Existe felicidade no DEPOIS, com toda a certeza do mundo!
Mas cuidado com as ciladas! Elas também podem aparecer!
Venho aqui pra dar um alerta. Não é pra fazer a “advogada do diabo”, a pessimista, mas pra pedir que vocês, mulheres recém separadas, sempre priorizem a sua intuição, o seu sexto sentido, a sua inteligência.
Sou uma FELIZ NO DEPOIS. Hoje, super feliz no meu terceiro casamento, e até podemos voltar a falar dele em outra oportunidade. Mas o meu primeiro “depois” foi quase trágico. E foi assim porque eu não dei ouvidos a minha intuição, as minhas próprias impressões. Estava convicta de que eu estava me auto boicotando com os questionamentos que eu mesma me fazia, e então me entreguei. Me atirei em uma relação totalmente tóxica e abusiva.
Contando do começo, me separei do pai do meu filho após 18 anos de relacionamento. Namoramos desde os meus 15 anos (na ocasião eu estava com 33), tínhamos um filho de 3 anos, e não conseguimos superar uma crise, que também teve traição.
Foi alguma coisa perto da morte, eu confesso. Era a materialização exata da expressão “coração partido”. Quando realmente “caiu a ficha”, a dor que eu sentia era tão grande que parecia que me rasgava por dentro. Era uma dor que praticamente me anestesiava, pois nem chorar eu conseguia. Parecia que não era comigo. Eu não conseguia acreditar que 18 anos depois de uma união perfeita, não existia mais nada além daquela EU ali sozinha, com o coração em carne viva, e com um filho pra criar.
Independente de quem foi a “culpa”, se houve traição ou traídos ou de quem tomou a decisão por romper definitivamente e ir embora, a dor é avassaladora. Era como se o mundo tivesse ruído aos meus pés, e eu estivesse no vácuo.
Me aproveitei da correria do dia a dia, das tarefas com casa e filho, do trabalho e da academia para me distrair e, aos poucos, ir botando os pés no chão e organizando os pensamentos. Foram algumas semanas até eu sair “do escuro” e ter certeza que eu estava viva. Claro que eu não tinha superado nada, mas pelo menos voltei a respirar. Quem já passou por isso sabe que esta ferida não tem cura. Ela deixa de doer, muitas vezes é relevada, adormecida, praticamente esquecida, mas ela sempre existirá.
Mas a vida segue e o mundo dá voltas. Nada mais clichê que dizer que o tempo se encarregará de ajeitar as coisas, mas é exatamente isso: O TEMPO SE ENCARREGA DE ACALMAR OS CORAÇÕES, AMENIZAR A DOR E TRANSFORMA-LA, inclusive. Se uma separação provoca um estrago terrível nas nossas vidas, ela também traz boas oportunidades de recomeçar.
E eu, uma otimista incorrigível, em poucos meses recuperei minha energia, meu astral, e me permiti viver um novo relacionamento.
Na verdade, hoje pensando, nem era pra ter sido um relacionamento, e sim um “encontro”, uma curtição, uma desopilada. Mas graças ao perfil do homem com quem me envolvi, logo virou namoro.
Nos conhecemos através de amigos em comum do Facebook, conversamos por Messenger por algumas semanas, e marcamos um café. Daí pro namoro foi automático, e nós não desgrudamos mais.
Ele era 13 anos mais velho, bonito, alto, quase atlético, empresário bem sucedido, separado há 3 anos e tinha uma filha de 17. Dizia que procurava uma mulher exatamente da minha idade, do meu jeito, já realizada com a maternidade e com disposição pra curtir a vida a dois. E eu, que por algum tempo me perguntei “quem vai querer esta não mais menininha de 33 anos com um filho de 3 pra criar?”, fiquei encantada em saber que um homem gentil e interessante como ele, procurava exatamente por isso!
Só pra situar a cronologia dos fatos: me separei no inicio de março, começamos a namorar em maio, e em julho seguinte ele me levou pra Europa. Providenciou absolutamente tudo, desde passaporte (que eu nem tinha), passagens, hotéis, roteiros, e eu passei meu primeiro aniversario pós separada em Paris. Era ou não era um sonho?
Na volta da viagem ele me disse que aqueles 15 dias tinham sido como um teste, e que naquele momento ele estava decidido a casar comigo e ia procurar um apartamento pra nós. Oi??? Casar?? Eu nem tinha me divorciado ainda!
Mas ele era muito agilizado e determinado – e eu só via isso como qualidades – e assim comprou um enorme apartamento, no bairro Petrópolis, bem na frente da casa dos meus avós “pra eu ficar perto da minha família”. (Um parêntese: meus pais moravam em Brasília nesta época. Eu passei por todo o processo de separação e recomeço, sozinha com meu filho).
Começamos a projetar o apartamento (que estava semi pronto), mobília, decoração, e assim nosso namoro era cheio de novidades e perspectivas lindas!
Ele não levava o menor jeito com criança, mas tentava sempre agradar meu filho, colaborar com a minha maternidade, sempre muito superficial e pouco afetuoso, no sentido “físico”. Eu considerava que era timidez (ele era muito tímido e reservado), e via ele agindo da mesma forma com a filha adolescente. Era um relacionamento bom, mas com poucas demonstrações de afeto, e sempre questões financeiras envolvidas. Eu não me metia. A menina era a copia dele na maneira de ser. Eu só observava.
Em maio do ano seguinte saiu o meu divorcio. E no mesmo dia ele me pediu em noivado.
Em junho casamos no civil, em uma cerimônia muitíssimo intima, apenas com meus pais e os 2 irmãos dele como testemunhas, e um brinde em uma suíte do hotel Sheraton. Tudo organizado e providenciado por ele. Da papelada à lua de mel posterior em Gramado.
Eu me sentia feliz, quase deslumbrada por finalmente ter alguém fazendo coisas “pra mim” e “por mim”. Era uma maravilha não ter que ser a pessoa que pensa, que articula, que decide, que providencia… Na minha vida até então era “tudo eu”… e agora eu estava recebendo tratamento de rainha. Que mal há nisso? Não tem nada de errado! Eu mereço isso que estou vivendo”. Estes eram os meus pensamentos na época. Quando a minha intuição me provocava questionamentos ou duvidas, eu tratava logo de afugentar esses pensamentos certa de que estava me auto boicotando.
Ele me chamava de querida, de lindinha, de boneca, de pequena. Tão fofo – eu pensava. Não queria que eu trabalhasse tanto, me levava e me buscava onde eu precisasse, disponibilizava sua secretaria para os meus assuntos pessoais, enfim, eu tinha um vidão, cheia de cuidados da parte dele.
Mais um aniversario meu, e fomos nós pra Europa de novo. Outro super roteiro organizado por ele!
Nestas alturas do relacionamento, ele já conhecia minhas melhores amigas devido a alguns encontros e jantares, mas eu não conhecia ninguém além dos 2 irmãos dele. Ele simplesmente não tinha amigos. Não tinha. Nem antigos, nem novos. A ex mulher não podia nem ouvir falar dele. “É uma louca varrida” – ele dizia. Claro, eu pensava. Como perder um homem assim e ficar bem? Não tem como.
Em casa, algumas manias estranhas começaram a aparecer com certa frequência. A imagem da TV – gigante – nunca estava boa o suficiente; a geladeira nova fazia muito barulho. Mandou trocar a TV. Mandou trocar a geladeira. As 3 maquinas de café expresso que tínhamos não faziam o expresso perfeito. O piso laminado foi colocado e recolocado 4 vezes. Hora não estava suficientemente reto, hora fazia barulho ao pisar. O edifício em que morávamos – novo!!! – não era bom. Nos mudamos pra um melhor. Este tinha uma vizinhança barulhenta. E depois de 8 meses mudamos de novo. Cada hora por um motivo. E assim eu era obrigada a concordar que era estranho, exagerado, mas sempre considerando o perfeccionismo dele nas coisas. Ate os cuidados dele comigo soavam estranho as vezes, mas eu sempre pensava que era amor.
Abrimos uma empresa em sociedade. Ele tocava, juntamente com a empresa dele, e eu era só uma sócia cotista. Ele começou a solicitar minha participação em toda e qualquer atividade da empresa. Eu achava ótimo, e como administradora de formação, analisava relatórios de resultados e direcionava as estratégias. Que ele nunca seguia, nunca acatava. Ele pediu que eu largasse meu emprego (publico, concursado), para me dedicar mais a empresa pois “os negócios precisavam do meu toque”, e “poderíamos trabalhar mais próximos”. Graças ao bom Deus nunca cogitei deixar meu emprego. Me virava em mil, e tentava dar conta de tudo.
E outras coisas estranhas começaram a acontecer. Eu saia para trabalhar e ele ficava dormindo. Eu voltava e ele já estava dormindo. Bebia além do vinho amigo. Encontrei remédios pra dormir. Remédios pra acordar. Copos sujos de bebida alcoólica em horários aleatórios.
Tentava conversar, entender o que estava acontecendo, e ele era radical: estava tudo bem e eu estava fantasiando. Tentei muitas vezes. Implorei que procurasse ajuda psicoterápica pra ajudar a entender o que estava acontecendo, mas sempre fui vetada, até com certa grosseria.
Um dia ele me disse que numa consulta com um renomado medico psiquiatra, este teria aventado a possibilidade dele ter um transtorno psíquico cíclico. Ele xingou tanto esse medico que nem me atrevi a perguntar o que seria esse transtorno. Meu marido gritava de dentes cerrados que um dia ainda voltaria neste mesmo psiquiatra e daria uma lição nele. Fiquei com medo desta reação tão descabida.
Comecei a me assustar com estes comportamentos. Eles vinham junto de fantasias e ciúmes de pessoas aleatórias, sem nenhum sentido. E o consumo de bebida continuava. E ele cada vez ia menos para a empresa.
A essas alturas eu estava gerindo a nossa empresa sozinha, tentando organizar empréstimos que haviam sido tomados, cartões de credito em comum, uma batalha judicial horrível e caríssima com a filha por aumento de pensão, e dia após dia, o príncipe virava sapo e a minha vida de rainha desmoronava. Já tinha parado a academia e minhas aulas de dança. Tomava remédio pra dormir pois ficava tensa enquanto ele não dormia.
Nas conversas que tínhamos o foco agora era EU. EU precisava de terapia. EU estava estressada e louca. EU estava fantasiando tudo. E acreditando nisso procurei ajuda.
Graças a competência e perspicácia da profissional que me atendia, foram poucas consultas e ela me trouxe o prumo: EU ESTAVA EM UMA RELAÇÃO TOXICA E ABUSIVA. Precisava ser forte e sair dela.
Minha decisão foi após uma noite em que, vendo meu marido bêbado e falando coisas sem sentido, eu me tranquei no quarto do meu filho e passei a noite com ele. Ali decidi que não ia correr mais nenhum risco e muito menos expor meu filho a qualquer vida parecida com aquela que estava tendo. (Importante: meu marido nunca fez nenhuma “cena” na frente do meu filho. Assim como nunca me agrediu fisicamente).
No dia seguinte era véspera de dia das mães, e eu avisei meu marido que faria uma pequena viagem com meu filho para a serra, só nos 2, para comemorarmos. Foi um fim de semana incrível com meu pequeno, que inclusive tem as melhores lembranças desta data, e foi quando aproveitei para providenciar um novo apartamento (alugado), mudança, e uma guinada de 180 graus na minha vida.
E foi assim. Decidi. Comuniquei. A empregada domestica que eu tinha na época, e que acompanhou todo o meu tormento, me ajudou com a mudança. Peguei praticamente só objetos pessoais meus e do meu filho, e eu fui “me salvar” longe dali. Meu filho ficou na casa do pai (que também me ajudou muito com a documentação do apartamento alugado) por uma semana seguida, pra que eu me organizasse.
A mudança chegou e eu caí de cama. Uma gripe e febre alta como há muitos anos eu não tinha. Fiquei 4 dias doente e acamada. Não conseguia levantar nem pra ir ao banheiro. No quinto dia lembro que o sol batendo na cama – me acordou e eu me senti diferente. Levantei, abri as primeiras caixas, tomei um banho e fiz um Nescafé. Foi o melhor café que já tomei na vida. Olhei pela janela da sala, ainda sem cortina nem persiana, e a vista era de uma praça simples e linda. Ali eu nasci de novo.
Pra encurtar a historia e salientar o quão diversas podem ser as situações de abuso, resumo aqui que, no desenrolar da historia, tomei um golpe financeiro sem tamanho (para os meus padrões). Havia dividas pela empresa, em cartões de credito onde eu era titular, financiamentos onde eu era parte…. Meu marido lavou as mãos. Disse que a situação era aquela e não poderia fazer nada. Por meses questionou minha decisão, me mandava mensagens e emails cheios de raiva, desaforos até partir pra xingamentos. Eu realmente não poderia esperar nada dele.
Pra limpar meu nome e realmente começar do zero, tive que vender o único bem que tinha em meu nome (e que havia “herdado” do meu primeiro casamento): uma casa em condomínio na praia de Xangri-lá.
Foi uma dor imensa me desfazer do que eu chamava de “meu pedacinho de paraíso”, mas era o único jeito de quitar as dividas todas e virar essa pagina. Fiz isso. E confiei que tudo ia começar a dar muito certo pra mim neste recomeço.
E deu. O que já é um outro capitulo.
Queridas leitoras deste espaço incrível que é o New Families!
Meu recado é: nunca subestimem os sinais. Nunca relevem sua intuição, seu sexto sentido.
Este relacionamento só aconteceu porque me encontrou no momento mais fragilizado e difícil da minha vida. Eu não sabia mais quem eu era, do que gostava, o que queria fazer da minha vida após um casamento tão longo e uma separação tão dolorosa. Eu não tinha auto estima. Olhando para trás, eu nem me reconheço naquela pessoa, naquela mulher queridinha e pequeninha como ele me chamava. Lá, não era eu. Eu não sei como eu me arrisquei tanto, com um desconhecido sobre o qual eu não tinha nenhuma referência no mundo, exceto as versões de tudo que ele mesmo contava. Eu não sei como me entreguei a um compromisso tão serio e importante que é o casamento, que é o dividir a vida com alguém. Ele sugou toda a minha energia, todo o meu brilho, e quem me conhece sabe que sou extremamente solar.
Agradeço todos os dias por ter tido coragem e discernimento para buscar ajuda e acabar com este relacionamento quase tão rápido quanto comecei.
Estamos divorciados há 5 anos e desde então nunca mais nos falamos nem o vi.
Atenção, mulheres! Olhos abertos! E coragem sempre!