A expectativa é amiga da frustração.

Essa frase foi minha guia por muito tempo. Escuto e leio isso por todo o lugar também, então essa virou uma verdade para mim. E na ausência de uma reflexão maior sobre. Mas isso até eu me dar conta, pelas minhas vivências, que na verdade essas duas não são tão amigas assim.

Amiga da frustração é a idealização. Ela como base, gera expectativas com quase cem por cento de chances de se tornarem frustrações doídas e sensações de fracasso. Então, a culpa não é da expectativa, essa que virou minha amiga agora. Como aconteceu com a dor em outros tempos.

Expectativa é esperar algo de alguém ou de alguma coisa. Aguardar não exatamente um retorno, mas efeito, reação. E se ela for criada de uma ilusão, de uma idealização, ela naturalmente é ruim. Mas e quando é sadia, fruto de um investimento real, é ruim tê-las?

Não entendo como viver sem expectativas. Em tudo que invisto tempo, afeto, dinheiro, lealdade, amizade, eu tenho expectativa. Eu espero alguma coisa. Eu enxergo o bom naquilo. O progresso, o crescimento, a conquista. Dizer o contrário seria hipocrisia minha, ou no mínimo falso. E ainda por cima acho que seria de um altruísmo bobalhão. Pois até Jesus Cristo escolheu os seus discípulos com base em seus potenciais, e deles esperou. O que imagino que se trate da multiplicação da sua fé, do seu valor. Um presidente, por exemplo, quando eleito a governar um país, espera resultados como fruto do seu planejamento, seja ele qual for. Um esportista quando treina incessantemente e organizadamente para uma olimpíada, espera. Evoluir na sua marca, na sua classificação, ou quem sabe trazer uma medalha para casa. A gente, quando separa o lixo, economiza água no banho ou ajuda a quem precisa com o que pode, também espera. Um mundo melhor, quem sabe.

E uma mãe? Quando abdica de tantas coisas para servir à maternidade, à si e aos filhos neste novo papel, também não espera? Eu, como mãe de três, confesso que sim. Que encaro esse momento como um investimento neles. Na sua consciência física e emocional. No seu senso de família, de amor pelo outro, de segurança afetiva. E então espero que com esse meu investimento eu possa tornar a vida deles melhor. Com uma maior capacidade de autopreenchimento. E em mim, a vivência da real maternidade. Essa que me inspira desde criança. A qual não quero perder por distração ou inversão de valores. É a minha expectativa, pelo menos, ou não faria sentido o meu movimento.

E como mulher? São tantos os investimentos na relação de amor! Vai dos físicos e aparentes aos olhos, aos de esforço na compreensão e empatia com o outro. No desejo de fazê-lo sentir-se amado. Na expectativa de que? De que possamos construir um longo caminho juntos, por essa relação valer a pena.

Então eu espero. Na impossibilidade de ser diferente.

Só que há algum tempo tenho exercitado a quebra de idealizações. Dessa que, como base, torna as esperas nocivas, frustrantes e ruins.

Vivi uma vida delas. E hoje tenho a consciência de que elas cavaram os poços mais fundos na minha história. Construíram na minha jornada túneis longos e escuros. Ideais que me engessaram, me tiraram poder e alternativas. Me condicionaram e quase me fizeram acreditar que a vida e a felicidade tem uma única receita.

Acreditei tantas vezes no romance pelo romance, no amor eterno, independentemente do trabalho afetivo investido nele, no “até que a morte nos separe”, pelo simples fato de me sentir aparentemente atendida no formato e no cumprimento das etapas impostas pela vida em comunidade, que criei expectativas em areias movediças. Me enganei quando achei que vida em grupo, em comunidade era isso. Um grupo de iguais. E nessa idealização, sofri quando me vi diferente, em outro formato, e, portanto, fora do grupo, fora da minha organização. Não pertencente. E então, só.

Me iludi quando acreditei que uma vez bem casada e com lindos filhos, minhas lacunas de mulher estariam cumpridas. Me equivoquei ao achar que eu seria sempre a mesma, que as minhas demandas e sonhos não mudariam nunca, e que a vida poderia ser como um jogo de tabuleiro no qual, uma vez na última casa, ele estaria vencido.

Errei quando não prestei atenção nas pessoas. Em mim e no meu entorno, por achar que a vida estava ganha. Quando como profissional, acreditei poder ser apenas uma coisa e, naquele cenário, sentir que a vida era só aquilo mesmo. Que existiam limites para mim. Pessoas com sorte e outras sem. Vidas para serem boas, e outras fadadas a não serem tão boas assim.

Em fim, idealizações que me levaram a quase quebrar. Quebrar na vida. Como mãe, mulher e profissional. Mas digo quase, pois me dei conta e não me entreguei. Enxerguei, de repente, pelos momentos de dor, além. A gente tem força onde não sabe e aí, os utilizei, esse tanto de túneis escuros de frustração e dor, para aprender e reforçar quem eu sou, o que eu realmente desejo e estabelecer olhares realistas sobre a vida.

Então está tudo certo. E neste caso, expectativa é uma coisa boa para mim, desde que amparada no real, e não no ideal. No olhar de verdade para as coisas e para as pessoas. Sobre o que realmente enxergamos, sobre o que não faz vista grossa nem finge que tudo está bem.

A expectativa boa é gerada no mundo dos honestos. Dos corajosos. Dos que se propõem a olhar de verdade o outro, e com esperança. E aí, se espera o melhor. Como um bom trabalhador das construções da vida e um bom otimista. Que pode até se frustrar com uma expectativa sobre o que não deu certo, o que é da vida dos humanos, já que em nada temos garantias. Mas que é consciente do que está vivendo. Do que é e do que não é. Do que vale uma aposta louca, suicida e aventureira, ou que está feita em bases sólidas, em si.

E essa expectativa vale. Não dá para viver sem. Ou não é viver.

Então, quero dividir com vocês a minha nova frase guia…

A idealização é amiga da frustração. A expectativa, não. Essa é, apenas, uma mera conhecida dela. Nesse mundo onde do futuro não se sabe. Só se espera.

Comentários

  • Carolina Job 21 de junho de 2019

    Perfeito! Ainda preciso aprender a diferença entre expectativa e idealização, mas escutei de muitas pessoas…Carol não cira expectativas, vive o presente! Meu Deus aquilo parecia cruel e impossível, uma vida sem expectativas?
    Como se entra em um novo relacionamento sem criar expectativas? Alguém me ensina isso, por favor!? Eu tive e tenho conversas profundas com meu pai sobre este tema após divórcio!
    Mas o grande problema talvez seja, tenha sido que eu queria uma família, idealizei com quem não queria, com quem não estava preparado para isso…me enganei por que quis…
    E me vejo taaaanto qd falas que estar casada com filho era o final feliz. No meu caso só esperar pelas bodas de ouro, que sempre sonhei em comemorar.
    Eu tenho 40 anos, não vai dar mais tempo de fazer bodas de ouro, talvez se eu tiver uma ótima saúde e meu futuro novo marido tb!
    Quando eu tinha uns 23 anos e uma amiga me disse que o namorado ia ser transferido para Manaus e que “tinha dado entender que era para ela ir junto (mas não muito convicto)” e ela foi lá pediu ele em casamento, organizou toda festa sozinha e foi embora com ele casada, seguem casados, com duas filhas….como eu penso nessa história, quase que diariamente, a Carolina aqui achou horrível, sem romantismo nenhum, mas a Denise minha amiga está “feliz da vida hoje”…que baita lição! A minha “idealização de conto de fadas” não me permitiria isso…meu ex marido me pediu em casamento de surpresa, com aliança dentro do sushi e um caminho de pétalas que organizou com o kogan (restaurante japonês que tinha na praça japão)…meu atual namorido não me pediu e eu tb não vou pedir, mas estamos felizes…felicidade real…estamos procurando um lugar para comprar e ir morar juntos, eu disse que quero usar aliança (gosto de símbolo, tem significado para mim)…não gostaria de ter alado…queria que elas tivessem surgido, num sushi, numa migalha de pão…mas desta relação não vão vir as coisas desta forma… e eu todos os dias crio expectativas, mas faço muuuuita força para não idealizar!
    Sera que a culpa é da disney? Hahahaha…dos príncipes dos desenhos? E profissionalmente eu sou tão empoderada, tão diferente…mas vamos lá…
    Quem sabe um dia eu peço ele em casamento….

    • Juliana Silveira 24 de junho de 2019

      Que linda Carol! É isso mesmo:) A gente estar consciente das expectativas idealizadas que criamos é o primeiro passo no exercício de criar expectativas pautadas na realidade. Revisadas. Um pouco da culpa é da Disney, outro pouco da nossa geração, que assistiu a maioria dos pais fazerem bodas de prata e ouro… e do romantismo que exacerba a realidade e não olha o outro. Se considerarmos que o outro também faz o que pode e o que conhece, estamos todos investindo tudo:) E a vida real é mais gostosa que a ideal. Na real a gente sente, de verdade. Na ideal, a gente imagina. Curte o teu amor, do jeito que for. És uma mulher empoderada sim, também no pessoal, pois estás enfrentando a força oculta nas tuas idealizações. Vais vencer <3
      Beijos querida! Adoro teus relatos!

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