Estou lendo “A arte de ligar o foda-se”, um livro indicado por uma seguidora do New Families e que me deixou curiosa. Não sou de ligar o “foda-se” facilmente, nem de usar essa expressão. Costumo ser atenta a tudo, me preocupar, levar o universo em conta, principalmente o meu universo particular. Isso não é exatamente um elogio a mim mesma, acreditem. Costumo levar tudo em consideração. Então entender a arte de libertar-se das preocupações e dos efeitos das palavras e situações nas pessoas, e até com a forma com que elas me abatem e me entorpecem, por vezes, realmente me instigou. 

Fui lendo, evoluí no raciocínio do autor, concordei com muito, e com outro muito, não. O legal da leitura, aliás, é isso. A gente lê a perspectiva do outro e traz aquela verdade para a nossa própria. Vê o que cabe onde, o que faz sentido para a gente, e o que não cabe, descarta. Pois afinal, aqui, sou outra pessoa, com vivências e valores próprios, e não seria estranho eu não entender absolutamente tudo como ele entende. É para ser assim, pelo menos, ou deveria ser, quando realmente nos levamos em consideração.

Não sou a dona da verdade nem referência de nada. Não desejo isso para mim, para vocês ou para este projeto, e esse talvez seja o meu maior cuidado com relação a este trabalho que realizo hoje. Minhas histórias e pontos de vista são profundamente verdadeiros, frutos de cada momento meu, da minha história, das minhas vivências intensas e entregues de fins e recomeços. Me dirigem à escolhas que funcionam às vezes, e em outras só ensinam o caminho a não pegar. E por isso abrem uma conversa. Que eu acredito ser o ambiente de reflexão e consideração mais comum e democrático. Criam um espaço do tipo “vamos pensar sobre? Estou me escutando? Isso conversa com o que eu acredito? Posso tolerar? Me faz bem e feliz? Estou conectada? E se não se trata só de mim, consigo ampliar meu olhar e pensar no que é também importante para o outro e assim, sair do meu umbigo?” É disso que se trata a minha escrita, o meu trabalho. Uma proposta de bate-papo sério com você.

Dito isso, não desejo ser referência nem de sucesso e felicidade, nem de fracasso. Isso seria egocêntrico e vaidoso da minha parte em qualquer dos mundos. Afinal, também estou na luta. 

Enfim, voltando ao livro. Achei frases interessantes que representam muito do que cabe em mim, no meu jeito de viver, e outras que não conseguiria nessa vida, nesse corpo, fazer ser verdade. Mas encontrei exercícios interessantes, até mesmo para o meu jeito sentimental de ser, que trazem um pragmatismo que pode me ajudar a me conectar com mais coisas que são importantes para mim. Jeitos de trabalhar meus sentimentos sobre as situações, sempre tão corajosos e audaciosos, e também dolorosamente profundos. De novo, não é um elogio à mim. Cenários aumentados que me desafiaram a levar mais do que o que eu sinto em consideração, mesmo que, tendo a mim como estrela guia do processo todo. Meus desejos reais, minhas motivações, ou pelo que eu faria qualquer coisa na vida. Pelo que eu lutaria incansavelmente ou com uma resistência de dar inveja.

O autor coloca que, a pergunta que leva a felicidade, a qual a gente repete a si mesmos e aos outros quando quer conhecer o seu ideal de vida, não é a que de fato constrói caminho feliz.

O que te faria feliz na vida? Essa é uma pergunta ampla e sem comprometimento algum. Pois tenho certeza que muitas coisas te fariam feliz e você poderia passar uma tarde me falando delas. Ter uma vida plena, sem problemas financeiros, com um amor profundo e tranquilo e com saúde de sobra, para mim e para a minha família, cercada de amigos verdadeiros e exercendo o trabalho que eu acredito, de abrir conversa sobre coisas que devem ser vistas e pensadas, seria uma resposta minha. Mas ampla. Poderia dizer que conseguir correr diariamente de novo, meu exercício predileto, viajar duas vezes por ano para conhecer o mundo, viver uma paixão sem fim com o meu marido, ter tempo para acompanhar o crescimento dos meus filhos e contar com uma remuneração confortável para realizar tudo isso, fruto do trabalho que eu amo fazer, seria especificar um pouco mais. Mas mesmo assim, seria genérico. Pois cada uma dessas coisas, para acontecerem, precisam de força, de energia, de dedicação, e quando olho para todas de uma vez só, me dou conta que para “dar conta” de tudo eu teria que performar como um super herói daqueles da Marvel, ou viver duas vidas em uma. 

Não estou falando aqui de gestão do tempo, estou falando de prioridades, de escolhas. As quais realmente movimentariam minha ação e o meu coração em direção ao que realmente me satisfaz na vida. Que casa com a minha essência e com o que é vital para mim. Sem as quais eu não viveria. Pelas quais eu faria qualquer coisa. Valeria qualquer esforço. E se olhar tudo o que citei acima, de uma forma ampla, não daria o sangue por todas, pois nem todas tem o mesmo valor. Mexeria com facilidade em variáveis ali. E isso foi, de repente, um alívio.

Pois bem, a pergunta certa seria… Sem o que você não toleraria viver? Pelo que suportaria a dor e a frustração em nome de tê-la como realidade? Que te movimentaria todos os dias, te faria aprender, desaprender e reaprender quantas vezes fosse necessário? Que faz com que a tua existência faça sentido? 

Pois então. Não seria mais honesto, mais generoso com a gente mesmo e mais próximo à felicidade real? Não seria uma jornada mais gostosa de fazer, quando o objetivo é tão parte da gente?

Uma questão que me faz crer que o paraíso não é um lugar realmente feliz. Não por mais de uma semana, dez dias… trabalha com a sua tolerância a apatia aqui. Talvez o caminho que nos leva a ele, se faz sentido, tenha na cereja do bolo, naquele paraíso particular, um sabor especial. Mas que termina quando o primeiro desconforto aparece. O primeiro problema. Talvez até o fato de se estar parado seja um. E ali, seguimos no movimento real de felicidade que é a busca. A conquista da solução, do momento de paz naquilo que é realmente importante para nós e que é valor. Que não tem referência na vida dos outros, pois se trata da nossa e de como nos sentimos sobre. E está aí o motivo pelo qual o que é feliz para mim, pode não ser para você.

Graças a Deus, ou estaríamos todos buscando o mesmo lugar ao sol.

Abrindo mão do ideal, na direção do meu real, do que é só meu, venho fazendo a minha jornada.

Era uma vez uma menina que sonhou em ser jogadora de vôlei profissional e não foi. Era baixa e não estava disponível para treinos oito dias por semana.

Era uma vez uma guria moça apaixonada por um lindo estranho, que falava pouco, e que jamais foi seu. Era na verdade uma relação que exigiria dela um comportamento que não a representava, então era esforço demais.

Era uma vez uma mulher que sonhava que se tivesse uma casa, um marido apaixonado e um casal de filhos, sua felicidade estaria garantida e assim teria tudo da vida. Ela descobriu uma dor, e que a partir dela e do sofrimento que dali vinha, queria mais da sua história aqui.

Era uma vez uma mulher madura, mãe de três filhos, casada pela segunda vez, e que sonhava então estar bem sentada com a sua alma, exatamente onde o seu bumbum tocava a cadeira. No mesmo lugar onde se encontrava em si. E vem vindo assim…

Assim como está feliz onde está o seu sorriso, e realizada onde direciona seu propósito de vida. Uma mulher que ama hoje, e ao amor que reconhece. Porque para ela, ele, o amor, é vital. E busca descobrir o que não sabe, o que não conhece sobre ele, desde que vivendo-o e levando a si.

Era uma vez uma amiga da dor. Daquela que liga luzes e mostra caminho. E assim, descobriu que pode até ser capaz de muito, mas quer pouco, só do que realmente precisa. Ligou o tal do “foda-se” para uma boa parte do que a enchia da sensação de fracasso e incapacidade. E que não sofre mais pelo que não tem e pelo que não é. Simplesmente porque não é e por que não tem. Olhando para a dádiva que existe em ser o que é. E depois de tanta frustração, está tudo certo para ela. Porque agora só se trata disso. Do que realmente é importante, tolerável e capaz de fazer dessa jornada maluca um caminho de momentos felizes.

Por isso eu faria tudo.

Uma arte, realmente. Nisso tenho que concordar com Mark Manson. 

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