Tenho pensado nas relações de amor. Em como elas acontecem e acabam. E queria dividir com vocês um pouco do que sinto ao ter o privilégio de ver tantas acontecerem a minha volta, parte pela minha sensibilidade e paixão pelo tema, parte pelos caminhos que o blog New Families me proporciona. Também não é da poltrona de uma profissional da área das emoções. São apenas percepções do observatório da vida. Desta que já divido com vocês há tempos.

Assisto as pessoas arriscarem diariamente o que mais buscam na vida. O que mais prezam. O que é tema de filme e fonte de desejo. E fazem isso, acreditem, após encontrarem este objeto de profundo valor. Este objeto, que não o é. Mas que é imenso no ato de nos completar.

O amor.

Falo dele quase de joelhos, tamanho o meu respeito e devoção pelo que é, pelo valor que tem. Busco ele de pequena e identifico ser essa uma busca generalizada. As pessoas que não o tem, lacrimejam a ansiedade por não terem o achado ainda, em uma mistura de falta de fé nele existir e esperança para se agarrar na menor possibilidade de que sim. De que anda por aí. Os que acharam e o realizaram, o tratam muitas vezes com menos valor. Já está conquistado, então vão adiante. Como se o amor não fosse orgânico, mutante… como se não demandasse de alimento. E os que o vivem recentemente, reconhecem essa sorte. Aí, neste momento, está fazendo de tudo para eterniza-lo, para vivê-lo de verdade. Porque está face a face com ele, ainda grato e incrédulo.

Este é o tema que quero trazer para reflexão junto aos amados e amantes, desse barco que é a vida.

Porque amores acontecem e casamentos acabam? O que deixaremos de marcas afetivas profundas nas nossas vidas e referência aos filhos que assistem nossas relações de amor, de homem e mulher? E se pode ser profundo, prazeroso e perene este amor, esta vida a dois, em uma jornada que nem é tão longa, porque os casais não conseguem vencê-la juntos?

Ah, se eu soubesse…

Aí estão centenas de divórcios acontecendo ano a ano com um monte de porquês, justificativas e desculpas para pequenas decisões do dia a dia, para caminhos tomados individualmente, para incapacidades no ato de se conhecer, de se aceitar, de amar, ou mesmo por, no ato de doar o que tinham disponível, acabarem não se fazendo suficiente. Assim, pessoas então sós, saem na busca de um novo amor. Com um monte de investimento financeiro, de tempo e de fé. Mas além disso, imbuídos do maior de todos, que são as emoções, os sonhos, os desejos. Para começar de novo algo novo. Talvez por uma simples troca de ciclo, por um novo momento a partir do reconhecimento de um novo “si próprio”. Ou por uma incapacidade de dar sequência ou perenidade àquilo que só depende da gente continuar a doar ao amor que em algum momento conquistamos. Que tivemos nas mãos.

Motivos são muitos. Na maior parte acredito, se concentra a atuação. A vontade de encaixar o amor na gente e a gente no outro, quando ele parece acontecer. Pouca honestidade consigo e com o parceiro potencial. Nas idealizações. Na necessidade de corresponder às expectativas do mundo a nossa volta ou mesmo do que cobramos de nós mesmos, ser e realizar, nas nossas vidas afetivas. E essa falta de verdade ou de autenticidade e respeito com si próprio, nos distancia da possibilidade de dar certo, até não reconhecer mais aquele potencial amor inicial, aquele que se achava assim, que parecia ser. Tem também quem é honesto, escolhe o amor e com ele ficar, mas não tem a real disposição de se dar, de se mover, de construir junto o melhor para aquele empreendimento. Entra o “esse sou eu” e só. Como se essa fosse a sua melhor versão a ser apresentada na vida. O melhor que se pode ser para o outro. E tem histórias raras de quem cuida desse sentimento todos os dias da vida, nos pequenos detalhes.

Conheci poucos, pouquíssimos. Adoro lembrar do pai de um ex namorado da adolescência, o qual assistia naquela época presentear a esposa e as filhas no dia da mulher com uma rosa no café da manhã. Por uma vida inteira o fez. De atitude cavalheira, repetida sem balbúrdia, sem buscar louros. E assim era com tudo, com o tratamento no detalhe que tinha com sua esposa e que eu admirava, boquiaberta. Eu era jovem, mas talvez já percebesse que aquela era uma atitude de se admirar, tamanha sua raridade. E ali construí meu olhar sobre a coisa toda. O de que não deveria ter o “jeito dele ou dela” de amar. O “é assim que a pessoa demonstra”, “é assim que a pessoa é”. Existem sim formas boas e ruins. Simples assim. O que vem do ato de demonstrar afeto pelo outro, e que exige sim esforço, e o que é do meu jeito, o outro gostando e entendendo, ou não. E aí, a minha sensação é a de que uma é feita realmente com consciência, com amor de verdade, e a outra o abandonou quando decidiu não o fazer chegar ao destino. Simplesmente. E nestes casos, a saída para salvar o amor e seu valor recai no rompimento, no divórcio. Porque perdemos ele, o sentimento. O deixamos ao vento, aquele que mais procuramos na vida.

Crente disso, vivo assim e muitas vezes fui mal interpretada. Por deixar amores para trás. Amores sem amor. Amores que deixaram de ser, de comunicar, e que por isso deixaram de amar. E fui atrás de vivê-lo na sua essência ou me trairia, seria desonesta comigo, além de ser com o outro. Porque casamentos não foram feitos para se ter filhos e embalar cadeiras de balanço lado a lado, somente porque essa um dia foi uma escolha de vida. Casamento é a consumação do amor entre duas pessoas e é por ele que se sustenta. Ou deixa de fazer qualquer sentido. Pois amigos e companhias a vida está cheia e elas não precisam dividir a cama com a gente. Na cama deve viver o amor. Do jeito que for, mas sempre amor. Aquele que sai de um para o outro e do outro para o um. Que pode ser novo, apaixonante, ou maduro e amigo. Aquele que procuro vivenciar todos os dias com os meus filhos, com o meu marido, em conversas e com demonstrações. Com esforço de fazê-lo chegar em quem eu quero bem. Aquele que exige sim de mim. Mas que me evolui, me leva mais longe, me faz melhor.

E com ele me comprometi. Com o Amor. E é com ele que tenho um casamento eterno. Com o ato de amar, com consciência, e sem economia. E assim, também ser amada. Porque o procurei, e muito. E pelas minhas mãos e coração, não será desprezado jamais.

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