Essa passagem do livro Manual da Separação, da minha grande amiga Paula Britto, me chamou a atenção quando li pela primeira vez. ´

Achei bonito e juro que provável, mesmo que isso me fizesse parecer uma louca otimista para todos à minha volta. Mas a sensibilidade da Paula e da sua pesquisa me tocou, por conectar com uma fé minha, muito grande, na paz entre as famílias dos meus filhos. Pai e mãe deles, e seus agregados, seus novos afetos.

Eis que hoje sinto possível que “um dia estaremos juntos no altar de novo”.

Em outras circunstâncias, é claro. Mas estaremos juntos. Sozinhos ou com os nossos afetos, amores, companheiros, estaremos a assistir a nossa menina ou o nosso menino unirem-se às suas escolhas afetivas, sejam elas quais forem, no altar que os representar.

Um dia estaremos juntos na sala de espera de uma maternidade, se assim nossos filhos quiserem. Aguardaremos juntos, a chegada de novos filhos, netos, para completar as nossas vidas, mesmo que separadas e reconstruídas. Mesmo assim, compartilharemos. Serão todos nossos no afeto.

Um dia estaremos juntos com eles nas escolhas que fizerem. Nos recomeços, se assim a vida encaminhar. Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Ali estaremos juntos, mesmo que separados no nosso projeto de casamento.

Foi nesse pensamento que descobri um novo afeto. Mais do que isso, na realidade que o tempo trouxe. Este, que unido às reflexões e ressignificações da vida e do que passamos enquanto família, cura mágoas e sensações de fracasso e constrói novas alternativas, caminhos e afetos. Um tempo que nasce após alguns anos do processo de divórcio, quando mágoas e diferenças vão sendo desintegradas em pedacinhos, sucumbidos pelo novo, pelo recomeço e suas possibilidades, até perderem a importância e o significado. Naquela nova vida não cabem mais. E aí se abrem espaços para um relação nova, com um estranho conhecido. Uma nova parceria com um único propósito. O de amar, acolher e amparar um projeto em comum, e me arrisco a dizer, dos maiores da vida da gente.

Um sócio no afeto, na parentalidade.

E aí, no significado disso tudo, deixou de fazer sentido odiar, diminuir ou conflitar. Deixou de fazer sentido a hostilidade e aquele pensamento que eventualmente o “mandava se ferrar”. Passou a fazer parte o desejo de que seja feliz, encontre o amor e viva em paz, com saúde e prosperidade. E até por perto.

Pois para os meus filhos aquele ser humano é tão importante quanto eu. E me dei conta de que para mim também ele é, já que ele é importante para os meus pequenos e compõe parte deles, do que são, assim como o seu cuidado, principalmente afetivo.

À parte com as diferenças pelas quais passam casais separados, desde as famosas “revisonais”, nas quais se rediscutem pensão alimentícia e rotina de visitas, à parte desentendimentos quanto ao que é prioridade para os filhos, desde as compras de roupas e materiais escolares, à definição das aulas extracurriculares, o objetivo dali para frente não é mais fazer uma relação afetiva dar certo. Não há mais este peso, nem a leveza que o amor pode dar aos caminhos.

Na relação pós-divórcio há só um objetivo, uma meta, ou assim deveria ser: o de assistir aos filhos com amor e respeito. Tudo o que merecem. Tudo do que precisam para crescerem em paz, com o suporte e afeto. E essa meta não é fácil, mas é o mínimo que podemos fazer por eles e por nós. É um compromisso que vem com a escolha pelo divórcio, e que pode surpreender quando o tempo passa e as nuvens se dissipam.

Quase cinco anos se passaram por aqui. No aniversário do meu menino do meio, de nove anos, a campainha tocou e na frente da casa estavam o pai de dois dos meus filhos e a avó deles. Queriam abraçá-lo pelo aniversário e nada era mais justo do que aquilo, já que a noite era do nosso filho, apesar de minha no calendário do compartilhamento. Meu marido acenou com a cabeça, carinhosamente e com acolhida, para que eu os convidasse para entrar.

Eis que de repente estávamos todos na sala, a nos conhecermos e nos conectarmos nesse novo mundo que escolhemos, como se fosse a primeira vez. A avó dos meus mais velhos acariciava a cabeça da minha bebê, o pai deles conversava com o meu amor, e os meus filhos olhavam tudo felizes. E aquilo encheu o meu coração. Como desejar algo diferente de amor, saúde e prosperidade ao pai deles e à sua família? A família dos meus filhos?

E aquilo encheu a minha casa de luz, e ao meu coração. Não sobrou nada de ruim, apenas carinho. Pelo trabalho bonito que conquistamos juntos, com a ajuda do meu marido, dos meus filhos, da parceria nova do pai deles, da sua família. Teve mãos de todo mundo. Nos erros, mas principalmente nos acertos. E que nos fizeram evoluir, e ali descobrir um novo afeto. Cheio de consideração e de cuidado.

A família merece. As novas famílias merecem. Essa que aqui é da Joana, do Joaquim e da Antonella, e que por isso, é também o nosso bem maior. A nossa família estendida no cuidado e no afeto. Um jardim que nasceu no terreno aparentemente árido do divórcio, e que em cenas como esta, mostra seu perfume e a beleza da sua forma.

Mãos à obra! Seguimos no trabalho. Muitas salas de espera, altares e mesas de aniversário ainda iremos compartilhar. Então que seja com carinho e feliz.

Comentários

  • Carolina Job 21 de novembro de 2019

    Booom dia! Lindo Juliana e essa deveria ser a história que escutamos de todos os pais divorciados, mas infelizmente é exceção. Já não pasta todo sofrimento de enfrentar um divórcio, para muitos depois é uma guerra, por falta de maturidade de uma das partes, por ressentimentos, enfim…quem mais sofrem são os filhos!
    No meu caso, graças à Deus, me dou muito bem com pai do meu filho, estamos presentes nos momentos importantes da vida dele juntos, com respeito, carinho e principalmente, pela felicidade do nosso filho!

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