ainda. Ou da VIVO, por medo de uma transferência para São Paulo, em meio ao desejo de engravidar. Enfim, quando fiz, em tantos momentos, escolhas por mim, em respeito aos meus desejos e no meu tempo. Quando me senti pronta, levantei e mudei.

Pois bem. Não acho que se perca tempo na vida assim. Mudando, se ouvindo, retornando passos para atrás, indo em frente.

Vivi atrás deles, dos meus propósitos, em cada caminho pelo qual percorri. Vivi atrás da minha fé em cada projeto, e em cada pessoa. Em cada relação de afeto. Até quando elas mudaram. E quando esse dia chegou, no meu tempo, aceitei. Demorado para uns, rápido demais para outros. Mas meu. Meu prazo, meu tempo. E aí ficou mais fácil compreender. Assim. Com dor, mas com paz. Por que o entendimento do esgotamento das alternativas estava comigo. E assim me acostumei com eles, com finais feitos no tempo que era só meu, que exigia o meu coração. A respeitá-los e reverencia-los. A estes ciclos tão humanos que podem se encerrar. Que na sua finitude, exigem mudança, enfrentamento do medo e força não para continuar, mas para recomeçar. Dentro ou fora, mas com respeito. Principalmente a si mesmo.

Assim, dei mais um passo para fora do caminho a princípio previsto. Desses que pessoas dão a todo o tempo. Que te direcionam para outro lado, outra estrada. Quiçá para onde irá levar, desde que consciente e renovado em sonhos, em fé. Pois se alimentado assim, não perde tempo. O vive. Tenta. Nele aprende. Compreende. E o guarda no passado com carinho, com a sensação de trabalho feito.

Porque mais do que pragmatismos, o tempo e os sonhos são feitos de emoção, de fé. E enquanto eles existirem, tudo vale a pena.  Desde que, feito no seu tempo.

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