Não sou de seguir gente, mas ideias. Mesmo sendo grande admiradora de alguns personagens da escrita e das artes, sou mais amante das obras do que dos individuos em si. Talvez como forma de respeitar as imperfeições deles, e às minhas.

A gente quando torna alguém “icônico”, o coloca em um papel difícil na vida. Em maus lençóis, na verdade.  O intimida e tira a sua coragem de ser, reagir ou se posicionar como se sente ou se quer. Humanamente.  Tantas vezes frágil, com dificuldades de lido, que como um traseiro, cada um tem o seu, ou no caso, no que tangem dificuldades, as suas próprias. Pois vai que isso o tire lá do alto, ou venha a diminuir a sua alta estima no meio no qual está inserido?

Então prefiro valorizar os seus trabalhos, as suas ideias, os deixando livres. E da mesma forma, acho que me deixando livre também. Para discordar de um jeito, de uma frase dita, de uma posição que não me representa, sem desmerecê-los e às suas vidas de produções, e feitos interessantes.

Talvez por isso nunca tenha tido na vida um partido politico ou uma religião única. Gosto de um pouco de cada coisa, e nada de seguir às cegas coisa nenhuma.

Brenè Brown é uma pesquisadora, professora, palestrante e escritora, que há anos estuda e fala sobre vulnerabilidade, coragem, e tudo o que permeia estes comportamentos humanos. Como disse antes, não posso dizer que a adoro e admiro como pessoa, pois não a conheço pessoalmente. Não sei se é arrogante, perfeccionista, ou uma doce e acolhedora criatura. Então na posição de desconhecida, admiro o trabalho divulgado por ela, e muito.

Brenè escreve sobre o que há de mais humano na vida, que é a imperfeição. A auto aceitação de quem somos, o lido com as nossas próprias vulnerabilidades e vergonhas, a fim de nos permitirmos acolhê-las e atravessa-las com coragem e crescimento, no decorrer da nossa jornada.

Gosto disso… é tão importante olharmos para as nossas vulnerabilidades, quanto exercitarmos a nossa respiração no controle da ansiedade, cuidarmos da nossa saúde física, ou aceitarmos um elogio justo e honesto nos ambientes nos quais nos expomos de alguma forma. Não fosse procurarmos nos entender e às nossas fragilidades, eu estaria até hoje sofrendo dos efeitos do bullying que faziam na escola, com os meus cabelos curtos e cacheados, a que deram o apelido de “cotonete”, no quarto ano do ensino fundamental, ou referencias pejorativas relacionadas à minha magreza.

Se eu não acolhesse a minha dor na época, tirando de mim toda a insegurança originada apenas por um corte de cabelo e aparência física, talvez até hoje me sentisse incapaz das transformações que fiz no tempo e do valor que dei a quem eu era por baixo daquela cabeleira e corpo miúdo.

A gente carrega as nossas vulnerabilidades uma vida toda. Não se livra delas, se vive com elas. E o entendimento da vergonha que sentimos é talvez o principal caminho de afeto com a gente mesma, e que pode nos impulsionar a um passo a frente.

Então vamos lá. Você que passou por um divórcio, se sentiu envergonhada nesta condição? Na saída da escola, quando todos os pais já sabiam do desfecho dado a sua situação familiar, você se sentiu intimidada? Frágil e incapaz? Como se chegar ao fim daquele projeto representasse o seu fracasso como ser humano? E no lido com os filhos, quando eles a acusam de ser uma mãe ruim ou a comparam com mães melhores que você por rolarem no tapete com seus filhos, ou mandarem lanches naturais feitos em casa para o intervalo da escola?

Nunca aconteceu aí?

Aqui acontece, e em muitas casas que eu conheço também… Brenè estava certa. É comum e humano. E meche com a nossa natureza, aquela que só quer da vida ser parte de algo. Reconhecidos e aceitos. E a vergonha é exatamente quando um momento ou situação nos coloca em cheque com a gente mesmo, nos fazendo duvidar de quem somos e do que nos define ou não. Acreditando de repente não sermos dignos do que é bom e feliz. Então a vergonha está estabelecida e potente na gente. Este sentimento tão emocional que nos tira a razão.

“Vergonha é o sentimento intensamente doloroso ou a experiência de acreditar que somos defeituosos e, portanto, indignos de amor e aceitação”. Esta é a definição da vergonha nas pesquisas da Renè. E não é assim, exatamente assim?

Pois bem. Trouxe este tema em reflexão às historias que ouço por aqui e que já senti em mim. Vergonha. E por consequência, insegurança. Medo de recomeçar e sensação de ser incapaz. Baixa autoestima e falta de fé na felicidade. Na possibilidade de tê-la para si, de construí-la de novo. Algo que a vergonha tenta tirar da gente.

Ela é um fato que acontece quase que de mãos dadas às vivencias de divórcio, e que tiram destas pessoas a fé no “de novo”, no “vamos em frente e melhor”. No futuro que se constrói no hoje, com a crença de que se merece amor e sim, se faz parte desse mundo que é de todos, independentemente das nossas escolhas.

Sugiro a leitura desse livro, de verdade. “A coragem de ser imperfeito”, e que eu poderia chamar de “A coragem de ser feliz”, com todo o respeito à obra da escritora. Porque aceitar as próprias imperfeições é viver com leveza, é se deixar ser feliz com o que se tem e se é.  

Não sou a pesquisadora desse assunto nem posso ensinar ninguém a lidar com as suas dores e fantasmas, com as suas vergonhas. Mas posso dizer que vale olhar para as suas vulnerabilidades com amor e acolhimento, como farias com um amigo que você ama muito. Todos podemos enfrentar o que não é perfeito. Pelo simples fato de que ninguém é, nem às vidas que nos cercam. Então, dá uma lida e corre para entender como lidar com a eventual falta de jeito alheia, ou com a sua própria baixa tolerância à imperfeição, o que a faz sua pior inimiga, muitas vezes.

Tem caminho e a gente aprende a viver melhor, com tudo o que a vida trouxer.

Basta eu viver hoje para ver a minha filha bebê com os mesmos cabelos que me geraram tanta dor no passado, tanta vergonha… E eles não se parecem com um cotonete, não mesmo. São lindos e eu os amo.

A fazem parecer um anjo, isso sim. A fazem, ela. Cheia de graça e personalidade, que é como nos tornamos quando aceitamos o que somos e às nossas escolhas na vida que é nossa.

Meus cabelos? Nada de vergonha, não mais. Já usei de tudo o que foi jeito na vida. Crespo longo, curto, loiro, moreno, liso, enrolado… Fui magra, menos magra, fora de forma, muito magra. Só não fui táxi! Pois assim como a experiência do divórcio e as suas vergonhas e sensações de não pertencimento, também me vi em muitas pessoas. Empaticamente. Nas vivências e nos cabelos. Na vaidade e na baixa autoestima. Nas escolhas.  E a verdade é que na aceitação, somos todas valiosas

Pois neste ato, pertencemos a nós mesmas. E aí, falo de coragem. Coragem de ser feliz:)

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