Andei atravessando uma mudança na última semana, ou talvez ainda esteja, já que mudanças começam antes e terminam depois do frete propriamente dito. Isso vale para tudo, e não passei por poucas na vida. Mas neste momento ela acontece no que tange o estabelecimento de um novo lar para nós, o que considero mais que uma mudança de endereço.
Eis que, quando tudo parecia estar nos seus lugares e as nossas “mãos decorativas” em madeira seguravam o relógio de bolso que era do avô do meu marido, e que talvez tenha sido do pai dele ou do pai do pai, me dei conta de que, mesmo sem querer, aquele enfeite no meio da sala dava sentido a nossa jornada toda. Não a dessa mudança, mas constituída dela também. De todas, da vida que a gente vive, dos anos que a gente atravessa.
O desejo e o trabalho que dedicamos às coisas as quais entendemos importantes, sejam elas “metas” de evolução em algo ou afetos, são uma força incrível que dão direção aos nossos planos, às nossas ações e à nossa fé. A gente afinal coloca mais energia quando acredita. Só que os ventos são definidos por outras mãos, outras forças, além da nossa vã compreensão, objetivos e esforços. Nosso barco navega em mar grande e profundo e, como acontece no mar, acontece na vida. Quem define a tempestade não é o marinheiro, mas a força essa que diz quando, com quem e onde.
A mão segurando o relógio me fez sentir “pequenininha” frente aos projetos do universo do qual somos somente uma partícula. Mas o paradoxo é que também me senti gigante por escolher na minha jornada a forma de enfrentar as tempestades, o que fez delas pequenas, já que elas não poderiam “apitar” no meu lido, no meu enfrentamento das verdades, das necessidades, do mundo do trabalho, das relações, das mudanças, dos afetos.
Somos nós quem decidimos. As mãos mandam no tempo o que entendem que devem. Cumprem sua missão de mestres na orquestra da vida. Mas cada um toca o “seu instrumento” e o sente no peito do jeito que se constrói para atravessar essa experiência.
Em ano de pandemia, palavra que não conhecíamos, ou, pelo menos, eu não, de mudanças de cadeiras, da ressignificação do “conforto”, da vaidade, do resultado do esforço, dos afetos e da felicidade, desejo o de sempre. Olhar e coração atentos, e ideia do bem. A gratidão ainda usa vestes difíceis de descrever e reconhecer. Ainda não entendemos ao certo o motivo deste ano tão exigente. Seus “flashes” de luz ainda são sutis. Ainda não sabemos seus efeitos naqueles planos futuros, já que no presente estivemos parados, isolados, nos reinventando. Ainda estamos identificando nossos laços e fortalecendo nossas conexões mais importantes, na crença de que parece que 2020 iluminou um túnel importante e subestimado na vida da gente. O ano que jogou a todos na arena dos leões, cada um com os seus.
Mas o fato é que, cada um ao seu modo, vem construindo caminho. Vem lutando. Vem encarando seus “leões particulares”. Vem ajustando rota e olhando a vida de novo.
Então, ano difícil… O deixo para trás, mas registrado no meu diário de bordo e no meu coração. Mexeste com tudo, mas mostrou que a escolha sempre foi e sempre será minha.
Vale igual para você:) Então que a vida siga… Que novas oportunidades de mudança apontem, que novas escolhas se renovem e que o que não é mais então tome seu rumo. Por escolha, queridas… por escolha. Nada é mais poderoso que as rédeas próprias conduzidas por essas mãos nossas, que assistimos atravessar o lindo e profundo caminho do envelhecer, mesmo em mar aberto.
As mãos de madeira apenas sopram os ventos e criam os redemoinhos necessários… Vai saber? Se não nos matarem, o que é do jogo da vida, nos farão mais fortes com certeza. Já sinto aqui:)
Obrigada pela companhia incrível neste ano de muito refletir, amparo e amizade. Estaremos juntas.
E 2021 que nos aguarde… Estamos treinadas:)
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