“Sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja, que tem confiança em coisa boa, que tem fé.”

Em tempos difíceis a esperança vive na vida gente. Se não acesa, iluminando os nossos pensamentos, corações e dias, vive nos subúrbios remotos da nossa realidade assustadora.

Tenho lembrado os meus momentos de luta e de esperança na vida. Foram alguns, já que fui presenteada diversas vezes por desafios e mudanças importantes, alguns escolhidos, outros nem tanto. E acusada de ser uma otimista nata, sempre tive a esperança vivendo em mim. Quanto mais fundo o túnel, mais tortuosa a estrada, mais ela se apresentava, me oferecendo a mão. Do tipo: vai lá, a vida tem um monte de boas possibilidades entre estes emaranhados de fios!

Só que para enxerga-las, desenvolvi um tipo de “TOC” – transtorno obsessivo compulsivo. A palavra não é boa, eu sei, mas o comportamento típico foi meu aliado em muito na minha jornada, confesso. A organização das coisas do lado de fora, às vezes de forma excessiva, sempre me ajudou a organizar o meu lado de dentro. A ver a ponta do novelo, a enxergar os fios. A separar o que era bom de tudo o que era ruim.

No fim do meu primeiro casamento, o novelo não era nada fácil. Eram tantas perdas, tantas relações novas para construir, tantas para proteger e tantas outras para deixar a vida levar, que se eu só o puxasse, sem organiza-los, fio a fio, e pacientemente separar cada um, acredito que não o teria vencido. Aqui, vencer, quer dizer atravessar perdendo mais anéis e menos afetos, os quais eram meu maior valor. Nem a verdade dessas relações que ficaram, nem a ideia do bem. E por consequência, vencer foi não perder o respeito por mim mesma, e o dedicado a mim pelos meus filhos.

A esperança nos leva a esses patamares. A fé nos carrega para frente. Essa crença otimista ameniza as pedras dos caminhos que tomamos. Só que agora nos vemos frente a um país dividido em bandeiras coloridas que definem nosso ir e vir, nossas atividades profissionais, nosso lazer, para não falar da nossa subsistência. E quem tem criança, está em casa. Isolado, sem escola, sem ferrolho, sem ar.

Mães sabem o que eu quero dizer. Alguns pais também. Estar em casa vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, faz com que vivamos entre a esperança deles e por eles, e a desesperança das preocupações de gente grande que nos atormentam, e a falta de oxigenação de fora.

Observo negócios de amigos e familiares sendo devastados, transformados, há duras penas, no que não sabemos ainda. Pois vivemos tempos de sangramento sem reposição. Acompanho o mundo mudando, e não estou falando só das pessoas, mas da condição que teremos de seguir quando tudo passar. Me escondo dos jornais e telejornais, “mensageiros da morte”,  a fim de manter a minha sanidade emocional e a minha esperança de pé.  

Hoje minhas pernas fraquejaram, com as minhas três crianças na sala. Éramos somente nós quatro, entre mãe e filhos, então não foi pouca coisa. Eu tinha plateia. Dois já são grandes e perceberam o meu titubeio, o meu desequilíbrio. Não é fácil ser mãe, trabalhar e ter esperança, sem respirar e correr por aí, absorvendo respostas do mundo, reações e brisa, trocando energia. Neste que, mesmo com seus cantos escuros, está sempre tão aberto aos atletas no empreendedorismo do sonhar e realizar. E que mãe não é, se não corredora e sonhadora da vida?

Então meus filhos correram do sofá para as minhas pernas a me dizer que estavam prontos, para o que der e vier. Cheios de fé, no olhar cheio da pureza infantil, para não dizer ignorância, frente à tormenta que estamos vivendo. Será ignorância ou esperança? Será que eles não enxergam além, não tem mais disposição às mudanças do que nós adultos temos, apegados no tanto que construímos no caminho? De formatos, conhecimento, posicionamentos  e patrimônio?

Minha filha terminou o abraço me pedindo para não perdê-la. A esperança. De que dias melhores virão, mas não mais os mesmos. Não com as mesmas coisas talvez, nem na mesma forma. Mas me pediu que eu não pare de olhar o azul do nosso oceano, neste que nadamos juntos desde quando somos muitos. Pois deles sou a capitã. E olha que privilégio o meu…

Fui condecorada com a dádiva de dar direção e boas notícias, entre as más. Mas principalmente as boas, capazes de levá-los adiante. A seguirem seus caminhos construindo, sem medo do amanhã. Ou, pelo menos, “prontos para ele”, como disse a minha Joana.

Se você não tem crianças em casa, dedico um pouco da esperança farta dos meus daqui. Que correm pela sala, alegres, aprendendo no novo formato do saber “remoto”, distantes dos amigos, dos campos, do brincar, do trocar, e assim mesmo, mantendo-se nutridos da esperança a qual temos tantas vezes dificuldades de ter em nós.

Aos que possuem crianças ao redor, titubeiem. Deixem as pernas fraquejarem no meio da sala. Tenho certeza que descobrirão fortes aliados nos seus pequenos, amparo, e doses cavalares de fé para recomeçar.

Aos que não sabem o que vai ser, mas estão prontos para se transformar em algo novo, estamos juntos. Cegos e esperançosos.

Às que atravessaram um divórcio, peguem suas armas mais poderosas. Aquelas que as ajudaram a construir em si, neste trajeto doloroso e de perdas,  mas cheio de descobertas e ganhos profundos, uma força antes desconhecida e altamente construtora. A experiência do recomeço será de grande valia… Conhecemos o caminho da transformação e da reconstrução, lembrem-se disso. E algo importante que aprendemos é que tudo há de passar, como o que já passou para nós.

E que nós todos saibamos esperar o bem. Esperança é isso. Em tempos de ansiedade e instantaneidade, ela só viverá nos pacientes, e nas crianças.

Estou construindo arduamente a minha espera pelo melhor, dia a dia. Porque ter esperança é uma construção. É acreditar na felicidade no depois, é trabalhar nela, é titubear e contar com o outro, e saber esperar. Pois esperança é uma parte da gente que ainda acredita que pode dar certo. 

Que seja uma espera abençoada para você, cercada de crianças, e que a tempestade passe logo. Pois como diz o ditado, “a esperança é a última que morre”, e temos pequenos sedentos por vida longa, feliz e próspera, com uma história inteira pela frente a construir.

Deus abençoe as crianças…

Que a esperança delas, donas do futuro, nos contagie. Os condecoro, adultos, capitães dos barcos que levarão as crianças até lá. E este não é um fardo, mas um privilégio:)

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