Não tenho muitos ídolos, mas dizeres e pensares que me representam, sim. Já escrevi aqui sobre isso, e para quem não acompanhou, é apenas a minha opinião sobre idolatrar as pessoas, o que, a meu ver, as tira a humanidade.

Adoro vê-la nos seres humanos que admiro. Adoro quando tropeçam, esbarram em um copo, cometem um erro de português ou de compreensão, deixam o cabelo desarrumado, quando tem sua própria opinião, e melhor ainda, quando levam isso tudo com leveza. Gosto disso pela verdade que há em se questionar, se atrapalhar, se equivocar, se revisar e relaxar. Não por sordidez ou prazer em ver a escorregada dos outros. Mas pela sua humanidade, pela sua vulnerabilidade, coisas que nos conectam. Que nos fazem iguais, e que me deixa mais confortável com as minhas dificuldades, atrapalhadas e mal entendidos, confesso. Nos colocando em linha, expressão que tenho usado muito, na busca de pôr-nos frente a frente nas chances, recomeços e consertos do que eventualmente erramos, perdemos, acumulamos ou quebramos, e mesmo para nos apoiarmos e amarmos.

Assim me parece que fica tudo certo, e a vida, algo menos ideal, mais real, e cheia de significados.

No caso de autores de livros e escritas livres, adoro os que esboçam no seu trabalho a mesma humanidade. Às vezes deliciosas, tocam o nosso coração. Outras, simplesmente não conseguem se conectar a gente. Afinal, todos temos dias ruins, até no pensar, na poesia e na rima. Já aconteceu com praticamente todos os escritores que tive o privilégio de acompanhar mais de uma obra.

Fabrício Carpitejar, por exemplo, tem um espaço especial no meu coração. Até quando desconectada dele, em uma leitura de seus textos aqui e ali, por não comunicar, por vezes, exatamente com a forma com que sinto, ou penso, eu o amo. E admiro sempre a verdade da exposição dos seus sentimentos. Se não são dele, em determinado momento, captou muito bem os de outros. De uma sensibilidade… E ainda por cima, com poesia, que deixa a coisa toda com cara de novela, com aquele drama que gostamos de viver nas passagens da nossa emoção.

Pois bem, essa é a expressão dele, própria, adoremos ou não…

E outro dia, em uma “Live”, usei o simbolismo do “levantar os braços para cima em meio a multidão”, pedindo para parar, para sair, para tomar outro rumo, quando aquele caminho não fazia mais sentido, como forma de me expressar. Naquele momento me vi lá atrás, no exato ponto no qual me dei conta de que não poderia mais continuar. Lá atrás, casada com o pai de dois dos meus filhos. E “levantar os braços” passou a ser algo de grande valor e significado para mim, o que passei a traduzir nos meus textos semanais de desabafo, compartilhamento de dores, compreensões e incompreensões. Porque comunicam a minha humanidade. Minhas escolhas, dores e mazelas, e os meus dias ruins e percepções por vezes envenenadas pela dor ou pelo excesso de amor.

Como imagino Carpinejar… Conectada, até se desconectar. Autêntica, até causar um questionamento ou divergência.

“Para tudo! Isso não está fazendo sentido para mim!” Esta frase já me visitou algumas vezes, e por ter sido ponto de reconsideração em todas elas, a trouxe em várias escritas minhas.

Como te sentes com isso, com a possibilidade do que parece certo e límpido para você, ser intolerável para mim ou para outros? Como, por exemplo, questionar movimentos, paradas, o amor, comportamentos ou caminhos escolhidos?

É assim que escrevo a cada semana. Livre. Não para ser seguida, não para convencer ninguém de um ponto de vista, ou para agradar. Escrevo porque meus braços se erguem. Pelo desejo deles, vivos em mim hoje, de se posicionarem, se sentirem parte do mundo no qual vivem e por isso, terem direito de refletir, opinar e se levantar. De pensar diferente. De colocar a dor e a dúvida para fora e abrir fórum. Um interno, que hoje transborda. Para assim, constituir, principalmente, parte de mim mesma, autêntica, acolhedora e real no meio o qual escolhi para mim.

Pensamentos compartilhados como: Será mesmo? Acontece igual aí na sua casa? Te sentes assim? Toma cuidado! Fica atenta?” Ou mesmo, “pode ser muito bom este caminho aqui…” são coisas as quais divido em crônicas. É compartilhamento real e oficial, como se diz por aí. E por ser humano assim, pode gerar opiniões diversas, diferentes olhares sobre o que é felicidade, que caminho fazer, a que questionar, e que gosto tem.

Coisa linda não pensarmos iguais. Só estamos onde estamos, no que temos de melhor, porque fazemos caminhos diferentes, mesmo que buscando coisas semelhantes. Mesmo querendo amor, reconhecimento e felicidade na vida. Mas que bom podermos pensar diferente e assim mesmo nos ampararmos e impulsionarmos, não é? É na história do outro, no seu pensar, que construímos um pouco da nossa, do que queremos para ela, e do que não queremos mais, ou de jeito nenhum.

Por Carpinejar, talvez o jeito seja “não entrarmos na linha da censura e da privação. É ir pelo entendimento. Se eu penso diferente dos meus pais, é porque meus pais me deixaram pensar diferente, portanto preciso também aceitar que eles pensam diferente. Se eu tive a liberdade de me opor a eles, tenho que assegurar a eles a liberdade de se oporem a mim.” E não é assim na vida? Em família, com o parceiro, com os filhos? Ou com outras almas com as quais cruzamos na jornada?

Liberdade de sentir, de escolher, de ser, é existir. Liberdade de se expressar com amor, de  escrever o que sente por aí, também.

Em um mundo de partidos, seitas, tendências, classes sociais e filtros de Instagram definidos, coisa boa poder ser único, indivíduo, pelo menos no sentir, na opinião que mescla autores, blogueiros, amigos, e referências parentais. Coisa boa podermos fazer nossas próprias misturas e escolhas. Coisa boa gostar do texto de hoje e se dar o direito de não gostar tanto do de amanhã.

Neste domingo Martha Medeiros falou de dores que a ajudaram a mudar, a encontrar outros caminhos, e construir experiências, afetos e felicidade em cada depois. Amei. Não às escolhas dela, felizes ou eventualmente tristes, pois não as conheço e é um direito dela experimentar os caminhos, por si própria. Mas amei o pensamento. A liberdade de ver o bem nas tristezas, nos erros e nas dores. De se propiciar viver histórias, sentir o sofrimento dos dias escuros, resinificar afetos e presente, novos “sim’s” , novos “não’s”, questionar-se de novo e se permitir não ter respostas, quando elas simplesmente não estão disponíveis à altura dos olhos ou ao alcance das mãos.

Gostei deste, de mais esse mergulho de domingo. Gostei do Carpinejar na revista “Vida Simples” deste mês. Gosto quando são de verdade. E obrigada a você, por acompanhar esse monte de pensamentos que rolam por aqui. Se eles fizerem você se posicionar frente ao seu próprio mundo, todos os dias, a favor de você mesma, estaremos juntas em qualquer tempo, lado a lado, mesmo discordando. Como em uma caminhada…

Afinal, não precisamos nos amar todos os dias para sermos algo de bom umas para as outras. Nem precisamos concordar. E eu, posso amá-las do jeito que são:)

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