Andava procurando e procurando sem parar, por algo que desse sentido a minha vida. Algo além do amor romântico que sinto, e da maternidade. Além dos filhos. Além do meu parceiro, meu amor. Algo que morasse em mim. Que fosse meu. De raiz própria, com o meu DNA. Algo que só vivesse aqui, em algum cantinho meu, e que consistisse na minha usina própria. E preenchesse o meu ser.

Desejei por anos acordar apaixonada. Não pelo amor romântico, pois já o encontrei, e assim, apaixonada, já acordei. Não pelos filhos amados, pois já os tenho e por eles vibro. Mas desejei a paixão por algo meu. Só meu. Que residisse nos vasos do meu coração. Que circulasse nas minhas veias, além deles. Do meu amor, dos meus filhos. Da minha origem, do meu entorno. Algo que fosse só daqui. Da minha morada. E que em mim, tivesse raiz.

Orei por muito tempo por um motivo para levantar. Além da linda família que construí, ou dos afazeres que possuo como mulher, profissional e mãe. Orei por uma força. Que fosse maior que eu, além de mim, mas só minha. Que me conectasse ao real motivo de estar aqui, e me trouxesse um prazer genuíno. Que me desse vida, além da que eu já tenho. Mas vida minha, própria, feita de mim. E então aconteceu.

Há dois anos escrevi algumas linhas por demanda de um projeto de novas famílias um tanto pragmático, na sua concepção inicial. Diferente do que é realizado hoje, e que não vem ao caso, mas que tinha o objetivo de criar apoio às novas configurações familiares que andam por aí, como a minha e talvez a sua. Que idealizava uma estrutura, um “guarda-chuva” para as crianças, filhas de famílias de formatos diferentes. Só que ao rabiscar as primeiras linhas, fui tomada por uma avalanche de sentimentos, de dores e de consciência, que se transformaram em remédio para mim, a cada palavra escrita. Cada texto, uma gestação. Com espera, confusão de sentimentos, sensação de não dar conta, depois de dar, angústia, dor e depois, a cura. E nada de bebês, mas fins e recomeços. A cada ponto. Marcos que fechavam portas entreabertas na minha história, mas que combinaria também serem chamadas de feridas. As quais fui tratando uma a uma, quando coloquei a dor para fora. Quanto acolhi dramas e dilemas meus frente ao novo que se apresentava a cada dia na minha vida de divorciada. E então descobri nesse processo uma paz inesperada. Um propósito de vida. Uma voz vinda da minha essência. Algo que realmente estava habitando em mim.

Sempre achei que existissem soluções alternativas para compreender e superar grandes mudanças na vida. Quando vejo um atleta que perde as pernas em um acidente, construir caminho sadio para o corpo e para a mente através do esporte, do fazer o bem ao coletivo do jeito que for, ou mesmo com aquelas gravações de vídeos motivacionais. Não são poucos também os que buscaram a meditação, o famoso mindfullness e os trabalhos sociais, na busca da superação de traumas e de encontrar a paz em si. É a sensação dela, da paz frente a tudo isso, que as pessoas buscam. E eu achei a minha.

Escrevendo, escrevendo e escrevendo. Colocando tudo para fora, registrando e validando meus sentimentos, meus sofrimentos e os meus momentos de alegria, a fim de encontrar o meu equilíbrio, que achei um lugar amigo no meu mundo. Achei uma raiz que era feita de mim. Que me conectava a mim mesma. E que, para a minha surpresa, me conectou a tantas outras almas com vivências semelhantes, o que só fez mais sentido e mais presente.

Eis que outro dia questionei. Em meio a essa minha vida cheia, de compromissos familiares e financeiros, cheia de filhos e das pressões que se sofre também neste processo de existir sendo mãe, me perguntei se seria viável continuar. Nessa direção que me leva a sonhos que passei a sonhar quando me senti acompanhada de mim mesma no encontro com o bloco de notas do meu celular, pela primeira vez, e o fiz meu confidente. Carregando-o de histórias vividas. E que descobri serem comuns. Que me motivaram a buscar jeitos de sairmos todas melhores. Mas titubeei. A gente pede tanto uma coisa e daí, quando recebe a graça, não sabe o que fazer! Pára para pensar se dá, se é viável. Não é doido isso?

Pois bem. Quero falar hoje do existir em si, do se preencher por si, do aceitar o que é bom na gente ao invés de focar nas ferramentas que não temos. Quero falar dessa ansiedade louca de buscar fora o que já temos vivo em nós. E que só precisa ser reconhecido, acolhido e elevado. Pelo qual é melhor ser grato. E que, uma vez parte da gente, não é tirado de nós, mesmo podendo ser perdido. Tem a capacidade de nos conectar a si mesmas e ao mundo e assim, sermos felizes com o ordinário e além de todos. Deixando para trás o funcionamento de colocar no outro os nossos desejos de conquistas, satisfações, realizações e felicidade.

Trabalho há alguns meses com uma mentoria na qual acompanho mulheres em processo de recomeço pós divórcio. E neste trabalho, desenho através de uma metodologia e de ações estabelecidas a partir do levantamento de dores e desejos, o caminho de vida que se deseja fazer nessa nova chance, nesse novo começo. Eis que fiz o meu caminho nesse método, a fim de valida-lo e às minhas crenças, e nele, me dei conta, que me coloquei sem querer, em uma enrascada. Em meio aos meus desejos, habitavam ganhos que estavam nas mãos dos outros e não nas minhas. Considerando que só no trabalho das minhas eu teria garantias quanto à direção do meu caminhar e a consciência de qualquer mudança de rota que me respeitasse, caí eu mesma na cilada de terceirizar a felicidade, nas minhas relações. Quando nos meus desejos, não foquei no meu próprio preenchimento.

A gente só é quando se está preenchido de si. Quando não, rola aquela desconexão maluca que tira a vida dos nossos olhos. Que nos desfigura para nós mesmas e para os nossos afetos. E, de repente, um tanto dos meus desejos traziam condições que mais serviam aos outros do que preenchiam a mim. Opa! Tá errado isso aí!

E a minha ficha caiu ao me deparar com a ausência de mim outro dia. Hora em uma situação de questionamento do meu propósito, hora na roupa que eu estava vestindo. E em ambas, me esvaziava. Perdia ali partes vitais da Juliana. Dessa mulher que construí a duras penas, que tanto desejei ver viva.

Bom. Refiz meus desejos todos. Revisei meu diário, o qual preencho com a minha gratidão e os meus objetivos, na busca de me manter na minha rota. Adequei o meu caminhar. Enchi de mim meu presente e o meu futuro construindo uma jornada que dependesse basicamente das minhas pernas, da minha disposição e dos meus valores. Que me fizesse sentir o bom que reconheço com o meu coração, independentemente dos corações alheios. E agora, espero não mais escorregar. Porque a gente escorrega. Pode acontecer, acredite. Basta nos distrairmos e deixarmos a vida nos levar. Os boicotes agirem, os funcionamentos antigos verem cenário para atuação. Então reforcei meus passos no propósito de me manter inteira, para assim, eu ser neste mundo que eu desejo tanto. E nele poder ser feliz em mim. Pois só assim serei também com o mundo e com os meus afetos.

Estás cheia de você agora? Espero que sim. Se não, para tudo e revisa o planejamento da sua jornada. Pois esse é o primeiro passo para a real felicidade na sua vida. No seu recomeço. Não perde essa chance. Não se perde ❤️.

Comentários

  • Adriela 26 de junho de 2019

    Lindo, Ju… Me reconheci em muitas linhas e palavras. Nada fácil se manter no prumo, em si, rumo ao preenchimento. Há de ter muita critica, lucidez e sensibilidade! inspiração pura você!

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *



NEW FAMILIES