É um bloqueio intelectual. A pessoa acometida é inteligente, capaz, mas só quer falar com quem pensa da mesma forma, com quem concorda com o seu jeito de ver e viver o mundo. Não tem interesse em entender melhor sobre algo, se permitir mudar de lugar, e quem sabe transformar a sua ideia e compreensão sobre as coisas.

Estabelecem verdades sobre fatos que nem sempre são fatos, ou verdades comprovadas cientificamente.

Que triste isso, não?

Ser o rei da conclusão, do assunto encerrado, do “é assim que é e ponto final”, do “é como eu sou e é assim que eu penso”, não é nada inteligente nem propõe aprendizados. São apenas portas fechadas. E sabe por quê? Por não haver nada mais deselegante e sem educação, nem nada menos generoso, do que não se colocar no lugar do outro, não tentar ver o cenário pelo ângulo de alguém que não é a gente, ou mesmo ampliar o olhar sobre a vida e as suas diversidades.

A saída? Educação. Pesquisa e narrativa baseada em ciência e em fatos. Levando em consideração as mudanças do mundo e a nossa humanidade. Essa que temos dentro também, quando se tratam de emoções e comportamentos, e que constituem mais uma variável no processo de aprendizado.

Quando se pensou em ver a televisão brasileira tratar, em canal aberto e de forma tão natural, a nova família? Mostrando a resistência eventual dos filhos à mudança de configuração dos afetos e da parentalidade? Com pai homoafetivo que primeiro conflita com a mãe, depois acha compreensão, e de repente harmonizam e normalizam juntos  a família diferente, mas ainda assim uma família?

Pois é… tenho visto essas coisas na televisão, além das inúmeras que assisto na vida cotidiana, já tão comuns. E há ainda quem brigue com isso. E aqui não falo só de fora, mas do dentro. Do interno da gente que custa a aceitar quando a mudança acontece nos afetos em uma família e mesmo nas situações agudas da vida que urgem por movimentos de mudança. E que não mudam nem para pior nem para melhor, mas para o diferente, para não dizer que sou polar nessa questão em muitos aspectos e cenários.

Vivemos em uma era na qual não toleramos a dor, o eventual mal estar e as dificuldades. Queremos a idealização de felicidade. E isso não é positivo, não. Mas não me parece que isso seja a mesma coisa do “aceitar” que quando algo não funciona bem de um jeito, de outro pode ser uma alternativa.

São coisas completamente diferentes. E não é incomum ouvirmos por aí que pessoas que mudam a sua história de vida ou de família, ou mesmo a sua opinião, são pessoas pouco persistentes, que desistem rápido das coisas, levianas com as decisões importantes e até de opinião e direção flexíveis demais. Só que revisar seus conceitos e sua vida, e mudar se necessário for, não tem nada de frágil. Mudar de opinião sobre uma coisa ou situação também não. Corajoso e forte, quem se propõe a aprender, se abre ao novo e permite a chegada do desconhecido. Inteligente , quem questiona e cria alternativas para si e para os outros.

Não tolerar obstáculos é idealizar que a vida deve ser perfeita, e que diferente disso não serve. Não tolerar dias ou anos subsequentes de tentativas e erros não é idealizar, mas reconhecer uma realidade e a partir dela se movimentar.

E talvez neste ponto nos falte muito ainda de educação. No seu sentido mais amplo. Essa que passa pelo intelectual e pelo emocional. Que depende da avaliação de fatos, de afetos, com bases sólidas, referências e a prova de testes vivos e vividos. E que por permear a educação, o processa com respeito. Por si e pelos outros. Parceiro, filhos, família estendida, vizinhos, colegas de trabalho, amigos. E até aquele desconhecido do qual pouco ou nada sabemos da história.

Estamos vivendo oportunidades ímpares de trabalharmos a nossa imunização cognitiva. E porque não dizer afetiva e comportamental. Sendo convidados diariamente a enxergar novas realidades por diversos canais, da televisão aos papos de gente como a gente. Uma verdadeira revolução que convida ao aprendizado, a abertura para novos formatos, novas verdades e para as pessoas.

Só não aprende quem não quer.

Que a imunização siga apenas no âmbito das vacinas que protegem a nossa saúde, e só nelas. Pois a nossa mente e o nosso coração, precisam de integração com o universo. Preferencialmente sem defesas:)

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