Para as mães das novas famílias…

Quando comecei a empreitada da construção da minha felicidade no depois do divórcio, da minha nova família, do novo amor e, em dado momento, do compartilhamento desse caminho e dessa fé no recomeço, através do projeto New Families, eu andava no escuro e buscava clarear a minha jornada.

Buscava entender essa empreitada, que é a vivência de uma separação, e me sair melhor, ou pelo menos, considerando de verdade os meus valores e a fé que me moveu nesta direção.  E ainda, quem sabe, me acompanhar de outras que estavam vivendo as mesmas dificuldades… Por que não, se sozinha é sempre tão mais difícil?

Foi o que me moveu. A busca da luz que iluminasse a reconstrução que eu queria para mim, e que me exigiu tatear o desconhecido, me vulnerabilizar nas minhas limitações e dores, me expor, para então poder me entregar inteira, tanto na vida quanto no projeto que nasceu de mim nessa vivência.

Pois bem. Aqui me vulnerabilizo mais uma vez. Não é assim para amar de verdade? Se permitir desaprender e reaprender, olhar sob outros pontos de vista? Ou mesmo para validar o real sentido do que sempre buscamos?

Pois comecei esse trajeto com foco total na dor e na reconstrução dos meus filhos e da família deles. Para eles. E neste caminho, descobri que precisava me levar em consideração, em respeito ao movimento que fiz, e que de fato se deu para “me” atender. Afinal, não são crianças que decidem pela separação dos pais. E nesse processo entendi que se tratava principalmente de mim, e que eles viveriam bem se eu estivesse bem. Pois filhos precisam dos seus pais inteiros, antes de estruturas, modelos, ou mesmo casados um com o outro.

E na condição de mãe de uma nova família, com dois filhos do primeiro casamento e uma de quem construiu família comigo depois disso, preciso dizer que caí deitada na cama de dor e alívio neste sábado.

Minha filha moça, Joana, me abraçou nesta noite e chorou. Parênteses: a Joana é a chefe do bando, a mais velha, a tradutora do grupo, a intelectual… De certa forma o “termômetro” da casa. Muito vem dela. E naquela noite, seu choro era saudades do pai. Sentia falta dele naquele momento.

Sabe quando isso aconteceu antes? Uma talvez duas vezes, logo após a separação minha e do pai dela e do irmão. E agora, com onze anos?

Sim, não tem idade para sentir falta de pai e mãe, afinal. E nesta noite, vivi dor e alívio por vê-la sentir assim.

Dor, pois de alguma forma a família que formamos não supre a falta dele, do pai, no coração dela. Alívio, pois, graças a Deus, ela tem o pai no coração, a quem sempre terá.

E é no coração que vivem pais e mães. E isso é um alívio. Me dei conta do real motivo de eu acreditar na nova família. Do que bate forte no meu coração e me faz ter fé de que a escolha afetiva de um pai e uma mãe para a sua vida íntima não desmancha a família de um filho, nem a sua origem, nem o seu profundo afeto. Porque pai e mãe vivem na gente. Somos feitos deles, eles estão em cada “partezinha” nossa.

Vejo os meus o tempo todo em mim. Em um comportamento, em um jeito de falar ou olhar, em um valor. Outro dia me olhei no espelho retrovisor do carro e disse para mim mesma: minha boca está igual a da minha mãe! E não é? Mesmo parecida fisicamente com o meu pai em muito, carrego traços fortes da minha mãe em tudo em mim. Dentro e fora. E onde quer que estejam, o que quer que façam de suas vidas, estão presentes em mim, e tenho certeza, que no meio da sala das minhas irmãs também. Pois é assim que as coisas me parecem. E assim soam a relação de pais e filhos para mim. Algo imutável.

Que alívio…

Só que a dor de sentir que não somos suficientes sozinhos, na nossa casa e família novas, maltratou. Na hora que a vi chorar, a minha menina, logo me perguntei: está faltando alguma coisa aqui? A mãe fez algo de errado? Algo te magoou?

Culpa de mãe em ação… É assim que somos com os que vieram de nós. Enquanto seres humanos comuns empurram a culpa para alguém, nós a puxamos para nós quando se trata de filhos. Mas ela, calmamente, me disse que não era nada disso.

E claro que não era! A gente tenta ser tudo para eles, mas o fato é que não somos, e é bom nos acostumarmos. Somos parte. No afeto deles, na contribuição nas suas vidas e até nas culpas.

E que alívio…

Da dor, me tomei por ele. Pelo alívio. Pois ela o tem, o pai, nela. E assim foi a minha resposta aos prantos e ao abraço apertado dela. A de que estaremos nela para sempre. Onde quer que estejamos. Por melhor que seja a vida lá, e a vida aqui, estaremos nela. E quando crescer e estiver longe, vivendo na sua casa, a sua vida, no lugar que for, quando a dor, a saudade ou o amor apertar, lá estarão a mãe e o pai. As partes dela. Partes da gente.

Novas famílias são isso. Construções sem destruições. Ampliações. Estruturas diferentes para acomodar o que nunca acaba. A família. E se dói vê-la chorar de saudade do pai dela… O analgésico é saber que as novas configurações não tem o poder de mudar as coisas como são, nem de onde vieram. Nem, neste caso, de onde viemos.

Esta aí a força motriz deste projeto, do New Families.  Que idealizei na busca da construção da felicidade sempre, inclusive nos tentantes do “depois”. E que começa na minha crença de que as construções de novas famílias são possíveis, simplesmente, porque famílias jamais acabam. E se transformar em formatos novos, faz parte da vida. Novos arranjos e novos afetos, também.  Desde que, na busca da paz, do amor e da felicidade.

E por isso, que alívio… Pois qualquer dor, nunca será em vão.

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