A janela que se abre na semana do Dia Internacional da Mulher nos convida a “saltar”. É neste momento, como um lobo na noite de lua cheia, que saímos a “uivar”, mesmo hoje, das nossas “janelas”, o som das dores e da força que nutrimos por dentro, como forma de nos unirmos em alcateia pelas nossas batalhas comuns e pelo que somos sedentas. Reconhecendo que, mesmo separadas pelas nossas histórias particulares, somos muitas olhando para a mesma direção. Nos encontramos nos gritos, no choro, no “uivo”, no olhar que lacrimeja e na boca que treme. É tempo de falar de liberdade.
“Mulheres estão na linha de frente da crise da COVID-19 como profissionais de saúde, cuidadoras, inovadoras, organizadoras comunitárias e algumas das líderes nacionais mais exemplares e eficazes no combate à pandemia. A crise destacou tanto a centralidade de suas contribuições quanto os fardos desproporcionais que as mulheres carregam”.
Esse é o tema do Dia Internacional da Mulher abordado pela ONU Mulher. E eu complementaria ainda com a incrível nova dinâmica das famílias em tempos de pandemia, que abateu de forma tão avassaladora a rotina das mulheres, especialmente. Demandando um “malabarismo” entre todas as funções corajosamente escolhidas na história de cada uma e suas sobrecargas, frutos ainda do modelo desproporcional no qual vivemos.
Se trata daquele trabalho “leve, sem importância” e tão diminuído nas famílias modernas, sob a fantasia de que vivemos em igualdade, com divisão de tarefas e apoio mútuo ao crescimento individual de cada um no lar, e nos ambientes do mercado, já que nos encontramos no século vinte e um e na era da tecnologia, das redes sociais e de um tanto de bandeiras que representam a discussão sobre a liberdade das minorias e da diversidade.
Se tratam das perguntas que ainda fazem parte apenas dos processos seletivos das mulheres e que se referem a filhos, a retaguarda, a rede de apoio, a disponibilidade, colocando a nossa função de mães como impeditiva ao nosso desenvolvimento e crescimento, o que não ocorre com o pai das crianças… Que hoje não é pauta no cenário profissional masculino, generalizando, é claro, já que se trata do comportamento, não de todos, mas da maioria. E para as mulheres que decidem não ser mães, uma batalha que ainda remunera e reconhece diferente…
Uma realidade de muitas, e me atrevo a dizer, da maior parte das mulheres deste mundo, sendo cruelmente intenso em alguns lugares específicos. E este “negacionismo” geral não nos permite aperfeiçoarmos um modelo justo e desejado que ampare a nós, mulheres. Acobertar os “detalhes” nos impede de ajustar o todo. Cria mais uma batalha interna de “composições”, explicações, de desculpas e de culpas. Mas principalmente, constrói uma falsa liberdade. Na qual as portas estão abertas para sairmos correndo, frases prontas e encorajadoras nos demonstram apoio, mas correntes invisíveis seguem prendendo os nossos pés.
Fez sentido? A sensação te soa familiar?
Pois bem, não estou aqui para falar de mim. Represento um gênero. Não interessa qual a intensidade dessa realidade aqui, se em tantas casas ela transborda. Não se trata só de mim nem só de você. Se você vive uma vida privilegiada no que tange a liberdade, na hora que a sua janela se abrir, lembra de uivar pelas “semelhantes” que mal conseguem abrir uma fresta das suas. Que estão trancadas sob as correntes da realidade feminina que é de tantas, e que ainda assim, conseguem se arrastar, mas não voar.
A gente fala no dia da mulher do que não é direito de todas, mesmo que eventualmente já seja uma conquista nossa, aqui e ali. É disso que se trata…
E se alguém ousar falar do seu lado que vivemos em igualdade de direito, que mães dividem igualmente o lido doméstico e afetivo familiar com seus parceiros e que o mercado está voltado às mulheres com a mesma disposição de investimento, consideração e reconhecimento ofertado aos homens, por favor! Com toda a elegância que nos é peculiar, “uive”. Ou esta será apenas uma data comemorativa na qual nos oferecem flores.
E eu sei e você sabe que merecemos mais.
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