A pessoa que se apresenta, que posiciona a sua opinião sobre determinado assunto, ou melhor ainda, que age dentro de uma proposta de valor que a representa, exerce inevitavelmente influência sobre as pessoas que eventualmente não possuem um olhar formado sobre o assunto e que, frente àquela determinada opinião, sente-se representada no seu sentimento ou na sua percepção quanto a questão.
Complicado? Sim e não.
É simples quando o posicionamento do influenciador se dá com respeito. É natural que alguém saiba mais profundamente sobre algo e comunica isso de forma clara, consistente no embasamento ou na intenção, e de maneira respeitosa com o que se apresenta diverso. Fica complicado quando se profere o ponto de vista ou o valor “brigando”, impondo e violando a liberdade do outro de pensar diferente.
Quando comunico o meu olhar e convido você à um olhar atento sobre cenas da jornada da gente, comportamentos e conduções que acredito que possam ser revisitados à revelia da reflexão, o faço a partir de vivências que são minhas, da minha história, da minha dor e da minha fé. Meu, meu, meu. À parte egocentrismos, por se tratarem de percepções da vida, só posso falar por mim, ou por quem tive o privilégio de interagir empaticamente e compreender ao ponto de me transformar ou reforçar uma ideia em mim. Não posso falar de uma cadeira que não conheço. E isso dá a mim o direito de constituir um ponto de vista que, se apresentado como “convite” e com respeito, pode influenciar sem ferir a ninguém.
O papo se dá aqui pelo meu entendimento sobre apresentação pessoal, essa que estimulo e que é tão individual, mas principalmente, carregada de responsabilidade.
Outro dia assisti a um vídeo de uma comunicadora importante do nosso país, que constitui hoje uma figura de grande influência para as mulheres, e que tratava da comunicação de ideias, comuns a todas as nossas cenas na vida. Não importa se no debate político, se quanto ao melhor estilo de vida, se sobre dieta alimentar, escolha do que é mais adequado vestir ou com referência a assuntos que permeiam as relações, as emoções, o perdão, o casamento, a maternidade, a dor e o amor…
Cada pessoa vive a sua jornada e é natural que nesse mundo tão diverso tenhamos experiências e sensações distintas sobre o que cabe melhor na vida a qual vivemos. Nos sentimos influenciados por aquilo que se comunica com os nossos valores e com a nossa história de vida. Objetamos aquilo que é estranho a nossa realidade. E nos transformamos pela voz daqueles que nos entregam pontos de vista honestos, individuais e respeitosos, isentos de julgamento, e que nos oferecem escuta e amparo para o que fala na gente, mesmo que diferente.
A gente não fica mais à vontade assim, para debater e eventualmente se revisar?
Há quase quatro anos falo de recomeços. Mais especificamente sob a ótica da mulher divorciada e das novas estruturas familiares além do que um dia foi padrão. Mais recentemente, da travessia de mulheres que buscam reconstrução nas mais variadas demandas, o que transcende a família, já que toca o indivíduo feminino, o que me toca tanto. E neste caminho, em poucas situações, mas presentes, mesmo que sutilmente, precisei lidar com o rótulo de “influenciadora do divórcio”.
Certa vez o marido de uma amiga se referiu a mim como a “Ju do Divórcio”, e há quem se constranja, e até se ofenda, com o meu trabalho, o meu livro, a minha escrita livre e até o meu posicionamento. Logo eu, que busco na minha fala propor uma travessia na vida que nos divorcie apenas do que não é nosso, do que não nos permite existir, investindo nas nossas relações e na gente o suficiente para que este seja um caminho construído para ser sólido, e não, inseguro e vulnerável. Não pelas nossas mãos, pelo que podemos ser “sabidos”, o que é peculiar do exercício da conversa, da reflexão e do autoconhecimento. E no caso dos divórcios serem necessários, que sejam em ambiente normalizado, amparado e livre de julgamentos e rótulos. Tratado como um fim de ciclo que é da vida, de forma respeitosa para com quem o atravessa, como seria bom que fosse.
Além disso acredito no amor. Invisto nele de forma transparente e dedicada, o que me levou a reconstruir a minha vida afetiva no meu novo casamento.
O fato é que vivemos tempos estranhos. É moda falar, se expor, mas sob a tutela da falsa moral aquela, a qual tenho trazido nas minhas falas. Pode falar, mas não do que é feio, do que não deu certo, do que é dor, do que constitui vulnerabilidade, do que exige mudança. O que traz desconforto segue sendo mantido “embaixo do tapete” pelo povo da arquibancada. E aí o “feio” do que é da vida e que precisa ser trazido à tona, comunicado e debatido, é substituído pelo “feio” nos modos de comunicar, nas boas práticas…
Resolvemos falar mas não exercitamos a escuta ao outro. Nem à sua fala, nem aos seus limites de entrega, de compreensão, dado o tanto de coisas que envolvem a construção de um indivíduo. A gente se acostumou a julgar os outros pela história que conhecemos, ignorando a nossa ignorância. A nossa falta de habilidade em lidar com sentimentos e acontecimentos sobre os quais não sabemos nada, não refletimos sobre, nem conhecemos dos seus efeitos. E aí, a violência da tal “liberdade de expressão” contemporânea, vem tirando dela o seu valor incrível de influenciar o mundo a uma transformação movida pela empatia e pelo amparo a todos, e suas dores.
A luz no fim desse túnel? Acredito estar nas mãos de cada um de nós quando exercemos o poder de comunicar quem se é e no que se acredita, sem a busca pelo convencimento a todo o custo, focado na validação de uma rede de influenciados. Sem agredir, ofender ou diminuir aquilo que é diferente de nós. A vida não é um jogo e ganhar neste caso me parece que está mais ligado a sobrevivermos uns aos outros de forma civilizada, do que angariar simpatizantes. Tem mais a ver com encorajar a existência de tudo o que há, e que é tão rico na sua essência e diversidade, do que formar rodas que só falam mais da mesma coisa.
Em uma jornada em que se chega sozinho e se vai embora também sozinho, apreciar a paisagem exótica e diversa do que vem dos viajantes que nos acompanham, pode ser o grande barato de estar aqui, e o melhor “brique” para escolhermos o que colocar na nossa bagagem.
E considerando que o trajeto pode ser longo, já dizia uma frase de um “pensador da internet”, possivelmente um “influenciador”, o seguinte:
“Busque respeito, e não atenção. O primeiro dura mais.”
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