Escrevo do dia seis de agosto de 2019. Amanhã, dia sete, faço quarenta anos, ou trinta mais dez. É como eu sinto que aconteceu a vida por aqui. Algo que começou na minha pequenez e foi até os trinta, e dos trinta aos quarenta simplesmente mudou. Dez anos que foram me transformando do que eu era, do que eu queria para mim, para o que eu sou e quero agora. Ou, para ser ainda mais honesta, uma pessoa que pouco sabe sobre ser e querer, mas acolhe isso tudo como parte de si. Como da vida.

Quando era mais nova, tinha uma necessidade ávida de saber o que ser e para onde ir. Uma cobrança que vinha de mim mesma e que sentia dos outros. Me impondo a necessidade de ter planos sólidos e ações contundentes para alcançar meus objetivos, aqueles traçados como se na vida fosse simples assim. Algo que, se não claro e estável para mim, me diminuía enquanto pessoa perante os outros, e mesmo frente às minhas expectativas de construção.

Passados os trinta, essa verdade foi ficando longe, longe… Aconteceu com você?

De repente tanto faz para onde, desde que bem. E tudo certo se mudar de caminho ou estabelecer ações diferentes, que levem em consideração o meu estado real e o dos outros. Porque nesses últimos dez anos, eu aprendi a mudar por mim mesma, situações e olhares, e colher o que plantei, numa boa. De bom e de ruim. Com menos julgamento e me preocupando menos com o que o entorno iria pensar. Apenas avaliando as minhas possibilidades, as minhas alternativas, pelo meu olhar. E isso eu entendi como amadurecimento.

Então chamar esses dez anos antes de hoje de “jornada do amadurecimento” me soa verdadeiro e nada mal. Nunca doeu tanto caminhar, mas também nunca fui tão genuinamente feliz. As escolhas depois dos trinta carregam um peso maior. Envolve mais gente, um tempo de juventude mais raso e valioso, uma estrada que se mostra, de repente, aparentemente mais curta para algumas coisas, como ter filhos, por exemplo, e até para usufruir da felicidade. Talvez por isso tenha tido tantos… talvez por medo do dia que essa realização fosse finita. E não posso mentir que, uma urgência extrema de se ver realizada de uma vez, bate à porta nesse tempo. De sair do plano, de ver como está ficando a forma, de considerar ajustes que nos aproximem do prazer, da paz e do amor. Valores que, para mim, nasceram após os trinta. Levando esse estado de graça, do sentir, a um patamar mais importante na pirâmide de prioridades da vida. Porque o barulho do tic-tac do relógio começa a soar em volume mais alto que antes.

Me dei por conta nos últimos anos, da importância de tirar os olhos do plano e coloca-los sobre mim. Quem muda enquanto o tempo passa. Por isso seguir o plano deixou de fazer sentido pois, em geral, terminou em total desconexão comigo mesma. E só saí dos planos em direção a mim quando pulei dos trinta para os mais dez.

Ouvi que amanhã entrarei na melhor idade da vida. Palavras da minha sogra, uma mulher madura e sábia. Questionei, pois se olhar no detalhe, algumas coisas já foram melhores. Minha pele, manchada das minhas três gestações, meus olhos que franzem ao sorrir, minhas pálpebras carregadas. Minha indisposição para atravessar a madrugada dançando, o peso das minhas escolhas e o departamento da “ilusão”, que perdeu muito dos seus artifícios, nem sempre verdadeiros, mas que enxiam os olhos da sonhadora antes dos trinta, foram coisas que perderam desempenho e poder nessa virada.

Mas mais conhecedora dos precipícios e das reais fontes de amor e felicidade genuína, piso amanhã em novo terreno. Que tenho certeza, mas nunca mais absoluta, de que fará parte de um novo pedaço de vida, de lido com a consciência. Que já no seu nascimento preserva meus trinta mais dez. Porque daqui a diante não sei mais. Só sei que é diferente. Que me sinto dona de uma ignorância libertadora. Que o que eu comunico às pessoas que mais amo só faz sentido se viver em mim hoje, agora e verdadeiramente. Que só assim farei a diferença nas suas vidas e na minha própria.

Adoraria te contar como é. A você que ainda não fez quarenta. Adoraria ouvir de você que tem mais idade do que isso, sobre o caminho o qual acabo de entrar. Se é bom ou ruim, para o que preciso me preparar, ou o que me reserva boas vivências e que pode me garantir momentos de felicidade plena. Adoraria. Mas sei que o que te faz feliz pode não ser a minha praia, e vice-versa. Então me conta só para trocarmos. Para eu saber de ti.

Pois, de verdade?

Não sei o que esperar, mas sigo mais firme do que nunca. Com muitos motivos para sonhar, para desejar o bem ao planeta que a gente vive, aos negócios do nosso mercado, à bolsa de valores, ao sistema de previdência do nosso país, à descoberta da melhor forma de ensinar e aprender com as crianças, de entender sobre a saúde das pessoas, física e mental. Para ver imperar o respeito entre a gente. Às escolhas, aos formatos, assim como às novas famílias. De verdade, é o que eu desejo ver daqui adiante.

Porque tenho filhos. Três e lindos. Porque possuo desejos meus, próprios e íntimos. Porque a todo o momento descubro novos prazeres e desprazeres. E porque há um contraponto às rugas e manchas de pele que me aproxima da felicidade… O tempo de vida e o que fiz com ele. O conhecimento. As experiências vividas. As quedas e levantares. O entendimento sobre o amor e o que é valor. Coisas que tornaram as minhas marcas menos importantes, e quem sabe até, marcos valiosos. Provas do meu caminho. Coisas da minha história. Do meu andar. Sobre os meus pés trinta e seis e a forma como entendi as paisagens que contemplei nessa jornada.

Desejo às minhas inúmeras amigas quarentonas que aniversariam este ano, um lindo e próprio novo ciclo. Cheio de ação, mas na mesma proporção, de contemplação. De perdão e de menos julgamento principalmente consigo. De renovação, de mudanças necessárias, de movimentos desejados, de coragem e de vulnerabilidade. De amor. Ingredientes vitais para aquela mochila que atravessa túneis com a gente pela vida.

Pois dos próximos, realmente não sei o que esperar. Mas que estarão lá, ah isso sim. Porque sempre estão. Túneis e mais túneis. E o peso da mochila, essa cheia de vivências, valores transformados, descobertos, dores e amores, é o que torna nossas pernas mais fortes e o nosso coração mais esperançoso. Mais cheio de fé. Mais capazes da próxima tentativa, e da próxima. Rumo à construção do hoje, às construções de felicidade no depois, e no depois…

Enfim… Ansiosa para acordar com quarenta:)

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