A rotina da nova família é assim… Aparentemente é tudo ou nada. E quando digo que é aparentemente, é porque “quem vê selfie, não vê corre”, como se diz por aí. Só conhece de verdade quem está dentro.

Vivemos com eles, os filhos,  intensamente, ou, sem eles.  E neste contexto a gente experimenta a ansiedade de quem quer dar o que reteu e a de quem quer receber o que faltou, o que gerou saudade.

Se eu pudesse pedir que algo se amenizasse neste processo do compartilhamento de filhos, peculiar às novas famílias, seria quanto ao impacto da ausência e da presença deles na rotina da gente, e na gente.

Nos acostumamos a viver sem eles. Compomos nossa agenda com prazeres novos e tempo para nós mesmas.  Mas a falta fica ali, acumulando saudade, culpa pela distância, momentos desejados juntos, amor, obrigações, necessidades às quais esperamos o retorno deles para casa, para então darmos conta, e aí, cada encontro é uma explosão de sentimentos e expectativas boas e também “estranhas” para todos.

Sim, nada é só bom nem só ruim, mesmo em se tratando do reencontro com os filhos no calendário do compartilhamento, e é bom que enfrentemos este fato que gera tanto aprendizado.

As boas são oriundas do afeto, esse infinito, que não se explica. Queremos abraçar. Sentimos a falta da presença, até do incômodo eventual que ela traz por ser carregada de demandas operacionais. Mas sentimos assim mesmo o vazio. Porque mãe é viver nos seus e se temos filhos temos também partes de nós vivendo por aí. Só que as sensações “estranhas”, resultado da ansiedade de não termos, não os controlarmos e então, compensarmos o tempo perdido quando chegam, são desconfortos reais.

Sinto a ansiedade nos meus filhos e em mim, de verdade.

Quando estão conosco, por mais que tenhamos exercitado a normalização dessa rotina, parece que o tempo junto precisa ser incrível, quando ele, na verdade, é só tempo. É vida seguindo. São dias como todos, não livres do cansaço, da falta de paciência, de uma entrega de trabalho importante, da falta de dinheiro para um programa melhor ou mesmo de uma gripe ou uma cólica menstrual.

Quem compartilha filhos sabe do que eu estou falando né?

Damos conta, aprendemos, nos acostumamos com o novo formato, mas vivemos essa sensação, mesmo que vá ficando mais sútil no tempo. Mesmo que “administrada”, aprendida. Pois é presente o desejo de ter o máximo do tempo com eles, para eles e para nós mesmas, tudo junto, como nos contaram que era. Para aproveitar o tempo de ser mãe como diz a cartilha. Daquelas que a gente conhecia e que achou que seria para sempre ou o único modelo viável. De uma forma padrão a qual embasou a nossa maternidade, o nosso aprendizado.

Talvez por isso seja ainda um caminho tão exigente para as novas famílias. Simplesmente porque não se vive mais a maternidade da mesma forma quando se dá o divórcio em uma relação com filhos… E nessa “nova”, filho não deve ser visita. E boas entendedoras sabem o que quero dizer. Nos vemos com o desafio de desamarrar a presença da intimidade, casando esta com o afeto e o fato de não deixarmos de ser quem somos na vida deles e eles nas nossas.

Quando eles perguntam se podem comer aquela coisa nova que está na geladeira e que não estava quando saíram, sabe? Quando vivemos vida sem eles, ficamos diferentes e eles se dão conta de que não participaram deste processo, e vice-versa. Quando se surpreendem com uma mudança no layout da casa, um “eletro” novo na cozinha, ou um ritual diferente que tenha se estabelecido na ausência deles, e que os faz sentirem “estranhos” na própria casa, de fora, e a nós, separadas deles por essa linha imaginária e real.

Um sentimento… E um desafio, exigente, mas passível de aprimoramento e redesenho. De uma compreensão diferente que faça sentido, que carregue a saudade e a distância de “ideias do bem”, que aproximem  a gente e a nossa natural e exclusiva relação, de outras formas. Que estabeleçam laços com bases que vão além da rotina, do controle a que propõe o dia a dia, mas que trancem o que é possível que viva na eventual distância… Com confiança, amor, amparo e retaguarda firme.

Lembrando que mãe é mãe… Que filhos são filhos, e nossos, mesmo que não estejamos mais aqui. Que essa história já foi escrita quando escolhemos pela maternidade ou fomos impactadas por ela. E que caminhos para o exercício dela podem ser vários, desde que nos atentemos naqueles que forem possíveis.

O ideal a gente deixa para os “contos de fadas”. Pois há quem goste do sabor desafiador da realidade, da vida com todas as suas nuances, e dos redesenhos inusitados…

É exigente, mas eu adoro. Pois vem me transformando. E afinal, a gente só dá valor ao “tudo” quando conhece o “nada”:)

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