Quando se trata de relações afetivas, românticas, maternas e familiares, nos vemos em um cenário mais de “trocas” do que de “dicas e receitas”. A gente conta a nossa experiência, escuta a do outro, e na percepção do que nos toca, nos identifica, compomos as nossas próprias melhorias particulares, nossos próprios ajustes. Isso tudo para dizer que se eu soubesse a receita para relações felizes eu juro que contava aqui. Mas como não acredito que haja, troco e trago o que pode contribuir na profundidade do nosso olhar sobre os afetos que vivem em nós.  Então seguem duas frases me tocaram fundo…

“Se a gente quer construir mais forte tem que cavar mais fundo.” Fernanda Lima disse essa frase no primeiro episódio da nova série do GNT, “Bem Juntinhos”.

Feliz e sabida ela, na colocação bem adequada dessa verdade… Mais força vem de mais profundidade. Não há relação forte se não mergulhada, se não transparente, cheia de vulnerabilidades entregues na mesa pelos seus envolvidos. Não há força sem movimento que leva além, um passo, outro, e mais outro, na direção da evolução. Dessa que conecta a gente na gente mesma, e a gente ao outro. Cavar fundo é conhecer para compreender, e então, perdurar, dar solidez e norte à caminhada. E a partir de base consolidada pelo que é compreendido e escolhido, ter fortalecido o lugar… A relação, a parceria, o projeto e o amor.

O desconhecido seduz, mas não constrói, afinal. É no conhecido que a gente estabelece vida, casa, sonhos e a sensação de segurança que nos permite descarregar nossas bagagens e se “atirar na rede”, independentemente do tempo que isso durar. É sobre terreno que não assusta que a gente investe, entrega o que temos de mais genuíno, íntimo e afetivo.

Então casamento bom é casamento que cava. Que debate, que tem “DR”, que percebe as entrelinhas do outro e as suas próprias. Do tipo: “Me senti estranha com relação a tal fala, a tal coisa, uma sensação de desconforto ou de uma felicidade nova”, e então questionar: “Por quê? De onde?”

Maternidade boa é aquela que cava. Que busca lá no fundo a melhoria possível enquanto respirar. Um jeito novo de fazer, um caminho diferente, um novo tom ou algo que conecta a um novo momento da relação de forma incansável, mesmo que cansada.

Relações familiares profundas e conectadas são aquelas nas quais a gente cava. Busca origem para então transformar, escolher cada modo, cada trato no estabelecimento de qualquer presença possível desde que não, ausência. O que se constitui forte por existir a partir de trabalho atento e escolha.

Estar atenta e “cavando” na gente e nas nossas relações é algo que constrói fortaleza íntima, autoconhecimento, entendimento e olhar amplo do todo, do outro, e isso transborda no oferecimento em qualquer relação de afeto. Em forma de acolhimento, de gratidão, de admiração, de amor real e não idealizado.

Então aí vem outra…

“Vamos nos conectar com todas as pessoas que construíram o nosso espírito”.

Essa ouvi em um programa de entrevistas de um cara que faz música e abraça causas sociais… vou descobrir o nome dele, “cavar” por aí para dar a ele reconhecimento merecido, mas até lá, o trago na frase cheia de significado por ele proferida. Nos conectarmos com quem constitui de alguma forma o nosso espírito, quem somos, se trata daquele sentimento de gratidão que seria bom termos em relação a quem contribuiu de alguma forma com o que nos forma. Seja com coisas boas e admiráveis, seja com as que nos mostraram o lado “escuro” que escolhemos não percorrer com “convicção” na nossa jornada. A quem nos deu amor e outras vivências nobres em abundância e àquele que foi escasso conosco de alguma forma. Que nos roubou algo, nos exigiu força extra ou trouxe exigências à nossa história.

Verdade verdadeira… Nos conectarmos a todos aqueles que vivem em nós de alguma forma, presentes nos nossos atos ou no que decidimos deliberadamente não ser ou agir, a partir do exemplo, nos permite saber “quem somos” e “porque somos assim”. De onde viemos e pelo que somos formados. Como sentimos, nos relacionamos, definimos o que é valor e o que de nada vale, o que compõe o nosso oferecimento ao mundo e ao outro.

O casamento, a maternidade e as relações afetivas de uma forma geral são um pouco de tudo isso, dessas frases que tocam a nossa caminhada na vida, como um estímulo que nos convida à darmos conta do que se apresenta no nosso “sentir” com essência e maturidade. Cavar e reconhecer o que nos constitui é inegavelmente a “receita” da base de um bolo que dá certo. Tipo fermento… Sem ele, não cresce. Se a gente não “cava” na relação, a gente não a amadurece, não se sustenta, nem se constitui apto a acolher a verdade que é do outro.

Se a gente não reconhece do que somos constituídos e por quem, não honra o que nos trouxe até aqui nem a quem. Não reconhece valor no que o outro trouxe na sua bagagem viva, seja na nossa origem, seja no nosso presente e futuro. E assim, não estabelece relação de afeto forte na “conjunção”, na “mistura”, na consideração a quem escolhemos pelo tempo que for. E assim, segue a viver de idealizações…

Fica combinado assim: se eu descobrir caminho mais fácil ou uma receita certa, te passo, e espero que a recíproca seja verdadeira. Mas se quiser só compartilhar um toque, um jeito, a título de troca, me interessa mais ainda que “receita”. Assim construímos ambas histórias reais, nossas e cheias de leveza e autenticidade. Humanas e respeitosas com as nossas individualidades e batalhas pessoais.

Suspeito que o sabor assim seja inusitado e surpreendente, além de atencioso ao nosso paladar… Sem dizer, REAL.

E, para mim, deu de histórias de princesas:)

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