Estou trabalhando em “home office” há uma semana. No “escritório em casa”, traduzindo a expressão de forma direta. Como a maioria dos executivos cujas empresas tomaram essa como a melhor opção. E nessa rotina, tento adaptar a necessidade de estar “on” no trabalho, “on” nas notícias, “on” com as nossas três crianças, com a casa e com a angústia de não saber o que será do amanhã.

Falo muito aqui sobre a vida não ter garantias, e assim mesmo podermos viver bem com ela, e feliz. Essa minha verdade continua a mesma, viva e inteira em mim. Só que esta, na qual acredito, está vinculada a ação, a construção de um presente que leva a um futuro. E agora estamos exatamente sem este movimento.

O presente exige que paremos. Mas em um mundo que não para de girar, como pararmos nós? E a nossa cabeça? E a ansiedade quanto ao que não se está construindo hoje, quanto a estarmos nesta inércia?

Pois bem. Nessa realidade difícil, eu, e grande parte do planeta, está em isolamento. Em quarentena, ou em “home office”, expressão que ganhou poder nos últimos dias. Pois constituiu uma das poucas alternativas de nos protegermos, às nossas comunidades, e ao mesmo tempo, nos mantermos “on”. Produtivos e em movimento.

Só que aqui, tenho aquela constelação toda acontecendo no meu mundo particular. Até o cachorrinho fofo da minha sogra está aqui. E sinto minhas crianças, de idades e momentos tão diferentes, angustiadas também, do jeitinho deles, no mundinho deles, com o que estão percebendo de tudo isso.

Então tem manha, pedido de atenção e quebra de rotinas. O telefone do trabalho toca, os e-mails chamam, e a TV não para de contar mais casos e mortes pelo mundo, oriundos dessa epidemia maluca que se espalha entre nós. Tem príncipe, CEO de empresa, jogador de futebol, de basquete, e ministro, com corona vírus. E a casa grande, essa na qual vivemos, ficou pequena para tanta gente administrando suas necessidades de se movimentar, suas preocupações, medos e ansiedades.

É… São tempos sobre os quais não sabemos lidar. Não tínhamos nada parecido no nosso HD, então estamos assustados, todos. E vivendo com reações inusitadas, intensas, polares, e mesmo, solidárias. Tudo misturado. Algumas vezes me peguei chorando no braço do sofá esta semana, entre uma notícia recebida e uma colherada de comida para a minha bebê. Me peguei pedindo pelos meus pais no meio do dia. Me peguei em pânico, com as contas que vencem no início do mês. Me peguei vulnerável.

E é desse “home office” que quero tratar. Não do operacional e seus protocolos. Quem quiser dicas, escrevi para uma coluna fixa que tenho em um blog empresarial aqui do sul sobre isso… Quero falar do “home office” fora do normal que vivemos, que envolve filhos soltos, ansiedade, medo pela vida de quem amamos, pelo nosso trabalho, por nós mesmos. Medo de faltar comida, da economia entrar em colapso e da violência que isso pode gerar. Da falta de regras, do excesso de televisão, celulares, Ipad’s e vídeo games.

No meu caso, mãe de três crianças, que não deseja faltar para eles, que quer viver mais. Esposa que ama e é amada, e não quer perder essa parceria. Mulher que não quer comprometer o seu trabalho, os seus projetos de crescer e um cenário promissor para isso. E cidadã, que sofre em ver a dor dos que já foram abatidos, e as possibilidades cruéis que sobram para os que ainda não foram, no âmbito da saúde e da vida em comunidade.

Ontem, em meio a tudo isso, atendi à ligação do diretor de uma empresa, minha cliente, trancada no banheiro, enquanto a minha filha menor chorava do lado de fora, pedindo “colo” para “passear”.

Nem o colo, nem passear. Precisamos evitar, não é mesmo? Então é preciso negociar. Falei para o cliente sobre a minha condição, e dele ouvi: tudo tranquilo, só “fica em casa”.

E é onde eu estou, quando não preciso correr até o mercado para alimentar as várias bocas que tenho por aqui.

Esse é o “home office” que temos disponível. O mais exigente que já vivi. O que não tem nada de fácil, nada de objetivo, nada de tranquilo, nada de confortável. Nada de leitura, de filmes ou de cursos online. O que exige negociação, o “respirar fundo”, o tentar de novo. O que pede esperança. E que me colocou em alguns momentos ao chão com eles para brincar, em frente a uma panela de arroz de leite, buscando o movimento da colher de pau para me distrair, ou em um canto para rezar. Para entregar ao universo um pouco de otimismo e esperança, um pouco da minha vulnerabilidade e pequenez, já que pouco podemos fazer além de estarmos em casa.

E em meio a opiniões confusas sobre o que fazer, nas vozes dos poderes políticos, empresariais e científicos do nosso país e do mundo, tentamos raciocinar e fazermos o que nos parece melhor neste momento. Sozinhos ou em grupo. Mas que começa com a tomada de consciência individual.

Tem de tudo na rua, no mundo. E de verdade? Sem julgamento? Estão todos tentando, a seu modo. E só por isso, está tudo certo. Porque a opinião honesta é importante. Cada um tem uma ideia sobre salvar a si próprio e aos seus, a sua comunidade. Cada um ostenta as armas que tem e briga pelo que acredita. Cada um tem o seu olhar. E se exercitarmos o respeito aí, a discussão clara de ideias e o bom senso na busca do bem comum, neste espaço onde divergimos de opinião, crença ou caminho, essa loucura toda já estará nos ensinando mais uma coisa boa.

Além de como fazer o tal de “home office”, do “ficar em casa”. Além de nos conectarmos com os nossos medos, dificuldades e intimidades mais profundas. E de, nesse movimento, mergulharmos também nos que amamos. Nas nossas vidas e escolhas. Pois “ficar em casa” nos obriga a viver quem somos e o que construímos. Sem fugas ou liberdades, para as quais saímos correndo em direção, quando temos “como”, na ânsia de evitarmos a consciência e ação “sobre”. Afinal, estamos todos em casa. Sentados sobre a vida que é só nossa.

Aqui, na minha, descobri que os amo mais que antes. Aos meus. Meus pais, sogros, amigos, irmãs e irmão, aquele cunhado que chamo assim. Meu marido, parceiro da vida, e meus pequenos três filhos, Joana, Joaquim e Antonella. E que por eles me trancarei no banheiro com clientes ao telefone, sempre que necessário. Cozinharei com uma bebê na cintura, terei vários sons ligados na sala, entre iPads com desenhos infantis e notícias do mundo e da nossa cidade. Jogarei cartas nas horas de almoço e “beach tênis” na garagem, em intervalo obrigatório, daqueles que ajuda a administrar a ansiedade dos pequenos. Ficarei sem ginástica, ou farei como dá, nas várias subidas de escada durante o dia.

Pois descobri que por eles, começarei de novo, e como estamos juntos, começaremos todos. Como for. Lá fora, ou na verdade nua e crua do home office. Esse, que cada um tem o seu, que em cada casa determina uma ação, um movimento, e que é legitimo em todos os lares.

Se humildemente eu puder sugerir, neste mundo maluco, tenta respirar. Se energizar, se espiritualizar de alguma forma. Mesmo que por segundos, no braço do sofá. Pois na ausência de controle, nos resta ter calma. O que não nos mata, nos fortalece. E se isso te servir, sairemos mais fortes dessa, com certeza.

Minha pequena fez dois anos, meus afilhados fazem quinze anos, meu dindo, quarenta, meu irmão, quarenta e poucos, meu marido, cinco aniversários ao meu lado. E estaremos todos em casa, trabalhando “home office”, em quarentena. Alimentando, com essa crise toda, um amor imenso, real, fruto das nossas escolhas, e que agora, encaramos de frente. Valorizando a vida, o abraço e o fato de estarmos juntos. Dando créditos a Deus, ao universo e ao seu poder, quando impõe esse movimento, que hoje, assistimos assustados. E estaremos bem. Pois recomeçaremos todos, em uma cena comum. Que encontraremos quando sairmos do isolamento, ou do “bunker”, como diz um amigo, e neste momento, entenderemos o tamanho do estrago e do trabalho que precisaremos imputar na reconstrução.  

Então nos resta acalmar o coração. Um beijo no seu. Estaremos, ali na frente, juntos:)

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