E agora? Me apaixonei pela primeira vez após o meu divórcio e o meu filho não sabe ainda! Como contar?

Quase que posso ver o semblante de pavor e culpa da “iniciante”. Recebo esse parágrafo questionador e cheio de receios com frequência, e eu diria, graças a Deus. Fico feliz em ver o amor acontecer, então isso basta para abrilhantar o meu dia e a minha fé nos recomeços e no afeto.

O recomeço tem seus marcos importantes, e a chegada do novo amor da mãe, ou do pai, é um deles. Aqui, senti em mim e assisti acontecer com o pai dos meus filhos na jornada afetiva dele. Aqui, me apaixonei perdidamente e fiz do jeito que eu conhecia, que eu dava conta, na ausência de experiência pregressa ou de um site muito legal chamado “New Families” capaz de antecipar algumas “saias justas” e exigências mais profundas para mim, passíveis a este contexto – não pude perder a oportunidade de acariciar meu “bebê” (riso maroto).

Aqui eu apresentei o “amigo da mamãe” “travestido” naquele cara cheio de “outras” intenções. Com certeza ele não parecia nada com um amigo. Cortez demais, disponível demais, agradável demais, galanteador demais. Charmoso demais, carregava sempre um agrado ali, outro aqui. Comia com as crianças no colo, e só quem convive com elas sabe como isso pode ser desagradável. Carregava nos braços, empilhava bagagens deles, atravessava “manhas” infantis como quem dança balé. Pacientemente e hábil. E amigos, carregados de intimidade e da verdade do bem, aquela positiva e que se impõe, costumam ser mais francos, sem compromisso com a harmmonia, relaxados e relaxantes.

Aqui, não me sentia relaxada com o meu novo “amigo”, título o qual qualificaria o meu mais que “date”, por quem nutria segundas, terceiras e milhares de intenções mais, e que, por algum motivo, me fazia confortável no papel de articuladora, diplomática e manipuladora da percepção infantil e ingênua dos meus filhos, à conveniência do meu tempo. Me sentia tensa, isso sim. Porque ingenuidade não é ignorância, nem burrice, nem bobeira, nem cegueira. Queria que gostassem dele, que ele gostasse deles, e eu queria, de verdade, gostar do sabor daquilo tudo junto, na ausência de outra alternativa. Afinal eu fui “dois” e já era três, desde o ano de 2009/2010, quando se deu o nascimento dos meus filhos Joana e Joaquim.

Quando a gente recomeça após um divórcio, os filhos são parte da gente. Por mais livres que possamos nos sentir pela consequência natural do desfecho, ou pelos finais de semana na solidão da ausência deles, o fato é que já não somos mais uma só. Somos dois, três, quatro, ou quantos mais forem a soma da gente com os filhos que tivemos. Neste contexto, o amor que chega não ama uma, ama muitos. Se não ama, deveria, ou não fica. Não aguenta, não aguentamos, não aguentais, não aguentam… Em todas as conjugações verbais. Porque simplesmente não se faz viável se não for “amor combo”.

Então, amiga, se eu fosse apresentar um “amigo” para os meus filhos hoje, eu daria a ele outro nome. Lembro que falar do afeto que vinha nutrindo pelo “cara” novo na nossa vida “aqui”, me fez me sentir mais verdadeira. Lembro de me aproximar mais deles assim. Também lembro que essa verdade sobre os meus sentimentos e intenções trouxeram à minha relação com os meus filhos uma humanidade que até então vínhamos experimentando a conta gotas na hierarquia da família. Eles me viram uma pessoa boa e feita de carne e osso quando admiti amar alguém novo. Quando me movimentei na direção de um recomeço para mim, quando perceberam que ali eu poderia ser feliz mais um vez, completa, mais que como mãe, ou pelo menos tentar, como os humanos fazem. Eles me viram atravessar vales cinzentos e grandes desafios sozinha, então parecia justo que eu fosse feliz. Que eu tivesse companhia para jantar, uma mão para segurar e mais dois braços para carregá-los quando me vi só na empreitada diária da vida.

Por isso, hoje, o apresentaria devidamente. Sem falsas amizades ou amizades coloridas. Como seres sensoriais que são, meus filhos, cientes do que veem e sentem, não mereceriam ser enganados ou manipulados por conta das minhas incertezas, inseguranças, culpas e até atrapalhações. Receberiam de mim a mais pura verdade inerente às tentativas. Sem garantias, seguranças, ou seriam mais duas enrolações, extras. Colocaria assim, abertamente e sem pretensões. Apenas aquelas que me levam a querer andar junto ao invés de sozinha com eles. Aquela que me motiva a tentar independentemente do resultado. E, por isso, eu já seria vitoriosa para eles, tão “mestres” no cair e levantar… Não é disso que é feita a vida?

Se amigo? Chama do que quiser, afinal você é você, e não eu. Mas conta. A gente anda junto, não mais sozinho… E nada mais amoroso e seguro afetivamente do que saber com quem e em que circunstâncias estamos indo, atravessando o caminho, independentemente para onde, quando somos mais de um. O trajeto é longo e incerto, e nada melhor do que começá-lo pela verdade.

Talvez eu diria algo assim: “Filhos, a mãe está gostando… e isso é bom. Gostar é, né? E se é bom, é algo que será sempre um ganho para nós, no afeto ou na arte de tentar, de seguir acreditando no amor. Me sinto feliz em poder viver isso com vocês, “partes de mim” que são. Vamos junto? ♥

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