Quanto mais dias eu vivo, mais eu me surpreendo com a capacidade do ser humano em viver histórias bacanas na vida.

Nascemos para fazer coisas incríveis, acredito eu. Experiências que permeiam as nossas escolhas, do tipo de comida que ingerimos, ao amor e a forma como vivemos ele. Que nos dividem em conservadores, e degustadores aventureiros. Do tipo de vida, se loucamente focada na realização profissional e nas conquistas financeiras, ou se com base em uma vida mais simples, de realizações menos ambiciosas, onde menos é mais. Da escolha por ter filhos ou, simplesmente, por não tê-los. Do que definimos como valor guia da jornada da vida nossa, própria, e que nos torna por vezes diferentes, por vezes comuns.

Isso tudo, essa diversidade de formas e caminhos, encontrados e desencontrados, que resumem o quão criativos e audaciosos conseguimos ser na vida, na qual mesmo parecidos somos diferentes, é que me encanta a cada esquina.

Faço amizade fácil. Quando eu era moça, tenho uma história famosa em família que conta das minhas amizades profundas nos meus translados no transporte público. Fazia melhores amigos, e quando nos despedíamos daquela linha ou daquele horário, tinha chororô, troca de presentes e saudade. Teve uma senhora que ficou comigo quarenta minutos em uma lotação, e terminou a viagem conhecendo toda a minha família, meus problemas com um namorado ciumento, as fotos das minhas férias que eu acabara de revelar,  e por fim,  já me chamava de “filha”.

Então, dito isso, meu histórico me condena. Sou uma amante de pessoas e histórias humanas. E talvez por este meu interesse genuíno e afetivo, tenho encontrado histórias interessantes por ai, a toda a hora.

As dos últimos tempos foram tão especiais que resolvi trazer aqui.

Gabi foi uma amiga daquelas que a gente faz na piscina do hotel, sabe? Eu sou dessas. E as piscinas costumam ser tiro e queda para mim. Começamos a nos olhar, sorrir uma para outra com simpatia, e na primeira oportunidade, já estávamos sentadas um uma borda, em altos papos.

Gabi é divorciada de dois casamentos, tem uma filha adulta do primeiro, e estava naquele final de semana curtinho o seu novo amor. Ela passou por uma transformação bem legal nesse caminho, cheio de escolhas e relacionamentos, e a essa altura, é uma mulher com muitos sonhos, vulnerável e forte, e de uma alegria peculiar. Quase choramos juntas fácil. Daquelas pessoas que se emocionam com a vida… E eu sou dessas também.

Com um corpo super bacana, está começando agora um perfil nas redes sociais sobre malhação e saúde, estimulando principalmente as mulheres maduras. Trabalha com deficientes físicos severos, crianças, e ali já ganhou mais admiração minha por lidar sorrindo com esta realidade tão dura. Acredita no amor, nos recomeços, e parecia tão à vontade consigo mesma que, enfim, me ganhou ali, naquele domingo quente, e viramos amigas. A ela, presenteei com um livro meu, sedimentando o nosso encontro. Assim, não esqueceria de mim, como eu não esquecerei dela.

Estava eu em uma área kids de um hotel, e conheci a Silvia. Funcionária pública gabaritada, e dona de uma simplicidade e delicadeza peculiares, me contou a sua história, sentada em uma mesinha de plástico. Divorciada do primeiro casamento, do qual saiu com dois filhos, passou por um câncer de mama, se tratou, o curou, casou-se de novo e gerou um terceiro filho, fruto de uma doação de óvulo. Mais ou menos nessa ordem… E pensa em uma mulher alegre, de energia boa. Essa é a Silvia. Nos conectamos de cara por conta do projeto, e das semelhanças das nossas histórias, de construção da felicidade no depois, do nosso terceiro filho do segundo encontro. E ela levou para Brasília mais um livro meu. Uma construtora, mãe de três, executiva, como eu.

Há um ano atrás, conheci em uma piscina de hotel, uma bela mulher chamada Jade. A Jade ficou minha amiga da mesma forma que a Gabi, pelo mesmo caminho. Em poucas palavras, ela se mostrava abatida pela tristeza de ver seu casamento de muitos anos, agonizar. Nela tinha uma vontade clara de viver, de sair da casca, mesmo tomada pelo entendimento de tudo o que precisaria atravessar, caso fizesse a escolha de encerrar aquela relação, a qual gerou duas filhas como fruto.

Este ano andava nos corredores do mesmo hotel, e a encontrei. Construindo, há poucos dias, a sua identidade, agora só, pós decisão pelo divórcio. Ela levou um livro meu para casa no ano passado, e neste ano, estava vivendo a morte que o divorcio traz. Morte em vida. Mas a possibilidade de vida após a morte também. E lá estávamos nós, compartilhando e construindo novas histórias juntas, à beira da piscina.

E a Constância? À beira das mesmas águas, esta jovem senhora, viúva do seu grande amor, namorava de novo, um novo parceiro. Um jovem senhor consciente de estar vivendo com ela momentos de conexão e prazer, além do seu passado e suas histórias profundas de afeto. Ali, ambos namoravam de novo. Não mais importante, nem menos, do que as histórias que antecederam a esta em suas vidas, mas em  outros tempos. Daqueles encontros bacanas que acontecem quando os tempos, nosso e do outro, sem encontram. Na hora certa, “h”, sabe? E aí, é lindo de ver. Flui com frescor e leveza.

Só que Constância não recebeu o meu livro. Não chegamos a tanto:)

O que essas histórias têm em comum, pontualmente, é vontade de viver mais e melhor. Fé na construção de vida nova a qualquer tempo. Vulnerabilidade. Todas elas apresentaram. Todas doces, emotivas e de valores perceptíveis a qualquer vivente que se propusesse a ouvi-las por cinco minutos. Todas transparentes. Lindas e vivas. Com brilho no olho, mesmo nas ocasiões em que o choro veio à tona, por tristeza pelo que se passou, se perdeu ou poderia ser melhor.

E a emoção tomou conta, em vários momentos. Porque nessas histórias, seres humanos atravessam coisas intensas e constroem realidades incríveis. Daquelas que a gente não faria, não conhece, ou até faria mas desconhecia, e então, tomou outro caminho. Personalizado. Em respeito a essa diversidade que temos na gente, e que acaba com o que é certo e errado, pior ou melhor. Que constitui o nosso próprio jeito, a nossa própria história.

A quem ficou curioso com os efeitos do livro que escrevi, ou está pensando com os seus botões que ele estimula o divórcio, quero dizer que ali só tem histórias humanas incríveis. Como as suas. E conhece-las encoraja a viver, a buscar a felicidade.

Se isso levar ao divórcio, é porque não estás a viver, nem a ser feliz. Então, deixa quieto. Não tem nada a ver com o livro.

Tem a ver com identificação e possibilidades… É só ler e ouvir histórias incríveis por aí, que você entenderá do que eu estou falando:)

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