Me perguntou outro dia, uma seguidora do projeto, como eu encontrei o amor de novo. Como fazer acontecer o recomeço afetivo de verdade, este que acontece muitas vezes na estrutura da nova família, e quem sabe até com celebração e frutos, como aconteceu aqui.

Este questionamento veio a mim há algum tempo, e se fez presente em outras vozes que seguem o New Families. Pois todo mundo deseja recomeçar. E quase todo mundo, com um novo amor, já que o ideal de reconstrução muda a cada “Fenix” que encontro no caminho. Mas independentemente da posição em que se encontra e da pseudo consciência do que isso envolve, quase todos querem um final feliz no amor. Um final feliz para os filhos que passaram junto, pelo processo de dissolução da sua família original. Todos querem uma vida de novo, o abraço companheiro de jornada, a parceria para a nova mulher que nasce. Essa, que tem novos desejos, que quer se levar mais em consideração, e que deseja um amor romântico que acolha sua alma cheia de feridas, mas ainda viva.

Custei a me sentir apta para escrever sobre minha íntima relação com o amor após meu processo de divórcio. Após me ver só de novo. Após a cama vazia, e logo cheia das minhas crianças, que rapidamente ocuparam o espaço que ficou, como forma de nos aconchegarmos e nos fortalecermos para enfrentar a nossa nova história. Mas principalmente porque não sabia muito o que escrever. Sobre o amor que, a princípio, simplesmente aconteceu para mim. Que a princípio, enxergava como um privilégio, uma benção. Sei lá, por talvez eu merecer, já que sempre tive muito amor para dar.

Só que as coisas foram ficando mais claras com o tempo. Com a vida do amor no meu dia a dia. Assistindo ele acontecer e crescer a cada passo adiante. E mergulhada neste processo de cura que a escrita representa para mim, a cada passo a chegada do amor novo na minha vida faz mais sentido, tem mais porquês. Por isso divido agora com vocês, espero que perdoada pela demora no trato do assunto.

Sempre fui uma mulher cheia de afeto. De relações de amor intensas no que permeava a minha pessoa. Sempre, independentemente do outro, pois para mim, vital era amar. Depois avaliava se também era amada na mesma intensidade. Aparentemente, parece estranho, considerando que o amor acontece em duas vias para um relacionamento se estabelecer de forma saudável. Mas a realidade é que entendo que o amor que eu tenho em mim é tão valioso, que se não for correspondido, não o merece. E assim tratei a questão na vida.

Amo muito, mas quero amor honesto em troca. Esse, romântico. Que demanda retorno, que se alimenta dele para existir e crescer. Pois ele se baseia na admiração. Então, se não tratado de forma valiosa também pelo outro, deixa de ser admirável. Cai por terra. Tão diferente do tipo de amor que remeto aos meus filhos, quando deles não espero nada.

Pois bem. Quando se deu o meu divórcio, no bendito túnel no qual me encontrava, não existia amor romântico dentro de mim. Minha gaveta desse tipo de sentimento estava vazia. Me sentia vivendo de arrasto, sem energia.

Estar amando é importante para mim, e quando não acontece, tira a minha vida, a energia da minha alma. Não acho isso egoísmo ou vaidade. Divido com vocês por entender que este é um sentimento humano, vital. Pois somos seres concebidos para trocar. Para viver com o outro. E além de ser uma universidade para a vida, uma jornada de autoconhecimento, de empatia e de generosidade, amar simplesmente faz bem para o corpo e para a alma. Não há como negar. Quem ama, sabe.

De verdade? Nos eleva espiritualmente, já que vivendo o amor entendemos o processo que nos une aos outros, que vivem conosco nesta terra.  Entendemos do amor construído, alimentado, que exige trabalho da gente. Que exige evoluir nas nossas limitações. Pois amar filho é fácil. É como amar a nós mesmas, pois são a nossa extensão. Mas se entregar ao amor de outro ser, livre, estranho, dá medo, não é? Porque esse pode acabar, pode te deixar antes que você o deixe. E por isso exige coragem e abertura.

Cheguei ao ponto para evoluir com a minha história. Vazia de amor romântico, tão vital na minha natureza, e para o qual dou tão elevado valor, me vi aberta. Quando o meu casamento com o pai de dois dos meus filhos acabou, a primeira sensação que tive em meio ao meu sofrimento de luto pelo fim daquele projeto, foi a de merecer amar de novo. De me sentir realmente e profundamente merecedora, como mulher, de vida para a minha alma. Além dos meus filhos. Para mim. Para o meu bem-estar. Porque do deles, eu já cuidava vinte e quatro horas por dia. Mas queria para mim. Simplesmente porque eu tinha o que dar, o que trocar. E jamais senti que o fato daquele projeto de família ter chego ao fim, selaria o final da minha vida como mulher. Ao contrário, me sentia motivada a viver. A cuidar da mulher aprisionada pela falta do amor romântico que tinha por dentro. Entendendo que aquela disrupção significaria o primeiro passo em direção a construção da minha felicidade no depois.

Pois bem. De coração, corpo e mente abertos para o amor, me sentindo realmente merecedora da reconstrução afetiva da minha vida, pude realmente senti-lo quando ele apareceu por perto. Meus sensores estavam atentos. Percebi sua aproximação sutil dos pelos do meu braço ao meu estômago. Permiti que embrulhasse meus pensamentos, meu apetite e o recebi, cheio de incertezas, de braços abertos. Não caindo na armadilha de me acovardar frente aos tantos obstáculos que teria de superar para vive-lo, internos e externos. Ou não teríamos nenhuma chance. Morreríamos na praia, ou na casca, como se diz por aí.

Conheci o meu marido em uma feira de trabalho em Nova Iorque. Nos afeiçoamos, iniciamos uma relação honesta de amizade e admiração, e nos acompanhamos de longe a partir de lá. Passei pelo meu processo de divórcio, e naturalmente, ele se aproximou e me amparou. Morávamos em cidades distintas e uma relação de amor não parecia viável. Estávamos abertos para ele, e então nos apaixonamos. Transbordávamos os dois.  E a distância não só não nos atrapalhou, como nos impulsionou a construirmos uma vida juntos, onde pudéssemos fazê-la. De novo, estávamos abertos. E quando se está aberto, de verdade, não existem barreiras.

Ele deixou sua vida em Santa Maria para estruturar lar em Porto Alegre, ao meu lado e dos meus dois filhos, mesmo mantendo idas e voltas semanais por conta do trabalho, sediado lá. Construiu relação com as crianças com cautela e natural dificuldade, como em qualquer nova família, mas com energia. A do amor aquele, para o qual estávamos ambos abertos desde o início. Pois se havia dificuldade na vida de qualquer família tradicional, porque seríamos agraciados pela facilidade das coisas? Que nada. Vivemos dificuldades, conscientes do desejo de viver o amor de verdade, e confiando na presença dele na nossa reconstrução como viga principal.

O resto, vocês já sabem. Somos apaixonados até hoje, e já vai fazer quatro anos. Talvez por termos a consciência de que este amor lindo e romântico que temos demande de atenção, de alimento, e que somos sim merecedores. Pois colocamos sempre muita energia e trabalho nisso. Talvez por sabermos que merece investimento, pois alimenta nossas almas e nos torna pessoas melhores um para o outro e para fora. Nos faz melhores pais. Nos dá energia para buscar mais na vida sem nos desconectarmos de nós mesmos, sem maquiarmos o amor romântico ou desmerece-lo como se não precisássemos dele. Pois ambos acreditamos de dá para viver sem, pois já vivemos essa realidade. Mas não é legal. Não movimenta a gente do lugar confortável de ser um. De lidar apenas consigo mesmo. De não querer de fato alguém perto.

E se queremos tanto para as nossas vidas, realizações e conquistas, tudo começa na coragem de amar, abertamente. De se permitir senti-lo, esse sentimento divino, nessa aventura que é se relacionar com alguém. Vivendo o presente e nele construindo o futuro do amanhã. E amanhã o de depois, e assim por diante.

Pois como sabem os integrantes das novas famílias, não há garantias na vida. Apenas intenções. E aqui, trabalhamos duro nelas.

Desejo que você esteja sempre aberta para o amor. Com a coragem de quem está nesta jornada para usufruir de tudo de mais intenso e bonito que ela puder proporcionar. E atenta a si e a essa intenção.

Pois como ouvi outro dia na propaganda de final de ano do banco Itaú, “a pessoa certa pode esbarrar na gente todos os dias. Quem não estiver buscando o amor, não vai entender o que o corpo diz.”

Entende?

Um beijo.

Comentários

  • Marcela 30 de janeiro de 2019

    Querida Juliana,

    Você acha que tem um “tempo” ideal para esse novo amor aparecer?
    Talvez tenha algum período para o luto? Para enterrar o antigo casamento e se entregar em uma nova relação?
    Ou, na sua opinião, se estivermos abertas o amor pode aparecer e florir a qualquer momento?

    • Juliana Silveira 31 de janeiro de 2019

      Querida Marcela, obrigada por escrever:)
      O tempo é relativo, como se diz por aí. Não existe tempo para sofrer, nem para ser feliz. Cada pessoa demanda de um período para compreender e racionalizar os acontecimentos, as mudanças, as perdas. Meu luto, por exemplo, aconteceu durante o processo de reconhecimento do fim do meu casamento. Sofri muito para entender que já tinha dado tudo naquela relação, até me movimentar. E efetivamente me separar. Quando tudo estava acabado, eu estava bem. Então quem define este tempo é você. O teu coração e a tua disponibilidade verdadeira de receber outra pessoa, de amar de novo. Sem culpa. Acreditando que merece. Pois aí, segura disso e da verdade do que passou, estarás leve e aberta para as novas possibilidades que a vida pode te apresentar, e por isso, interessante e viva. Pronta para reconhecer o amor quando ele chegar. E ele anda por aí:)
      Um beijo, querida. E boa sorte na construção da tua felicidade no depois <3.

  • Fernanda 13 de março de 2019

    Meu ex se separou, falando que eu não conseguirei refazer minha vida, pelo fato de ter 2 filhos, e viver muito em função deles. E realmente é difícil, uma vez que o pai deles mora em outra cidade, tudo fica mais pesado para a mãe. Sem falar que os homens correm quando sabem que tem 2 crianças no caminho.

    • Juliana Silveira 20 de março de 2019

      Fernanda, olá:) Não correm não… Importante compreenderes que se acreditares nisso, é assim que eles irão te enxergar. Como uma relação inviável. Conheci meu marido sendo uma mulher com dois filhos. E nossa relação se viabilizou por eu sempre acreditar no valor dos meus pequenos, no meu como mãe e principalmente no meu como mulher. És capaz de tudo, tenho certeza. Precisas apenas te fortalecer e aos teus valores e habilidades, assim como com relação a tua maternidade, que é um presente e será também para quem chegar. Te desejo tomada de consciência sobre o teu potencial e felicidade no teu depois. Também te indico o texto “Mulher separada com filhos” deste mês. Um beijo carinhoso, Juliana.

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