Quem diria… Com todo o respeito aos fãs do Reality BBB, quem precisa dele agora? Temos nosso próprio isolamento, com direito à espiadinha nos dos outros pelas redes sociais, infladas deles, de stories a fotos e IGTVs. Com toda a sua graça e drama. Mais graça do que drama, nas redes, mas ok. Sabemos todos como as coisas realmente são.

Que tal vinte e quatro horas convivendo com a realidade do outro, ou “dos outros”, no meu caso, que vivem sob o mesmo teto? Estou falando principalmente de energia, essa que colocamos em tantas coisas na vida e que neste momento está condicionada entre paredes, e entre muitos do mesmo.  Mas tem gênios,  manias, tempos diferentes para as coisas, comportamentos divergentes, que estão todos ali, dos mais positivos, aos eventualmente mais nocivos, afinal não somos de todo bom ou de todo ruim, dada a situação de confinamento.

Só que isso não é tudo. Estamos também todos tensos, com medo, por conta do motivo de estarmos assim. E com cada um vivendo os seus, o desafio inicial é ser empático e se colocar no lugar do outro.

Aprendizado número um. Não estávamos mais acostumados a isso, então os primeiros dias foram difíceis.  

Meus filhos, por exemplo, com medo de não poderem voltar a escola, por não podermos dar conta financeiramente desse custo, em um  futuro incerto ainda. Não falamos disso, mas eles sentem através da nossa natural preocupação com a situação econômica, nossa e do mundo. Eles também têm medo de perderem os avós, ou de pegarem o vírus e terem que ficar isolados, sem a mamãe. Ora, ora… Farei de tudo para isso não acontecer, pois estarei ao lado deles para o que der e vier sempre, mas se trata do medo que possuem, e eu estou aqui tentando,  respeitando e reverenciando esse medo deles.

Nós adultos, tensos com as tantas possibilidades de mudança nas nossas vidas, na nossa família. Somos cinco, então são cinco camas, cinco bocas, três escolas, duas casas, duas cidades, alguns negócios, próprios e outros para os quais trabalhamos. Um tanto de coisa e um tanto de gastos. Então, nos vemos preocupados. Não é incomum um choro solitário em um canto da casa, no banho, ou uma conversa de adultos ao pé do ouvido sobre as nossas alternativas, para que as crianças não ouçam. Abraços rápidos no corredor, de força, e trocas de angústias e posições, que às vezes são comuns, e tantas outras, distintas.

Descobri de onde se inspirou o criador dos “SMURFS” ou da história da “Branca de Neve”, quando deram vida, em uma mesma família, a tantos “sujeitos” diferentes. Não era engraçado aquilo? Hilário, para não ser trágico, de tão real. Zangado, Feliz, Construtor, Atim, Soneca, o que odeia tudo, o que é apaixonado por tudo, o que faz experiências mirabolantes, o vaidoso, que adora um espelho. Acho que misturei as histórias e esqueci de um tanto de personagens aí. Mas a questão é que temos de tudo dentro de casa, em sua potencia máxima, por vinte e quatro horas, há quase quatro semanas, e sem fuga.

Afinal, a rashtag diz “fique em casa”, e aqui, como uma das nossas verdades é nos mantermos vivos e sadios para dar conta dessa turma toda, tentamos manter a premissa de permanecer em casa, com a maioria de nós, pelo menos.

Isso nos colocou frente a frente, como nunca antes. Já voltamos de férias, “esgotados”, por uma semana só nós cinco, todo mundo junto reunido, do “bom dia” à “boa noite”. Só que agora, presos e com medo, a receita recebeu ingredientes que fizeram uma diferença interessante…

Um deles é o medo de nos perdermos, de nos vermos doentes, o que elevou a nossa estima uns pelos outros, e assim, a nossa tolerância. Outro, é a segurança de termos uns aos outros juntos, e dessa forma, com quem contar na reconstrução de um presente e futuro próximos, quando tudo passar. Tem a incerteza do amanhã, de como a coisa será ali na frente, o que faz com que nos aproximemos mais e desejemos curtir o hoje, juntos. E ainda, a sensação de que essa parada foi providencial, pois as coisas de repente pareceram no lugar, mesmo estando tudo fora do usual.

A vida me permitiu estar com eles, essa que é a verdade. Com os meus filhos e marido. Foi me dado esse direito por ocasião desta pandemia.

Venho sendo mãe, profundamente, há dias a fio. Como se fosse me dado o direito a uma segunda “licença maternidade”, agora, de filhos grandes. Não é legal? Pois nessa ganhamos todos, conscientemente. Aquela intimidade gostosa dos tempos de amamentação em casa, só que agora comemorada por eles na mesa do almoço ou na do meu “home office”, a qual dividimos, entre trabalho e atividades da escola, tudo no mesmo espaço. Uma rotina estranha, mas gostosa, pois me dei conta o quanto vínhamos sacrificando a gente, os nossos momentos.

Tudo por eles, mas longe deles. Essa é a verdade dos tempos nos quais vivíamos até quase um mês atrás.

O mesmo senti com o meu marido. Sempre muito trabalho, muitos compromissos, viagens e correrias, compensadas em jantares bacanas pela falta de tempo a sós e para nós. Coisa que ganhamos nas últimas semanas. Falamos de assuntos sobre os quais não tínhamos tempo. Com três filhos sobram poucas oportunidades para divagar, e esse não é o jeito mais bacana de se conhecer uma pessoa e o que está se passando com ela? Nos questionamos, concordamos, discordamos, nos percebemos, nos apaixonamos de novo. Namoramos na varanda dos fundos, quando os três já estavam dormindo, de calça de abrigo e kit mamadeira em punho. Fumamos até um charuto outro dia, como fazíamos quando nos conhecemos…

E eu, me entreguei a cálices diários de vinho também, minha paixão. Como a Monica Salgado, colunista da ZH, no seu relato deste final de semana. Berrei. Com as crianças, algumas vezes, como ela. E até ao vento.  Vivo de roupas de ginástica, dia e noite, morrendo internamente de saudades de um salto alto, maquiagem e acessórios, os quais sempre me acompanharam. Tomo banho três da tarde, onze e meia da noite, faço ginástica na sala pelo youtube do celular, enquanto a minha bebê assiste à “Bita e os Animais”… Participo de aulas online das crianças, uma atrás da outra, faço propostas comerciais, contatos para me manter respirando e aos meus negócios. Atendo clientes pelo telefone, de dentro do lavabo, da escada, do jardim, da lavandaria. Enfim, tenho feito o que posso e o bacana disso, é ver que posso. Que fazemos o possível, e ele é o suficiente.

Enfim, oportunidades de bagunçar o que precisava de uma mexida e arrumar o que precisava de ordem. Coisas da quarentena, que nos mostraram que o ritmo da vida da gente é a gente que dá. E neste caso, vi aqui, que pode ser diferente. E mais, vi que os amo mais que antes. Aos meus. Que merecemos pequenas mudanças, que atendam a nós todos e que desacelerem o que não precisa correr.  Além de, essa experiência estar sendo uma escola de empatia e lido com as diferenças do ser humano que está em quem amamos, com o agravante de quando se está também acuado.

Jamais vamos esquecer o Reality Show mais importante das nossas vidas. Nosso próprio BBB. Nele, os integrantes foram escolhidos a dedo, e ao contrário de um jogo, ninguém ganha e ninguém é votado para sair. Nele, os participantes se amam e se protegem, sem agrupamentos e articulações.

Um confinamento do bem, de família. Quem sabe, para reaprendermos sobre o que ela significa? Vai saber… pode ser o aprendizado número dois. Já estou gostando disso:)

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