Ter irmãos é daquelas situações da vida que não importa o que você faça, serás um igual. Nada pode ser mais cristão. Perante Deus, todos são filhos. Não é assim? Pois por mais que você faça, por mais que o cenário te provoque a uma natural competição quase que o tempo todo, por te colocar em linha com outros, não haverá jamais um vencedor naquela condição na vida. Quem tem filhos sabe. Não se ama mais um filho que outro. Não importam as circunstâncias.

Não falo aqui de incapacidade dos pais quanto ao reconhecimento das diferenças e dos potenciais dos filhos. Em toda a família há o que se deu melhor nisso, outro naquilo, e até o que não se acerta com nada. É tudo da vida. E tenho a impressão, como mãe, que isso é até uma loteria, já que nada que possamos fazer garante sucesso. Simplesmente estimulamos e assistimos. Impulsionamos, amamos, cuidamos dos machucados, oramos… mas se não for para ser, se não for para aquela vida, não será.

Aqui em casa tenho filhos completamente diferentes. Acho que é o que ocorre na maioria dos lares. Um se dá melhor nos esportes, outro na capacidade cognitiva. Um tem uma inteligência emocional acentuada, outro a intelectual. Um come mais frutas e verduras, com um apetite natural pelo fresco e saudável. Outro adora e reconhece as delícias da gastronomia, do mais elaborado. Aqui um é claro e o outro mais escuro. Um tem olhos azuis, outro, verdes ardósia. Um é menino, outro, menina. E com todas as suas diferenças, amo os dois. Igual. Simples assim. Sem ressalvas. Sem pódio. Todos em linha.

Essa é a mãe, e imagino que com o pai não seja diferente.

Falei até aqui de dois filhos, pois o pequeno pacotinho que alimento e carrego nos braços nos últimos seis meses ainda não demonstrou sua personalidade em formação. O que posso dizer, é que tem olhos escuros. A terceira cor da minha aquarela familiar. Mais um diferente.

Só que nesse cenário de iguais, tão cristão como uma definição perfeita para o que não empodera um sobre o outro perante os pais, eles nascem competindo. Se amando, mas buscando o tempo todo um passo à frente. Este que afirmo que pelo menos aqui em casa não há.

Nem sempre esta condição é aberta. Nem sempre é consciente. Mas ela acontece sempre que invocada a posição de filho. Sempre que sentar nessa cadeira. Sempre que na frente dos pais. E aqui em casa não é de hoje que acontece. Principalmente pela pequena diferença de idade dos meus mais velhos. Aqui o bicho pega. Mesmo nessa parceria linda de duas crianças que fora daqui são uma dupla. Que se protege e anda junta, entre uma e outra de suas casas. Mesmo assim, sob o meu nariz, brigam pelo seu lugar ao sol. E com a chegada da terceira integrante, chegou mais um amor para eles sim, mas mais um concorrente. Na corrida pelo tempo e pelo amor da mãe.

Vivemos tempos escuros aqui em casa, de ajustes. Momentos pós furacão. A chegada da nossa “terceirinha” mexeu nas bases por aqui e causou um pequeno caos emocional. O ciúme pegou mesmo. E de forma diferente para cada um, ambos foram atropelados. Ambos sofrem. E, naturalmente, vivo por conta da minha consciência, um dos momentos mais exigentes da minha história como mãe. Da minha vida em família. Estou há dias sofrendo com os meus filhos. Pela incrível dificuldade que é receber um novo irmão. Pelo que é sensorial, pelo que não é racional. Porque se fosse, não seria questão aqui, já que amo em mesma intensidade três. Independentemente de suas diferenças. Todos amores da mãe em igual importância. E na idealização da mãe aqui, era para ser só paz e amor. Só alegria e companheirismo entre eles. Mas não é. Onde permeia tanto amor, não existe paz no momento. Parece cena do planeta dos macacos… Eles de repente se rebelaram, viraram um exército de um homem só em defesa do seu continente. Como um jogo de War.

Havia lido sobre essa possibilidade antes da chegada da bebê. De certa forma eu já esperava. Na nossa nova constelação os lugares foram mexidos, tipo dança das cadeiras. Além disso, a dimensão das posições também mudou. De cadeiras, passamos todos a banquinhos menores. Com menos espaço e menos tempo. Exigindo ajustes e a adaptação a tempos menores uns com os outros. No colo do pai afetivo, no colo da mãe. No carro, nos finais de semana em família. E aí, o cenário para a competição foi se desenhando naturalmente.

Só que é isso. Só isso. A vida é assim. E é assim ter irmãos. Ter irmãos é a nossa primeira experiencia de compartilhamento na vida. É quando aprendemos que não morremos de dor por não ter nosso objeto de amor só para nós. E que, aliás, isso não existe, e acreditar em uma realidade assim só tardaria a frustração. Pois ninguém é exclusivamente de ninguém.

E nessa vivência, irmãos carregam ensinamentos para a vida. O tempo vai passando, o ciúme diminuindo e dando espaço a laços fortes de amizade, de cuidado. De amor mesmo. E aí, minha consciência fica leve…. Dei amigos aos meus filhos. Parceiros de uma vida. Apoios, confidentes. E, se não agora, neste momento tão delicado, um dia irão entender. E aí, terão uns aos outros, muito além de mim ou dos seus pais.

 

 

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