Na semana dos namorados, eu não poderia falar de outra coisa que não fosse de amor. Das suas várias cadeiras. Das suas diferentes formas de viver na gente. Das suas várias promoções distintas de felicidade e prazer. Do que ele é em um, que é diferente do que é em outro. Pois apesar de amor ser afeto profundo, ser bem querer e parecer um sentimento óbvio e simples do bem, ele se estabelece de forma singular na vida de cada pessoa, a partir dos seus valores, prioridades, expectativas e disponibilidade para vivê-lo.
Há quem viva bem com o que outra pessoa ache muito, ou pouco. Para uns, pode ser intenso e sufocante demais, para outros, raso e desatento demais. E por isso é tão particular.
Mas, “particularmente”, quero lançar olhar ao amor na vida de quem recomeça após um divórcio. Após vivenciar a transformação do amor romântico em outra coisa qualquer, incapaz de manter de pé a estrutura do casamento e da família, como idealizada. É um grande desafio na vida de quem busca a felicidade no depois. Mas também um desejo, mesmo que travestido de discursos negativos, que o diminuam, tirando a sua importância na vida, ou mesmo, externando a sua falta de fé.
O amor de quem, e para quem recomeça, é às vezes desacreditado, e em outras, idealizado. Difícil crer em finais felizes logo após um divórcio. Difícil, mas não impossível. Eu, por exemplo, saí com medo, sim. Por mim e pelos meus filhos, por conta dessa finitude do amor, que impacta a tantos e que propõe uma entrega tal, que arrisca muito, que exige resiliência, negociação, disposição à perdas, e generosidade com a gente mesma. Essa última, tão escassa após um divórcio, quando carregamos tanta culpa pela história de amor descontinuada.
Mas não saí desacreditada. Minha jornada me provou que ele existe e pode ser a melhor das vivências, o motivo de estar aqui. A parte boa a qual não comentei. Então recomecei sedenta por vivê-lo de uma forma nova, mais consciente dos seus caminhos, perigos, entregas e prazeres. Mas principalmente, dos meus compromissos neste processo.
Só que como disse, acredito que a falta de fé no amor e a idealização dele são os dois maiores desafios a serem vencidos na construção de uma nova vida.
Pensar que o amor não vale a pena, não existe, ou, se existe, não traz felicidade, ou, mesmo com ela, muitos desgastes e riscos, é uma constante nos atendimentos que faço. “Melhor não amar mais!” Dizem muitas. Outra, é quando se crê nele em demasia e com fantasia, por desejar muito uma nova chance, uma nova vida, e se idealiza que após o último desfecho, tudo se encaminhará para o merecimento de um “príncipe encantado”, de um afeto só de coisas boas, sem problemas ou desilusões. Sem desafios ou transformações.
E o amor está aí para nos desafiar e transformar, afinal. Ambos, a falta de fé e a idealização, são caminhos perigosos e irreais, e por isso, injustos com a gente.
Então, nem uma coisa, nem outra, destes escudos de proteção que, naturalmente, arrumamos para maquiar o que está por vir: O medo da solidão, de cruzar a vida sozinha, sem afeto, amparo, prazer e companhia, nasce junto com o divórcio. Eu diria em todo mundo, mas considerando que sempre há exceção à regra, em qualquer caso, digo “quase todo mundo”.
Por isso, te convido a despir-se aqui: Quem já se sentiu só e sem amor, mesmo com companhia na sala ou na cama? Quem já devorou o amor destrutivo, de mais concessões do que negociações e empatia? Ou amou com desequilíbrio, baixa autoestima, ao ponto do afeto ser nocivo, simplesmente para manter-se na busca da manutenção do lar em família? Quem já não sentia mais prazer no curso da vida? O da carne e o fruto do encantamento?
O amor merece ser compreendido para não ser vivido vazio dele mesmo.
Estudos, escutas e vivencias me fizeram acreditar que para amar, é preciso aceitar-se primeiro. O que chamam por aí de “amor próprio”, eu prefiro chamar de acolher-se generosamente em si, com suas vulnerabilidades e com o seu valor. Reconhecendo-o. Em alta estima, como faríamos com qualquer pessoa que amamos.
Aceitar a si, às suas escolhas de vida, aos seus fracassos e às suas vitórias, considerando que somos todos feitos disso tudo, sem exceção, me parece o primeiro passo na direção de um caminho de amor na vida. No caminho de encantar a si mesmo, e depois aos outros. De criar vínculos de afeto verdadeiros e respeitosos com a gente, e com a vida que construímos até aqui. E assim descobrir o amor verdadeiro por quem conseguimos ser. Que é capaz de sintonizar a nossa com uma outra vida, trocar e se elevar.
E isso é singular…
O amor que vive aí jamais será como o que vive aqui, ou acolá. Se constituirá sobre as tuas estruturas particulares, de valores, de afeto, de modo, que não costumam ser iguais a de mais ninguém.
Ele é como a gente. Não se mede, nem se repete, como diz a música. Não tem perfil exato, não é melhor ou pior. Não deseja filhos, nem não quer nenhum. Não grita para o mundo, nem vive no silêncio do carinho e do cuidado. É tudo isso e não é nada disso. Entende?
É para mim, e é para ti…
Por isso, não pode ser igual ao do vizinho, nem daquele filme. Nem igual ao meu, ou daquela famosa do Instagram. Pois completa a gente nos espaços “da gente”. No que nos agrada. No que nos é vital, e não aos outros. E a única coisa que o torna inteiro, amor, é que, do jeito que for, nos preenche, e transborda da gente para o bem. Do que é valor aqui, no nosso mais íntimo salão de festas, nos espaços dos nossos afetos.
E isso é possível de construir em qualquer tempo. Em qualquer idade, com quantos filhos tiveres como partes suas. Com quantas histórias de amor fizerem parte de você. Elas só nos tornam mais ricas, mais sabias, mais conhecedoras do “caminho da roça”, mais aprendizes na estrada do viver. Desta que conhecemos pelos surpreendentes buracos, nem tão surpreendentes assim no tempo.
Pois como as estradas da vida, o amor desafia, exige atenção. E além, aceita e acolhe. Soma, amplia, multiplica. Reconhece, admira, abraça as fraquezas e se vincula na humanidade e vulnerabilidade delas. Ensina… E começa na gente e com a gente.
Pois o amor é coisa de humanos. De imperfeitos, e humanos. De desbravadores, e humanos. E no amor, sempre podemos recomeçar, em qualquer mundo. Principalmente no daqueles que se permitem amar o que possuem em si, e na sua jornada.
A propósito, nada pode ser mais apaixonante em alguém.
Neste dia 12 de junho, feliz dia dos preenchidos de amor:)
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