Há quase treze anos tive a minha primeira filha, Joana. Já me sentia madura para a empreitada materna com um casamento de mais de dois anos e quase trinta nas minhas costas miúdas. Era uma mãe moderna e aberta aos aprendizados que ela poderia me trazer, aquela bebezinha… Me orientei em livros, sites, com as matriarcas da família, amigas mais experientes e em muito, junto à  intuição de mãe que nasceu em mim desde o momento em que descobri estar grávida. Testei modelos, treinei a mim e a ela, e como uma mãe exigente me determinei muito e relaxei pouco.

Na sequência, quase um ano e meio depois, veio o Joaquim. Um menino fofo de olhos azuis que, junto com a irmã, tornou a minha vida mais doce e trabalhosa do que eu jamais poderia imaginar. Lembro que andava sempre cansada, trabalhando e dando conta da dinâmica familiar com dois filhos pequenos, mas com a minha experiência materna “super” abundante e prazerosa, mesmo exigente. Vivia para trabalhar e para cuidá-los, e o meu espírito aventureiro e jovem me levou a algumas tentativas “em bando” que me oportunizaram momentos de prazer e também de arrependimento, e que desenharam os meus contornos como mãe.

Eu aprendia na prática o que era possível fazer com eles e o que era simplesmente estressante, e por isso, inviável de fazermos todos juntos. Tentamos férias de vários formatos, festas de todo o tipo, de adultos às infantis, restaurantes, hotéis, viagens com frio demais, com calor demais, na serra, na praia, enfim… Dormi com eles na sala de amigos sem filhos, vivi as crises respiratórias deles nos mais variados cenários, abandonei réveillons para atender a viroses e febrões, e deixei de lado muitos pratos de comida quentes e caros para embalar o sono de um e de outro no meio das refeições nos lugares mais distintos. Tenho certeza que pode te soar familiar…

O fato é que saí dessa “odisseia” do tipo “vacinada”. Ah, naquele momento eu era a mãe mais safa do mundo! Poderia dar treinamentos a outras mães sobre como montar uma bolsa de guerra para saídas em família, se preparar para situações inesperadas e principalmente ter conhecimento claro e indiscutível sobre onde ir e não ir com eles. Onde é possível ter prazer na presença dos filhos e onde é só “batalha dos aflitos”, como diria de cadeira o meu time do coração. Onde a maternidade afeta a feminilidade na gente. E eu me protegi por anos com as verdades vividas na carne nessa experiência de dois “quase gêmeos”, pois achava já ser madura suficiente para entender de maternidade de forma profunda e na prática ao ponto de defini-la…

Só que veio a minha terceira filha quase dez anos depois. Antonella, nome da boneca preferida da Joana até então, naquele momento nomeava a nossa caçula, filha minha com o meu marido, companheiro de nova chance após o divórcio de ambos das suas “primeiras empreitadas” em família. E ali eu já fazia quase quarenta anos. Aquilo que fez tanto sentido ao ponto de virar cartilha no passado era tudo o que eu tinha em mãos, além do desejo de ser melhor naquela terceira vez. E então segui as minhas referências…

Medo de ser só mãe de novo, além de trabalhar. Medo de esquecer da mulher em mim. Medo de mimar demais a filha da minha relação nova frente aos outros. Medo de ter uma criança na minha cama, entre eu e o pai. Medo das noites em claro, da idas à emergência do hospital, das cirurgias eventualmente necessárias, como um dia, na minha maternidade, já foram. Medo de sair por aí com ela e ter que dar conta do trabalho que é deixa-la livre. De comer frio, do cansaço que desbota a gente e que naquele momento me pegaria com quase quarenta. Medo da maternidade abater as vigas do meu casamento… Medos conscientes e que me fizeram buscar a cartilha da Joana e do Joaquim e reproduzir de forma que me protegesse mais dessa vez e que fossem luz às “melhores práticas”, já que as minhas experiências foram muitas, afinal.

Só que não… Mudou a cena, mudou o mundo lá fora, a minha família, o pai da minha filha e eu mesma. Nosso “ninho” não era mais o mesmo, nossas verdades também não. A Antonella era outra criança e a mãe dela alguém que eu mesma ainda não conhecia. Me dei conta que de alguma forma a maternidade me deixou “cagona”. Mesmo “sabida” quanto às rotinas e demandas infantis, me condicionei a andar “dentro da linha” talvez por achar que já conhecia de tudo como mãe, e por isso, o melhor. E na maternidade, como na vida, a evolução e o encontro de novos sabores, prazeres, limites e experiências estão em aventurar-se como se fosse a primeira vez, a primeira saída, a primeira fala, a primeira febre, a primeira noite em claro… Simplesmente por estas serem as primeiras vezes daquela criança e da “mãe dela”.

Pois no último final de semana, depois de muito tempo, saímos o casal e a caçula em um final de semana sem os manos, que andavam por aí com o pai e a sua nova família do lado de lá.  Com direito a hotel, passeio no centrinho, refeições a três, descobertas culinárias, parquinho e caminhadas ao ar livre. E foi incrível descobrir a Antonella e a mãe dela… Os prazeres que são nossos, meu e dela, e aqueles compartilhados com o pai, assim como foram diferentes o cansaço e os desafios. Minhas “ferramentas”, algumas novas, outras enferrujadas, foram usadas de maneira diferente, pois as minhas mãos e a minha consciência hoje são outras, assim como são os meus limites. E essa experiência não poderia ser reeditada com mais ninguém, por mais filhos que eu tivesse na vida…

Então, minha amiga, independentemente da quantidade de histórias, de vivências, de dores, de amores e de limites que tenhamos vivido, e isso vale para a quantidade de filhos também, será sempre a primeira vez… Terá sempre sabor de recomeço. Feliz de quem se aventura. Eu fui… E foi como se fosse a primeira vez.

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