Descobri que a mãe da culpa é a escolha. Assim, refletindo sobre o Natal deste ano e o desafio de sempre na elaboração da data sem dois dos meus três filhos. Enfim, fato fruto da escolha que fiz para a minha vida pessoal, e que afetou os meus Natais em

família. Basta escolher, e esta “mamãe canguru” gera uma culpa nova do seu bolso maternal.

A deste ano é que terei a minha Antonella, pela primeira vez no Natal, sem os manos Joana e Joaquim. Sinto por mim e por eles, como sempre, mas este ano a culpa nova é sobre ela. A minha bebê. Pela qual agora sinto também.

Perdemos todos quando estamos separados no dia 24 de dezembro, porque é bom demais estar junto de quem se ama no Natal, principalmente dos filhos. Crianças. Que dão aquele brilho especial à essa festa tão de família. Mas neste primeiro, que vivemos hoje, mais gente perde. Assistiremos a nossa pequena perguntar e perguntar sobre os manos, e aquilo que já era entendido por nós como coisa da vida, efeito das escolhas, exige agora nova elaboração. A de se despedir de dois com a irmã mais nova no colo da mãe. No meu, no caso. A que fica enquanto eles vão. E a sensação é estranha e às vezes dura. Em pouco manifestada por eles, mas eu sei, porque é para mim também.

E aí vem a culpa. Filha da mãe! Porque todo mundo tem uma, e com a culpa não seria diferente.

Agora é lidar. Tem sido assim nos últimos dois anos, desde a existência da minha barriga grande…

Não me culpo por me sentir assim, culpada. Primeiro porque seria culpa da culpa, e aí já é demais. Mas sinto culpa porque senti na chegada do segundo filho na relação com a primeira, e se tivesse quatro, sentiria de novo. Vai além do concreto, do racional. Se trata da multiplicação aparentemente injusta de filhos, enquanto não se aumenta o número de mães. Segue eu para três, e por isso a culpa de escolher por um clã rola sempre que vejo que não dou conta. E agora no Natal, nos meus Natais alternados, quando as minhas escolhas os tiraram de mim, da irmã e do pai afetivo, ano sim, ano não.

Sem drama? Comemoraremos antes, assaremos o peru no sábado, abriremos presentes de Natal à beira da árvore iluminada de luzinhas e piscas, e cantaremos “noite feliz” todos juntos, enquanto administro as implicâncias recorrentes entre os maiores, as artes da nossa bebê, e o cansaço que as vezes nos pega, a mim e ao meu marido, antes de pega-los. E aí já viram. Folia do Natal em família! Mas sentimos sim a noite da missa do galo, tão variável para nós nos últimos cinco anos, quando ano a casa é cheia de crianças, ano não, e agora, ano com apenas uma das nossas crianças. E abate. De verdade. E está tudo certo.

Porque quem escolhe por algo, perde outros algos por aí, ou necessita ajustar o que sofreu impactos. E assim é a vida. Não se pode ter tudo, afinal, e no nosso caso, os Natais mudaram. Pior? Melhor? Ideais? Talvez não. Mas fruto do que escolhi com a alma, com o coração, e na melhor das intenções, com o que pude. Mesmo carregada vez ou outra da culpa.

Afinal, sou mãe. E mães são cheias delas. E se outro dia li um adesivo de carro que dizia: “Não confie em quem não tenha mãe!”, posso dizer que a culpa é de confiança. Pois enfim, nasceu da escolha, e essa é uma mãe legítima, e das melhores.

Simples assim.

Comentários

  • Carolina Job 6 de janeiro de 2020

    Oieeee!
    Feliz Ano Novo para ti e para tua família! Estava em férias!!!! Agora que vou ver os 3 últimos textos!

    Perfeito, perfeito, perfeito!
    Meu filho tem a minha sensibilidade e este Natal era do pai, ele disse mãe (referindo-se ao almoço do dia 25 que seria comigo), vamos fechar todas as janelas, escurecer tudo, para parecer que é noite de natal…amaaaado!
    Como leoa, aquela cheia de culpas…se eu tivesse o poder de sentir sozinha “a tal sensação estranha de estar longe dele nesta datas”, eu faria o q fosse preciso, mas creio que estou criando um bom ser humano…e dia 25 escuro se fez, papai noel chegou atrasado (pq ele sempre chega perto da meia noite)…e tá tudo certo! Sigamos assim, firmes e fortes!!!

    bjão

    • Juliana Silveira 6 de janeiro de 2020

      Carol, que lindo o teu filho! Essa passagem da vida a qual contempla o divórcio, a guarda compartilhada e a reestruturação da família, constrói nessas crianças capacidades afetivas especiais, sabe… de emocionar. Que sejam felizes e construídos com muito trabalho afetivo cada um dos teus natais neste construção de vida nova que vives de forma tão vulnerável, corajosa, aberta e profunda. Tão melhor a vida assim! Beijos no coração e um lindo 2020 para vocês!

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