Vou começar dizendo uma frese que li outro dia: que felicidade é um como, não um o quê. É um estilo de vida, uma decisão para si. Então, mesmo que a situação seja aparentemente exigente, ou dona de qualquer outra qualificação como exaustiva, realmente difícil ou solitária, ela ainda pode ser cenário para momentos de felicidade, ou gotas dela em alguma hipótese.

Está, por exemplo, na forma leve com a qual podemos olhar cada cena e rir daquela posição desconfortável. Daquele desafio. Que mesmo trágico, tem sua comédia própria e a sua luz. E é assim que escolhi levar a vida nos últimos anos. Como uma otimista. Leve. Que não sublima o ruim, de jeito nenhum, mas que chora e ri na cara dele. Que não lástima o inevitável, nem o que até podia ser evitado, mas que, naquele momento, não fui capaz de fazer melhor. Sem lamúrias. Olhando para frente. Pois se constrói presente com o que se tem hoje, disponível… e se não se tinha ontem, paciência. Com choromingo não se constrói nada e também não se volta no tempo. Pois ele apenas trava a gente, estaciona e gera pena de si mesma ou sensação de incapacidade. E eu, honestamente, não acredito mais nisso.

Com as exigências as quais fui submetida nos últimos anos, passei a compreender as minhas dificuldades e do outro de forma diferente. Quando não temos mais para dar num determinado momento, por falta de ferramentas ou de uma clara compreensão das coisas, agimos como dá. Fazemos o possível. E naquele momento, é importante lidar com isso, com essa coisa tão humana que são os afetos e capacidades, e julgar e condenar menos. E assim, o meu estilo de vida se tornou o de viver feliz no meu trajeto, sem almejar o tempo todo futuros e idealizações incertos.

Desenvolvi a habilidade de reconhecer meus momentos mais exigentes e remedia-los com várias doses diárias de prazer, de gratidão pelo que tenho e de sonhos que dependam de mim. Me tornando então a Juliana essa, que é esposa do Leandro e mãe da Joana, do Joaquim e da Antonella. Que trabalha em mais de um projeto, com propósitos completamente diferentes, que desafiam a mim e ao meu tempo. Que acompanha os três filhos em suas rotinas de forma presente, por escolha. Que lê e estuda depois das 22h30, quando todos já estão na cama. E que, do seu jeito, hoje dá conta.

Pois bem, vou contar melhor para vocês a experiência que tenho vivido de aceitação das minhas capacidades, dos momentos felizes que tenho me permitido viver nesse caminho e o mais importante: do valor que reconheço no que faço. Nos meus esforços e em mim mesma. Nessa mulher que construí e que parei de criticar. Que passei a amar.

Assim, quero falar de uma rotina nova, que vimos construindo na minha casa há um ano. Desde o nascimento da nossa bebê, terceira criança da casa, minha terceira filha. Quero falar da avalanche de aprendizados e desconfortos que vivemos com este novo cenário, mesmo embebecido pela felicidade genuína de tê-los, os três. A casa cheia. Mas muitas vezes quase sem um minuto de paz.

Imaginar que a vida é um algodão doce, feita só de açúcar e prazer, é o pior dos estilos de vida que se pode escolher. Amigo íntimo da frustração, da decepção com os outros e consigo mesma. Incompatível com a felicidade genuína, a qual só pode ser reconhecida a partir de uma conexão importante da gente com as nossas capacidades, esforços e com o que ainda não conseguimos fazer melhor. Nesse cenário, qualquer pequena evolução é feliz. Qualquer ato positivo de alguém, e que se aproxima da gente, surpreende. Encanta. Faz feliz. E assim, com cada movimento singelo, é que executamos na nossa rotina e encontramos nela felicidade.

Minha vida de mãe de três filhos, que administra o compartilhamento de dois deles e suas nuances, que tem o marido fora por três dias na semana, à trabalho, que se propôs a fazer crescer e tocar projetos que exigem produção, reflexão e energia, e ainda, ser presente no trabalho afetivo com quem eu amo, é um grande desafio. Que observo sempre de perto para não perder a oportunidade de me valorizar nesse processo. Porque nesse contexto todo o qual escolhi conscientemente, faço o que posso. Melhor do que ontem e pior do que no futuro, já que venho buscando evoluir. Mas nesse caminho tenho várias faltas e foi quando aceitei que elas existem na vida de qualquer um e que eu não sou menos mãe ou mulher por isso, meu estilo de vida feliz começou a funcionar.

Segunda-feira dessa semana eu estava em casa sozinha com os três. Minha rotina normal começa no café da manhã com as minhas crianças, depois os encontro em casa para o almoço do dia a dia, levo e busco na escola, acompanho os banhos, os temas, monto a janta e brinco no tapete com a bebê antes de recolhe-la para dormir. Depois eu volto para a sala para um momento com os maiores, um filmezinho, uma leitura, uma meditação conjunta, a qual começamos há pouco, e uma oração. E assim se repetem os nossos dias. Alguns sozinha com eles, outros na parceria do meu marido. Só que como eu comentei, três dias fico só. E neles, administro como posso três crianças em fases completamente diferentes, e a mim mesma, e os momentos que preciso para mim, para respirar. E a segunda foi um exemplo da tragicomédia dos meus dias, que são tantos.

Joana fazia um tema sobre a árvore genealógica da sua família. Considerando a peculiaridade da nossa, com pai, pai afetivo, mãe, namorada do pai, três avós e avôs, vocês podem imaginar que ela precisou de mais mãos para aquela construção. Joaquim resolvia problemas matemáticos os quais demandavam a organização dos resultados finais em ordem crescente. Antonella não me via desde o almoço corrido e o café da manhã, então queria a minha presença no seu tatame ou me acompanhar, pendurada na minha cintura, nas minhas produções maternas e domésticas da noite. Os três queriam a mãe ao lado. E como faz para atender a todos e ao mesmo tempo se livrar do salto alto e da alfaiataria do dia?

Mágica? Não… bom humor e atenção.

Na minha posição atrapalhada só vi alternativa no envolvimento deles naquele meu momento enlouquecido. Enquanto, do chão, atirada com a bebê, respondia a contas matemáticas conferidas de cabeça, validando um menino faceiro pelos seus acertos identificados pela mãe. Quando, com meu “chaveirinho” pendurado na cintura, servia o jantar e construía a família rica em integrantes e tão positivamente diferente em afetos, da árvore da Joana, que sentiu sua constituição familiar acolhida e simpática no papel. Quando cantarolei “Coco Melon” para a alegria e dança feliz da Antonella, entre uma conta do mano e um galho da árvore da mana.

Coisas que a gente faz quando quer fazer parte da vida de quem ama isento de peso. Pensando na diversão de ouvir suas posições espertas e surpreendentes e ve-los felizes ao invés de olhar apenas para o trabalho pesado. Mas mais do que isso, se propondo ali, em um ambiente de esforço e multiplicidade de tarefas, curtir o momento e ser feliz na gente. Na mãe ou mesmo na mulher sem salto no chão, capaz de, após um dia de trabalho, brincar e relaxar. Dar e receber. E não só dar esforço no automático sem enxergar os movimentos singelos de cada um na direção de construir um momento juntos.

Ali no chão, pensei que, vez ou outra, queria a rotina do meu marido, de três dias estar fora e quem sabe cuidando somente dos meus projetos e de mim. E me dei conta que, se eu realmente quisesse isso, poderia fazê-lo. Abriria mão de um momento ali, uma tarefa aqui, um acompanhamento acolá. E que até poderia ser bom para mim. Mas por algum motivo, venho escolhendo estar ali, toda atrapalhada. Esquecendo vez ou outra de comprar um livro para um, de medicar o outro ou de mandar arrumar uma calça furada, mas ali. Inteira. E aí me sinto livre. Porque é escolha e porque ali, de um jeito ou de outro, sou feliz. Considerando que me sinto também apta para fugir por alguns dias, para um lugar longínquo e não sabido, desde que os deixe atendidos, para atender a mim, sem culpa nenhuma.

Talvez porque saibamos, quando vivenciamos estas cenas e fazemos o melhor com elas, que estamos uns nos outros. E que assim, podemos ir e voltar. A vida toda. Livres e juntos.

Sobre a equação trabalho + rotina com três filhos + marido + eu = felicidade?

Sim, é um resultado possível. Sem idealização e não o tempo todo. Mas com trabalho consciente, acontece mais vezes do que eu imaginava possível. E o melhor, é que acontece no meu presente. Neste que é o único que eu tenho domínio sobre e no qual faço o melhor que eu posso. Hoje, admirada, não levantando as minhas incompetências. Mas o meu trabalho nisso tudo. O da Juliana. Que decidiu pela felicidade no como. Nos meus caminhos, no dia a dia.

E o futuro? Pouco me importa. Pois dele, só Deus sabe:)

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