Esta semana debati com uma amiga sobre o amor. Esse romântico, que preenche a gente quando é bom, quando é de verdade. Só que de repente nos vimos em uma encruzilhada quando o aproximamos, no debate, do amor materno. E ali, inicialmente, o amor romântico pareceu pequeno.

Apenas pareceu. E por isso gosto de conversas e reflexões…

O amor tem essências diferentes, como acontece com as pessoas. Cada um ama a seu modo, e cada um se conecta as pessoas afetivamente, de forma diferente. Na relação de casal e também na maternal. O nível de entrega e a forma mudam em todos os CPF. E por isso, o amor não pode ser comparado, nem julgado.

Aquela mãe é boa, ama “certo”, porque faz tudo para os filhos, e a que escolheu cuidar de si em boas doses, não é. Aquele cara que abre a porta para ela e que por isso é qualificado um super marido, subjuga o outro, que ajuda a sua parceria no lido com dificuldades da vida, se faz presente, mas não ama com cortesia. Ou aquela que serve o parceiro e é boa naquilo, e que, em grupos de amigas, se desfaz daquela outra que deixa que o marido invista mais, sem muito demonstrar em carícias públicas sua afeição, e por isso, qualificada como negligente. Ou que ama pouco.

Passamos nos julgando uns aos outros. Seja valorizando ou desvalorizando, o fazemos sem a real compreensão. Nem da vida alheia, nem da “surrealidade” do julgamento em si. Considerando que no amor não há certo nem errado, mas o que cada um vive em si e no seu mundo.

As leis e regras foram feitas para a boa convivência em comunidade, não para a relação de amor. Então, quem sabe comecemos parando de comparar a nossa a dos outros, pois acreditem, não vai rolar. Só vai gerar mais ilusão e frustração. Tanto para o bem quanto para o mal.

Bom, fui um pouco além nessa reflexão até aqui, considerando que o tema que permeou a minha semana não é o fato de eu ter me dado conta, depois de tanto tempo de vida, que a única referência de amor que eu posso ter nessa minha jornada e para as minhas buscas íntimas, é a minha própria. Mas a ideia central desse papo é a de que existe uma diferença vital entre o amor romântico e o materno. E que faz com que variem tanto na sua essência, quanto acontece na sua forma.

O amor romântico é condicional, enquanto o materno é incondicional.

Importante dizer que eu sinceramente não acho que um seja maior ou mais importante do que o outro. Digo sinceramente, pois te provoco agora a passar um filme rápido na sua cabeça sobre a vida que tiveste até aqui e a que deseja para frente.

Não sei como foi aí, mas aqui percebi que a parceria romântica é a companhia que atravessa a jornada com a gente, seja ela uma ou varias, e que no meu caso desejo que seja este cara que está ao meu lado e pelo qual sou apaixonada. Mas a questão é que se formos bem sucedidos, seremos eu e ele até o fim. Já os filhos, são parte dos nossos dias por um tempo, até que se sintam prontos para viverem suas vidas e aparecerem em almoços de domingo eventuais e telefonemas semanais, o que também não tenho nada contra mas posso constatar que é da vida, e que possivelmente é o que vai acontecer. E está tudo certo.

Me parece que o amor materno acompanha o filho pelo período de quatro ou cinco cursos universitários, um atrás do outro, de forma intensa, e depois, abre a porta e se despede. Daquele amor que é perene e profundo, para uma vida toda, mas que na maior parte dela viverá no coração, nas lembranças da fase em que fazia realmente parte, e em momentos pontuais da vida adulta, traduzidos em uma parceria grata. Saudoso da época na qual aquele amor todo era vivido, além de sentido. Só que na condição de incondicional, aguenta tudo. Perdoa, supera, vê transformar, recomeça, se despede. E cada movimento, melhor ou pior, só o faz, no seu exercício orgânico de existir, maior e mais forte.

E no amor romântico? Como fica?

Nele estamos condicionados. Os maus tratos à nossa alma ou ao nosso afeto podem destruí-lo. A mudança da promessa, da sua forma no dia a dia, e do tato na sua preservação, pode levá-lo ao desgaste e até ao fim. Desde que confronte os nossos valores essenciais. E por isso, estão condicionados a viver alinhados a eles, o que é diferente do que ocorre com os filhos, que podem cometer os piores erros, mas serão sempre recebidos de volta.

Não mais importantes, nem menos. Apenas diferentes. Apenas exigentes de forças completamente distintas, e só por isso, jamais deveriam ser comparados ou confrontados. Nem neles, nem na gente.

Vale um olhar atento e carinhoso para cada amor. Em especial àquele condicionado que exige mais cuidado. Consigo e com o outro. Que exige trabalho afetivo, acordos e conversas claras. Respeito. Atos de amor, daqueles que cada um tem o seu. Mas que não podem faltar. Sem esconder-se atrás do amor incondicional e perene que sentimos pelos filhos. Pois são todos amores. Que demandam além do sentir, a ação. E é nela que se tornam vivos e fortes. Evoluídos e descobridores. Onde amadurecem. O que se deixarmos apenas no sentir, navegamos no cenário confortável do afeto orgânico… Naquele onde o amor pode viver para sempre, se maternal e incondicional. Ou simplesmente deixado à morte por falta de ação no amor condicional. Por falta de alimento.

E se não existe um amor melhor que o outro, mais valioso, existe amor. E nas novas famílias, nos recomeços, os conhecemos bem. Nos deparamos com a proposta de dar boas vindas a cada afeto que nasce, que chega. Com a mistura, com tentativas, com ajustes. Sem fantasias ou ilusões. E estão todos lá. Não para serem escolhidos ou excluídos, mas para serem sentidos e vividos. Recebidos como presentes. Cada qual com a sua genética, com a sua essência. Uns condicionais, outros incondicionais. E está tudo certo. Pois do que plantamos na vida, cada semente exige um cuidado e uma quantidade de energia diferente. Enquanto em nós, podemos gozar de todas. Fazendo com que vivam e cresçam. Pois todos têm lar na gente.

Então, é covardia achar que só o amor materno se basta. Que só dele precisamos, que a felicidade está na segurança do infinito, do conforto do que nunca acaba.

Coragem … Somos feitos de mais.

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