Ok, eu me apego a roupas e sapatos… não vou negar. Sou vaidosa e criativa, por isso gosto de coisas e espaços. Gosto de lugares e fotos. Da minha casa. Tenho coisas que guardo há vinte anos no armário, pelas quais tenho verdadeiro afeto. Porque me lembram situações importantes da minha vida, boas ou ruins. Como troféus. Tenho uma camisa que comprei em 2001, quando morei nos Estados Unidos, que não consigo me desfazer! Usava com uma sainha branca de verão, e me gostava tanto naquela versão, que mesmo sem usar nos últimos cinco anos, não tenho coragem de me desfazer. Nem dela, nem daquele momento bacana da minha vida comigo mesma.

Gosto de roupas antigas, de brechós. Usar roupas com alguma história me arrepia. Sempre gostei de misturar o romantismo do passado com peças modernas, dando um ar de “roupa seminova” com estilo próprio. Ganhei uma vez as roupas super transadas da mãe de uma grande amiga, quando ela faleceu. Naquele momento triste ela lembrou de mim e do meu gosto eclético para vestir. Dos meus apegos. E me deu uma enorme sacola que guardo com o maior carinho e, vez ou outra, monto um traje inusitado.

Bom, de uma forma geral, tenho alguns apegos sim. Mas mais a momentos e pessoas. Mais a histórias. Traduzidas nessas “coisas” que mantenho comigo na minha jornada.

Por isso, não tem final de ano para mim que seja feito só de alegria. Fico triste em desgarrar de momentos felizes que passam. De dias somados de vida, da idade vivida naquele ano, do valor de horas realmente bem investidas, valiosas para mim. De olhares. De trocas de amor com pessoas importantes. Como se estes episódios fossem vivos, todos. Seres. E isso mexe comigo um monte. E eu sinto falta deles quando o ano vira.

Já lamento perdê-los. Os de 2018. Mesmo este, tão exigente para mim. Em casa e na vida lá fora.

Amo o Natal. Para mim, não existe tristeza nesta data. Sempre senti renovação neste período, desde criança. Como se a vida estivesse me dando uma segunda chance a cada 24 de dezembro. Como se ela me entregasse uma caixa velha, com uma chave, e nela eu tivesse a oportunidade de, nesta data mágica, colocar todas as dores, todos os momentos dos quais não me orgulhei de mim, todos os erros, e ali os chaveasse. E depois, colocasse a chave fora. Já era.

Naquele momento faria uma limpeza espiritual, tirando todos os ressentimentos, os sentimentos e momentos baixos, os encaixotando para sempre. E assim, fazendo espaço para o tanto de emoções boas que se renovam e me invadem no Natal. Se eu fosse resumir, os mais fortes para mim seriam o amor e o perdão. É nessa época do ano que olho nos olhos de quem me magoou com paz. É quando estabeleço tempos gentis com as minhas feridas. Me deixando inundar pelo amor de família, pela valorização do meu eu como um presente divino, pela luz das velas de Natal, pelas canções natalinas. É quando só sobra o que emociona.

O resto, eu confesso. Perdoo. Entrego para a caixa. Subscrevo. Pois não sou de guardar nada ruim, mesmo. Não por eu ser um ser especial ou diferenciado, longe disso. Estou em plena luta pela evolução. Mas tenho memória curta e pouca perseverança no que tira a minha energia. Preciso de boas energias para manter meu corpo de pé e são. Então, deixo o Natal me lavar e levar aqueles sacos de lixo velhos e pretos, que só ocupam espaço, embora. E faço a minha faxina emocional.

Só que aí vem o dia 26 e só sobraram sentimentos bons. Daquela noite mágica, vezes com a família completa, vezes tomada pela saudade dos meus pequenos. E aí, a sensação de me despedir desse pedaço de vida, do ano corrente, me traz uma certa depressão. Um lamento. Pois encaro a despedida do que já foi, do está feito, do que não tem volta. Para dar lugar a novos compromissos e desafios. Novos sonhos para serem buscados. Novas etapas na evolução do compartilhamento dos meus filhos com o pai deles, o que é sempre tão exigente. Da criação dos meus pré-adolescentes. Do crescimento da minha bebê, que logo completa um ano. Do amadurecimento do meu casamento que, a cada ano, abandona uma etapa do game e me coloca frente a novas demandas e obstáculos, os quais com tanto cuidado me empenho em vencer.

Um monte de coisa que pode se tornar bacana se tiver meu investimento, minha presença, meu trabalho duro e atento. E que para ser, precisa deixar as sacolas de 2018 para trás. Trocar as malas. Refaze-las, pois a viagem é outra.

Se agarrar no que foi bom é a mais fácil e disponível bengala nos dias de tempestade, e o meu espirito consciente sabe disso. O passado a gente não muda. Está feito. E se foi bom, então ponto final. Aquela cena do filme da vida está garantida. E quem vive de histórias, como eu, adora lembranças. Por isso meu guarda roupas cheio. Guardo milhares delas ali. E por isso meu pontinho de tristeza no Ano Novo. Porque para andar para frente, para crescer, preciso deixar o que passou para trás. Nas lembranças. Para visitas leves, sem o peso de qualquer responsabilidade. Deixando esta brincar no ano virgem que chega. Neste que é uma grande massa de modelar, pronta para receber as minhas mãos. Com intenções claras, com determinação, dominando o cansaço da mãe de três e da mulher que não só mata leões por dia, mas a muitos, alimenta. Pois assim é a vida. Nem tudo a gente pode matar. E ficam muitas questões a administrar.

Te convido a, junto comigo, se desafiar. Cada uma guarda no seu íntimo os seus apegos. Eu pego os meus e você os seus, e vamos juntas guarda-los em uma linda caixa fechada com um laço de fita leve. Como seda. Fácil de abrir, quando quisermos revisitar o passado gostoso. O ruim, colocamos na caixa velha do Natal, aquela milagrosa, presente de Deus, das chaves que desaparecem. Eles estão marcados na nossa alma e não precisam de visitas para serem lembrados… Já fizeram a sua parte no ensinamento de algo importante na nossa vida.

Aí vamos usar este momento de ócio de forma criativa. Boa com a gente mesma. Com o próximo, com os projetos que realmente fazem sentido para o nosso ser. Com amor pelo nosso corpo, pelo nosso espírito, pela nossa casa. Com festa. Com uma bela recepção para o que está por vir. Com gana de buscar o que é nosso, do nosso desejo mais profundo. Pois está aí mais uma chance dada pela vida. Mais um recomeço.

Há quem diga que o dia primeiro do ano é um dia normal, como qualquer outro. Com todo o respeito aos céticos, ele é a vida em novo ciclo. O calendário contando o tempo de novo, do dia um. Uma oportunidade simbólica de darmos um start em novos projetos, no que queremos ser. Buscando a nossa melhor versão na vida. A mais generosa com a gente mesma e com os nossos sonhos. E não há nada mais otimista nem mais justo. Ninguém merece mais.

O faço com vocês, daqui da minha cadeira. Pois juntas, é mais fácil. Com amor, um feliz 2019.

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