Desde que idealizei este projeto e que as histórias começaram a se organizar e se multiplicar na minha mente, tenho contado com a cumplicidade dos meus filhos e do meu marido. Com seu amor. Com o que cada um deu a mim como apoio, a seu modo. Joaquim, perambulando a minha volta e me espiando nos momentos de escrita. Joana, da forma que lhe é peculiar, mais clara e participativa, se mostrando a todo tempo interessada, curiosa. Ao ponto de eu me permitir dividir com ela alguns temas os quais ela já teria capacidade de compreender. Meu marido, sempre atencioso, sendo ouvidos e olhar admirado frente aos tantos textos que li e reli para ele. Tarde da noite, na estrada para Santa Maria, durante um café. E que sensivelmente percebeu a cara e o propósito do que eu estava fazendo. E assim criou comigo, a quatro mãos, o ambiente digital onde essas histórias fariam casa.

Pois então, essa era uma premissa básica minha, desde o início. O mais importante sempre foram eles. O projeto, inclusive nasceu disso. Da possibilidade de fazer da nossa nova rotina, da nossa nova família, melhor. E para acontecer eles teriam que me apoiar e gostar do que me proponho quando conto, nas minhas crônicas, sobre as nossas experiências.

Incrivelmente, mesmo por se tratar da transição da minha vida pregressa para a vida que conquistei agora, e na qual construí uma família, tive por parte do meu marido aderência. Ele ouve com a digna atenção que um trabalho feito com o coração merece. E após cada texto, transborda a sua admiração, normalmente com pouquíssimas considerações. E quando estas aparecem, vem sempre delicadamente e em minha proteção. Aquela que ele, na posição de marido e pai de coração daquela família, preserva com todo o cuidado. Porque se trata da sua, mesmo que diferente, mesmo que compartilhada.

O Joaquim, que costuma me acompanhar de longe, enquanto brinca, vez ou outra se aconchega perto. Nos meus braços ou no meu colo, enquanto escrevo. Como um gatinho. Caminha se enroscando em mim, acompanhando os meus olhos. Como se procurasse neles os meus pensamentos. E muitas vezes, captura minha emoção nas lembranças que o processo da escrita me traz. Dá pequenas ciscadas no terreno fértil dos meus textos, da minha imaginação. Sem perguntar nada, apenas me observando e à minha felicidade no que estou fazendo. E me deixa ali. Me deixa sendo feliz enquanto me faz companhia.

Então vem a Joana. A menina perspicaz, esperta e profundamente sensível que nasceu de mim primeiro. Essa veio para me ensinar. Ela vive a vida comigo, troca, sente junto, sabe? Ela vive a minha escrita, junto. Do lugar dela, de filha. Empática, ela acompanha cada tema e consegue identificar o que faz bem a mim, na minha posição de mulher e mãe, e o que faz bem a ela. Como filha e parte daqueles fatos, daquela nova família. Que do rompimento, renasceu. E tanta coisa faz bem a ela, que a espiada dela aos textos é diferente. Ela quer lê-los. Entende-los melhor. E por muitas vezes se emociona, pelo meu olhar otimista, construtor e incansável atrás da felicidade nas coisas. Se emociona pela minha emoção sim, mas principalmente pela que sente em relação a cada fato narrado. Principalmente pelo que toca ela. E isso é realmente lindo de ver. Me impulsiona a gerar mais e mais.

Eis que tomávamos café da manhã em um posto de gasolina, eu e ela, enquanto os meninos abasteciam o carro. Descemos molecas, nos sentamos juntinhas e dividimos o entusiasmo do blog New Families – Cuidado Compartilhado, em vias de lançamento. Então, perguntei àquela pequena parceira de vida, que assuntos poderia tratar ainda nas crônicas. O que, na opinião dela, seria relevante trazer. Considerando sempre o nosso contexto. O das novas famílias que nascem.

Daqueles olhos verdes ardósia veio o brilho do entusiasmo. De temas que não poderiam faltar. Que ela tinha descoberto como pequenos tesouros, ideias achadas no fundo de um baú, às luzes do nosso túnel. Do nosso desafio de não deixar escapar nada que seja importante para os integrantes daquele barco. Da nova família. Mas principalmente do nosso, no qual seguimos navegando pela vida, e sendo felizes.

Então, veio o tema número um: “As famílias deveriam inventar festas nas quais todos se encontrariam e ficariam amigos”.

Sim, ela quer. Sempre quis paz entre os povos. Quer amizade entre pai e padrasto, mãe e avós, avós novos e avós velhos. Quer um sinal de que todos ficaram bem após a turbulência da transição. De que nos perdoamos, nos aceitamos e assim, compartilhamos de nossos filhos. Protegendo-os pelos braços de um cenário estável, livre e tranquilo. Sem hostilidades. Só de paz e amor.

No segundo, veio como um balde de água fria, de lucidez, de qualquer coisa que corte o “mimimi” do mundo adulto, traduzindo a simplicidade do olhar de uma criança perante a vida.

Minha Joana disse: “Fala para que os pais não escondam dos seus filhos o sofrimento que estão sentindo. Eles percebem tudo o que está acontecendo. Então, ou devem resolver o problema, ou devem se separar. É melhor assim, para todo mundo da casa. ”

Uau. Uau…

Ela já percebia? É isso mesmo que ela pensa a respeito? As coisas são tão simples assim?

Sim, essa é a minha Joana. Quem conhece, sabe… E sim, eles percebem, os filhos. Pensam que problemas devem ser resolvidos, de um jeito ou de outro. E que sim, é simples assim. E eu vou aprendendo, dia-a-dia com eles. Que somos nós que complicamos tudo. Que tornamos o simples, confuso. Que é esta insegurança e falta de lucidez adulta que desestabiliza o mundo das crianças. Essa que complica. Que estende o problema. Que desgasta. Não é a troca de casa, nem a nova rotina. Não quando se tem respeito e boa-fé entre as partes. Não quando se tem cuidado. Não quando se cria um ambiente seguro, onde cada um tem o seu papel. O seu lugar. Independente do rumo que aquela família tomou. Simplesmente porque nada foi perdido. E se bem conduzido, eles ganham. Todos ganham. E o resultado desse movimento é de responsabilidade dos adultos. Principalmente dos pais.

Então, se não estás fazendo o tema de casa neste sentido, sugiro que se mexa em direção a isso. Você escolheu ter filhos, e o fim do seu casamente não lhe desonera de ser pai e mãe. Dos melhores que puderes ser. Porque eles precisam disso, merecem. E o retorno, somente bons pais hão de reconhecer, pela vida afora.

Grata a minha Joana, pela inspiração. Ao meu marido e filho pela acolhida.

É uma honra viver essa travessia sob o olhar dela, e dos meus meninos.

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