Zapeando no controle da NET em uma dessas noites de chuva e frio, achei “Alguém como eu”. Sim, este era o nome do filme e sim, era também alguém como eu e talvez até como você.

A protagonista conheceu o seu grande amor em Lisboa, onde foi morar. A fotografia do filme é linda e, de cara, chamou a minha atenção para assisti-lo nos seus primeiros minutos de exibição. “Helena”, a protagonista, começa uma linda e romântica história de amor, como são todas no seu início, com o belo português “Alex”. Um casal gracioso, daqueles de romance, cheio de expectativas do bem. Só que os meses foram passando e as diferenças aparecendo… Como é difícil lidar com o que é simplesmente diferente de nós, não é? Então “Helena” fez uma oração e pediu a “Deus”, literalmente, que “Alex” fosse como ela, pois assim não conflitariam tanto e a vida a dois poderia ser mais fácil.

Que nada… Moral da História? “Helena” precisou aprender a “duras penas”, entre as mágicas da ficção e a separação do seu “Alex”, que o amava pelo que era na sua essência. Que a vida coloca pessoas no caminho da gente para aprendermos que não somos o centro do mundo, nem os donos da verdade, nem os que fazem do melhor jeito, nem os mais sábios, habilidosos, nem os emocionalmente mais preparados. Aprendeu que não temos da vida o que queremos, mas o que precisamos.

Não acho que a gente aprenda na vida só porque gosta e o que gosta. Nem que a gente escolha sobre o que queremos conhecer e integrar a nós mesmos. A vida dá conta. Não acho que sejamos natos e fervorosos aprendizes dela, da jornada aqui, nem que isso seja exatamente um sabor de gosto bom e um privilégio. Muito menos uma missão, afinal todos desejamos que a vida seja mais fácil. O que eu acho é que agente precisa aprender, mesmo que não queira todas as vezes. E que estamos aqui para isso. Para aprender e trocar com o que é diferente de nós. E o motivo pelo qual eu acredito que seja assim, é por sentir que a nossa ignorância quanto ao conhecimento sobre o que está dentro e o que está fora da gente “impacta” os outros. Na qualidade de seres comuns, comunitários, não podemos nos dar a esse luxo, ou alguma força poderosa achou que não poderíamos… Nos dar ao luxo de “vagar” por aí, nem sendo essa uma escolha consciente. Pois a vida dá conta de nos lembrar do que precisamos mais do que simplesmente queremos. Ou não pertenceríamos a nada, nem a nós mesmos, já que pertencer é somar, mesmo que se trate de um indivíduo. São valores mais experiências e mais o amor, que se solidifica nas trocas, nas relações. Sentimento este que nos transforma em alguém generoso, disponível à compreensão do outro, a recebê-lo, a entregar-se e assim, a aprender.

Ninguém escolhe o mau comportamento ou a incapacidade de lidar com as coisas. Ninguém escolhe o início do caminho do fim das relações, nem um filho com problemas, nem abusar de poder ou ser abusado por ele. Ninguém, em sã consciência, escolhe pelo erro ao invés de escolher por um “se dar conta” ou pelo melhor caminho, de menos dor. Ninguém escolhe se descuidar de si, de quem é e do que gosta. A gente erra para aprender o caminho do melhor, que mais acolhe. Da nova chance, de uma boa possibilidade de acerto no novo e de melhoria das nossas capacidades enquanto seres humanos. E talvez essa consciência nos dê o motivo para uma ação diferente todos os dias, atenta ao entorno e ao nosso mundo interno. Mitigando os erros e seus custos e antecipando os aprendizados possíveis e tão necessários.

Mesmo assim, vem a vida e nos mostra o que não vimos. O que achamos que era e não é. O que passou desapercebido. O que precisamos reconsiderar, transformar, olhar de novo e aprender sobre.

Bem, “Helena” aprendeu que para amar “Alex”, sentimento que promove tanta evolução, ele não precisaria ser ela, nem pensar como ela, nem escolher como ela escolheria, nem lidar com a vida da mesma forma. Aprendeu que não há nada de apaixonante em não aprender, em não ser desafiada a outras perspectivas, a não lidar com o novo. A gente fica mais vivo e mais interessante quando se descobre diferente frente às cenas inusitadas da vida, não planejadas. Que nos tiram da zona de conforto. Quando nos surpreendemos com as nossas capacidades em redesenhar, ressignificar, em se doar e se levar em consideração. E até em amar. Pois como seres vivos e orgânicos, não podemos repetir as receitas de hoje no amanhã, quando já estaremos diferentes, sob efeito do mundo lá de fora e do nosso mais íntimo, que não para de sentir e transformar. Quando já seremos outra pessoa, outro olhar. E nas “surpresas”, sejam elas negativas ou positivas, é que encontramos o que temos de mais valioso: a pessoa a qual construímos pelas nossas próprias mãos, experimentos, afetos, escolhas, flexibilizações e debates, por conta das experiências da vida. O que nos faz amplas e capazes. Sem limites, considerando os existentes apenas como “limites conhecidos”. Pois os desconhecidos estão aí para serem desbravados e nós, para nos redimencionarmos.

Me parece um bom significado para a vida e uma ótima justificativa para se relacionar com pessoas diferentes de nós. E aí ter uma vida mais instigante, interessante, viva e em constante evolução. Bons motivos para aceitarmos que para crescer é preciso aprender. Mesmo que dê preguiça ou que seja exigente, o que é uma verdade… Afinal, você não quer alguém como você, quer?

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