A promessa é uma colher de mel, ou de qualquer coisa que realmente se adore, e que a vida nos apresenta para adoçar o caminho. Ela traz o ar romântico aquele, que perturba de ansiedade e prazer as travessias. Dá o toque da esperança, mesmo que fajuta, no melhor sentido da palavra, se é que tem, pela sua falta de garantias, mas que impulsiona a ir mais um pouco, a tentar de novo, a avançar no trajeto em um metro a mais, dois, nunca antes superados por nós mesmos, como que contagiados pelos “cumes” de todo o tipo.

A promessa açucara combinações da gente com a gente mesma e com os outros. Nos faz acreditar que se não deu agora, será na próxima. Que se aquelas férias na Europa não saíram, a gente pode tentá-la em dois ou três anos, quando tudo estiver mais calmo, o euro e o dólar mais baixos, o clima internacional menos hostil e as crianças maiores. Que se aquela realização pessoal não se deu, é para ser naquela nova tentativa prorrogada, assim como é com a dieta, com os exercícios de glúteo procrastinados ou com aquela saída de casal que os pais merecem e que é desqualificada à prioridade “décima quinta”, já que os adultos, por serem adultos, podem esperar. É como se arrumar, maquiar, apenas para sair, quando sair…

Pois não é fácil viver sem promessas. Sem a ideia do prazer, conforto e segurança infinitos, ou daquele “felizes para sempre” futuro. O tipo de coisa que na maturidade a gente aprende que não é verdade, nem passível de consumo desenfreado, já que frustra profundamente quando não se controla o tempo, os acontecimentos, os outros ou nós mesmos, e frente ao fato de que não se tem nada sem ondas de altos e baixos, deleites e perdas, e transformações advindas da navegação da vida. Como é com o doce. Bom, mas fugas. Uma realidade breve, momentânea, prestes a acabar quando o prato é raspado. Finito e presente.

Essa semana se foi um filho, um marido, um pai, um comunicador inteligente de uma rádio popular do sul do país, onde resido. Um cara que, por complicações do Covid, deixou a sua família, o seu trabalho e um legado intelectual importante, além da sua luta particular contra uma comorbidade que já o acompanhava há tempos. Teve seu “para sempre” finito e deixou a sua “turma”, que ficou sem um “para sempre” com ele.

Esse evento triste, como outros muitos que atentam contra a vida, seja em vida, como os fins que se dão no decorrer dela, seja com a morte, que a encerra, demonstra com pragmatismo aquilo que viemos refletindo tanto e que permeia a forma com a qual tocaremos a nossa jornada. Essa particular, que aqui se dá de um jeito e aí de outro. Que pede revisita diária aos nossos sonhos, ao que faz sentido para cada um de nós, ao que realmente nos toca, nos ensina, nos dói, nos faz feliz, e que precisa ser compreendido, nutrido e vivido intensamente neste exato momento como o único certo e garantido para senti-lo e tê-lo de verdade e com profundo pertencimento. Nos convidando a não procrastinar o que nos faz vivermos a nossa natureza, a nossa verdade, a nossa missão. Sem deixarmos para depois, para mais tarde, para tempos que nunca saberemos ao certo se chegarão.

Se é importante, se comunica com a nossa essência, é agora. O “excelente”, o “planejado”, já chegam atrasados. Do amanhã, só Deus sabe. O ser feliz é para já. A vida anda acontecendo exatamente onde nós estamos. O amor próprio, os enlaces e o prazer romântico, a interação com os filhos e suas descobertas diárias, o nosso afeto por eles e pelo que vêm se tornando, e a atividade que dignifica a nossa jornada estão, agora, em andamento, neste minuto, e precisam ser agarradas com unhas, dentes, pernas, braços, razão e emoção. Porque o “para sempre” não existe até que já tenha existido. Até que possamos ve-lo pelo nosso retrovisor como algo já construído e vivido quando estivermos no momento do adeus.

E se dar conta que viveu o “felizes para sempre” possível até aqui, o hoje, é o mais feliz que eu posso imaginar para qualquer despedida na vida. Considerando que tudo o que temos é o passado e o presente, que tal fazermos isso ser tudo de bom?

Ouvi um relato de uma mulher que decidiu se divorciar aos setenta anos, pois já não era realizada na vida por conta da sua relação de casamento. Estimando viver mais quinze, pensou: Porquê não vive-los melhor, ou pelo menos, tentando?

É disso que se trata. Que os fins sejam honrados com recomeços cheios de energia e vontade, agora. É o “feliz para sempre” mais possível que eu conheço.

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