Esta semana ficamos por pouco mais de um turno de um dia de semana qualquer, sem Whatsapp, Instagram e Facebook. Pelo menos foi o tempo que pude perceber. Algumas horas, não sei bem quantas, já que depois da notícia da queda geral destes aplicativos, deixei meu smartphone por aí. Confesso que após reparar que silenciaram-se os “pushs” constantes do meu aparelho, passei a receber uma ligação aqui, outra ali, de forma espantosamente presente e sutil. Ligações com temas importantes e objetivos, mas poucas. Afinal, o resto, a princípio, poderia esperar, e o que é realmente prioridade pede uma chamada e fim de papo. Não era assim até o surgimento das mensagens instantâneas?

Teve agenda, que ao invés de ser marcada por grupos de trabalho às duas da tarde, foi confirmada por todos de uma só vez à noite, quando os aplicativos retornaram. Fotos e informações da escola não foram trocadas, nem notícias sobre a vacinação, a corrupção ou os novos “golpes da praça”. Nem correntes do bem, nem divulgação de produção de pão de mel caseiro de uma mãe, ou o robô de limpeza para tapetes de outra, nem pressão de clientes de cá para lá ou de lá para cá. Senti falta das mensagens do meu marido, que costumamos trocar durante o dia, pela facilidade dos “app’s” no encurtamento da nossa distância, mas senti uma saudade gostosa disso e dele também. Faltaram as mensagens com as amigas, mas a não possibilidade delas me permitiu uma ligação deliciosa com uma e uma fugida rápida para um café com outra. Precisava agendar umas consultas médicas e as fiz rapidamente por telefone… Uma maravilha dos tempos antigos e aquela sensação de dever cumprido e item retirado da lista de afazeres sem “delay”.

Não fiz postagens. Aliás andei lendo, trabalhando, vivendo e assistindo a algumas séries e filmes ao invés de fazê-las nos últimos dias. Combinei comigo mesma que a essência de qualquer coisa que eu quero receber e dar nessa vida precisa vir de bom grado, com satisfação e dedicação prazerosa. E é assim que acontece quando eu posto reflexões na minha página nas redes. Então se não rola nada é porque não fluiu como tinha que ser. E naquele dia “fora do ar” nunca estive tão “no ar”, tão ligada no meu presente, concentrada no movimento de virar a comida da minha filha pequena, escutar as histórias do meu menino falante ou perceber os anseios das sobrancelhas grossas da minha pré-adolescente. Nunca foi tão saudosa e animada a ligação com o meu marido antes de dormir, após um dia sem troca de mensagens. Combinei programas para as crianças no feriado batendo papo no telefone. O café breve e amigo estava mais saboroso do que nunca…

Foi afetuoso e atento, sem atravessamentos, como há muito tempo não era. Um dia para se guardar…

Em segredo, quando tudo voltou ao ar, juro que a maior parte de mim lamentou… De fato a gente não faz tanta coisa ao mesmo tempo, nem troca tanta informação e registros. Nem na superexposição da vida e opiniões da gente, ou no consumo da vida alheia. Paramos de “vender” o que quer que seja por algumas horas ou de comprar e consumir, e perdemos a sensação de trabalhar o tempo todo, pois com a queda dos aplicativos em questão, algo na nossa cabeça e no botão da nossa ansiedade simplesmente desligou. Bastou nos darmos conta de que poderíamos passar algumas horas “sem” e que assim não restariam culpas.

De volta, na ausência de alternativa melhor, desejo podermos ver o mundo andar mais devagar e prestar atenção nele, falarmos mais ao telefone, assistirmos aos nossos filhos, deixarmos o celular em outra peça da casa, folharmos um livro quem sabe, mexermos uma comida gostosa conectados de todas as formas nela. Com todos os nossos sentidos hoje raptados pelo celular. Tudo sem que milhões de dólares precisem ser perdidos pela queda do sistema. Apenas pela consciência de que a vida não precisa ser vivida com pressa nem em paralelo com uma série de afazeres que podem esperar para serem vividos, aprendidos, ensinados, resolvidos e compartilhados, cada um no seu tempo.

Aqui, nunca estive tão conectada “na minha vida” quanto naquela segunda-feira de apagão… Será “fora do ar” a expressão certa? Eu acho que foi bem pelo contrário:)

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