Quero falar sobre o maior dos medos quando se começa a vida de novo com dois filhos. Quando já está tatuado no teu passado e traduzido no fruto dos filhos que ficam, a história de um casamento rompido, de um amor que acabou.

A primeira sensação é a de não querer mais uma relação a dois. De distanciar a possibilidade da entrada de alguém novo. Talvez porque o sentimento que reina é o da incapacidade de ter um amor, de fazê-lo perene na vida.  De fazê-lo forte, a ponto de aguentar qualquer tempestade. De vive-lo diferente da forma conhecida e que foi verdade até ali, aquele ponto da vida, no qual enfrentamos o fracasso do casamento na sua primeira tentativa. Não quero dizer aqui que não fui feliz, já que em vários momentos colhemos frutos do tanto de coisa certa que fizemos. Afinal, meu casamento durara quase 10 anos, e dele tive dois filhos lindos e outras tantas coisas boas que o fizeram chegar até ali.

Só que na manutenção do amor eu fracassei. Pensava o tempo todo sobre a “pecinha” em mim que estava com defeito. Fazia este movimento de procura-la havia alguns meses antes da separação, e continuei procurando o meu “problema” depois de separada. Porque se o achasse, precisaria entende-lo e depois me livrar dele pelo tanto de sofrimento que me trouxe. Por não querer passar de novo. Tornando-o aprendizado.

Além do problema que parecia meu, eu tinha o nosso. Éramos três, compactos, unidos pela vida com o amor inabalável entre mãe e filhos. Éramos uma célula única e amar de novo significaria receber alguém neste espaço familiar. Alguém com querer. Alguém que realmente quisesse construir sentimentos puros pelos filhos de outro e de mim. E por isso, além de raro, seu amor precisaria ser gigante.

Que medo. Não sei se de ele existir, ou não.

E foi então que, na chegada do grande amor que eu não conhecia, que as minhas pernas bambearam. Era explosão de sentimentos e de medo. Medo daquela oportunidade que estava recebendo da vida de amar intensamente, de forma madura e agora, vacinada. Mas de amar errado. Medo de errar. O medo mais profundo de ser incapaz de reconstruir uma nova família com um outro homem, que não era o pai dos meus filhos. Medo do passado que este amor também traria, de sua história, frustrações… das entranhas do seu coração também maduro.

Ele veio sem herdeiros, o meu amor. E nos abraçou os três. Enfrentei o medo e o enfrento ainda, em doses menores, todos os dias. O medo de quem conhece o caminho do erro e não quer pegá-lo mais. Medo aquele que administro por ser uma mulher de quase 40 anos e não mais uma menina, vivendo uma grande paixão, uma história de amor. Agora, com a bagagem do tempo. E enfrentando o meu próprio preconceito de muitas vezes me entender uma opção mais complicada, mais difícil para o reinício de qualquer um. Pois eu trazia filhos e um ex-marido.

Só que o medo, se usado como garra, leva a gente mais longe, mais além. E passei a usar o meu a meu favor. Acreditei no amor que recebi de presente e o vivi usando o medo como aliado. Cuidando de mim e do meu pacote com luz, com vivacidade, de peito aberto. E assim nos fazermos dignos de outra chance, de outro amor. Construindo no dia a dia a minha chance, como orientadora deles e da minha nova família, forte e vigorosa. Como mulher, como mãe e como profissional. Porque eles, mal começaram. E chances na vida não lhes faltarão. Mas só as identificariam se vissem na mãe a capacidade de construí-las. De não se derrubar ou menosprezar.

E o medo toma ferro do amor da minha casa todo o santo dia. O amor vence, invicto, há mais de dois anos. E descobri que na minha busca pela “pecinha” errada em mim, não havia nada, a não ser a falta de medo na qual vivi antes, sem enfrenta-lo. Ignorando-o como que vivesse acima do bem e do mal, como se nada fosse páreo para a minha escolha de vida anterior, para a minha pseudo felicidade. Como se coisas e pessoas fossem invencíveis. Ignorando a força necessário e a dedicação que temos que ter com quem amamos para vencer na vida com eles.

Mas acima de tudo, cultivando o desejo de me tornar um ser admirável a mim mesma. E aquela história linda que carrego comigo. Vida, capacidade de gerar, de criar espaços no coração e de vencer as barreiras de frente, de pé. Podendo presentear o novo que chega com fortaleza, com segurança e com duas crianças adoráveis.

Pois então. Ele está aqui. O medo. Vive ao meu lado. Sob as minhas rédeas. E o olho todos os dias nos olhos. Grata por me impulsionar para frente. Por me fazer ser melhor. E assim, sem perder ele de vista, vou sendo capaz. Capaz de tudo, capaz de amar sim e de reconstruir o resto da minha vida.

Comentários

  • keila Brasil 24 de março de 2018

    Me emocionei a cada linha que li, me identifico com a leitura como se fosse minha história sendo contada, com uma única diferença! Um filho a menos.. Parabéns pelas belíssimas palavras. Obg por dividi-las conosco…

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