Certa vez, em um papo com a minha “super amiga irmã”, minha “best” da vida toda, falávamos de amor, de casamento, de sincronia, de buscas, de família, do que abrimos mão e do que abraçamos, daquilo que fizemos das nossas vidas. Eu e ela casadas de novo, com filhos dessa segunda empreitada, com os corações pulsando forte, com calos de quem subiu montanhas, atravessou tempestades, andou descalça, como tantas de nós. Ambas crentes nos recomeços, fortes pelas ondas que bateram nas orelhas, pelo compartilhamento de filhos, dissolução de estruturas, carreiras, família. De quem viu o piso balançar sob os pés, enfrentou o infortúnio e precisou buscar outros lugares e sentidos, novas construções para si. Se corajosas ou teimosas na cobrança de tudo o que a vida poderia ser, eu não sei, mas vividas eu diria, intensas também. Cansadas, um tanto. Dispostas a transformar-se, talvez isso nos definiria. Já mudamos tanto juntas e outro tanto separadas, por aí, nos encontrando nos “portos” da vida, que eu diria que a mudança sempre foi algo nosso, comum, que compartilhamos uma com a outra e levamos de “amiga” para a vida.

Talvez você não me reconhecesse na rua se fosse minha conhecida de infância, talvez, se tivéssemos sido colegas de trabalho no meu início de carreira, também não, já que me joguei em oportunidades de mudança algumas vezes, tais quais me transformaram por dentro e por fora. Ela também, me parece que foi ficando mais bonita com a idade, mais serena, que os seus olhos foram ficando mais claros e profundos. A gente vai envelhecendo e caminhando ao encontro da mais pura verdade, sinto eu. Vi a fera acalmar nela e nascer em mim. Transformações que só se dão se a gente não se importar em deixar para traz o que um dia foi, o que achou que era ou que aceitou poder ser modificado.

Então, nesse papo, ela me surpreendeu quando disse que tudo o que ela buscava nas suas relações mais íntimas era paz. Que essa foi uma descoberta da maturidade dela. Que este é o pote de ouro, o diamante da coroa, a luz mais valiosa da vida. Enquanto as minhas buscas e construções sempre objetivavam a amor, ela me veio com aquela história de paz, que à primeira olhada, parecia uma busca confortável de quem desistiu de mais.

Fiquei desconcertada, mas tocada, saindo daquele papo, mais um da nossa história de mais de trinta anos de amizade, com a sensação de que ela me tinha presenteado com algo novo com aquela ideia de paz como destino. Com algo que não constava exatamente no meu repertório, apensar de ser a sensação de paz a primeira que tomou conta de mim quando decidi recomeçar a minha família. Mexeu no meu ventre, me lembrou das minhas gestações. Tocou o meu estômago, a dinâmica do meu coração e a ideia de que talvez a paz fosse o bem mais precioso de nossa jornada individual já que me parece ser mais difícil ter paz do que amar. Que ela não vem de ninguém, nem de alguma coisa, não de fora.

Mulher ansiosa, que sempre fui, não me dei conta de que por traz de toda a minha correria vem a busca exatamente por ela. Que no encontro do amor, sempre minha mola propulsora, o que eu desejava imensamente era colocar o meu coração em paz, tirar dele a agitação, a necessidade de conquistar, de procurar, de se preencher com sentimentos. Ter nele tudo o que um coração precisa para fazer bem os trajetos da vida, maratonados em suas subidas e descidas com paz de espírito. E talvez por isso, se explicaria o tanto de felicidade que há nos corações em paz. Não nos apaixonados, nos excitados, nos desafiados a irem além, nos ocupados, nos aventureiros…

A gente precisa é de paz. Para ser, para gerar, para criar, para multiplicar e para contemplar com gratidão o nosso próprio caminho de descobertas e das conquistas, amores, vivências e felicidade possíveis.

Então, para o ano de 2022 que começa neste sábado, nos oportunizando a revisão como ritual de passagem, me pego aqui sentada escrevendo e desejando de todo o meu coração que os ventos do novo ano tragam paz aos corações. Que os amores tragam paz. Que a maternidade, do jeito possível para mim e para você traga paz. Que o trabalho possa ter a paz como terreno, assim como a nossa consciência na escolha de lido com cada pessoa com quem cruzamos.

Às novas famílias pediria paz em uma conversinha cochichada com o coração. Em voz baixa, contaria da importância da paz para as crianças que ficam. Do quanto somos capazes, enquanto adultos de referência, a construir relações de cuidado, compreensão, parceria e paz com aqueles com quem andaremos pela vida, juntos ou separados, embalando nossos rebentos, sempre nossos bebês. Que amar de novo pode ser uma experiência estonteante se regida pela paz interior, pela autopiedade, pelo amor próprio e pelo que deu conta realizar, caminho tão exigente de percorrer.

De todo o meu coração, se “só se quer é amar”, como diria o saudoso Tim Maia, se é disso que se trata, que seja em paz… Assim, acredito, de verdade, em um próspero ano novo, nos amores perenes, na construção da felicidade possível em cada depois.

Começa, quem sabe, pelo exercício de cuidar de si mesma, sentir o que se passa no seu coração e viver uma vida congruente com a sua fé. É um bom ponto de partida:)

Que comece… Feliz 2022!

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